Os telespectadores da terceira temporada de "Casamento às Cegas Brasil" já conhecem os casais que ficaram noivos - Agatha e Renan, Karen e Valmir, Bianca e Jarbas, Daniel e Daniela, Maria e Menandro -, entretanto, outro casal se formou no reality, mas não teve a história contada pela Netflix. Esse é o caso de Carolina Pinto e Carlos Ramos.
Carolina Pinto é uma mulher negra, de 32 anos, advogada e empreendedora, dona de um salão de beleza voltado para tranças. Poucos meses após se divorciar do antigo parceiro, Carolina recebeu um convite através do Instagram: queriam que ela participasse do processo seletivo para a 3ª temporada do reality da Netflix.
Assim como os demais casais, Carolina enfrentou a fase de cabines, as longas conversas, a escolha dos pretendentes e, por fim, a fase final: se joga no casamento ou vai embora para casa.
Por afinidade, Carolina já estava bem encaminhada com o pretendente, o personal trainer Carlos Ramos, um homem negro de perfil atlético. Conversas e encontros foram marcados até que o grande dia da cabine chegou: "Você aceita casar comigo?". "Sim".
O cara-a-cara
Como sintetiza o nome do experimento "Casamento às Cegas", o intuito é descobrir se o amor supera as aparências. No caso de Carolina Pinto e Carlos Ramos, a altura da advogada -- 1,76 cm -- teria sido o fator decisivo para ofuscar qualquer possibilidade de romance.
Assim como os outros casais que o público conheceu, Carolina Pinto e Carlos Ramos tiveram o primeiro encontro marcante. Ao se verem pela primeira vez, Carlos a pediu em casamento. Eles se beijaram e cada um voltou para a sala que os separavam anteriormente. Ela voltou acreditando que o casamento estava por vir.
"No dia seguinte, fui informada que não iria continuar no programa e ponto final, não tive mais nenhuma informação. E como a gente não tinha tido nenhum tipo de atrito durante o cara-a-cara, eu mandei uma mensagem para ele no Instagram, passei meu número e pedi para entrar em contato comigo", relembra.
Carol conta que estranhou quando Carlos demorou muito para respondê-la. "Pensei até que ele tinha sido liberado em um horário diferente do meu (...) E aí quando a gente conversou, perguntei para ele se estava tudo bem, ele falou que estava, que estava trabalhando, achei estranho, né?! Afinal, a gente tinha acabado de sair do experimento".
A advogada insistiu questionando se realmente ele estava bem com o desenrolar da situação e finalmente obteve a resposta. "A única coisa que ele me disse é que ele sentiu que o nosso encontro não foi leve e que ele saiu do programa naquele dia mesmo, na parte da noite".
Insegurança?
Após deixar o programa e refletir a atitude do ex-noivo, Carolina Pinto e outros participantes do reality se reencontraram. Através de boatos, ela descobriu que o que teria feito o personal mudar de ideia sobre o casamento, foi a diferença de altura. Carol é mais alta que Carlos.
"O grande X da questão não foi pelo fato de eu não ter ido para a próxima fase, de eu não saber que eram apenas cinco casais [selecionados], ou de eu não aceitar o fato de não ter tido química, como ele falou [aos outros], é que isso nunca foi dito para mim. Ele era minha única fonte de informação, eu acho que a partir do momento que a gente está no programa em dupla, qualquer tipo de ação acaba impactando não só ele, mas a mim".
Carolina aponta que faltou responsabilidade afetiva do ex-companheiro de cabine. Ela revela que eles foram um dos últimos casais a ir para o cara-a-cara e, por conta disso, tiveram horas de interações diárias, trocas e conversas.
"O ponto foi esse: ele querer transformar a falta de comunicação dele em uma história de que eu não aceitei o fato da gente não ter tido química, não ter prosseguido, quando, na verdade, não foi isso. Ele nunca me contou o que aconteceu, e aí ele me encontrava nos lugares, não conseguia olhar para mim, não sei se por medo ou por vergonha, mas ele não me deu nenhuma satisfação. Ele era minha única fonte de informação".
Questionada se a produção teria se envolvido, Carolina afirma que não, que saiu sem menores explicações e enfatiza que isso seria responsabilidade do pretendente. Vale destacar que, na última temporada, a participante Amanda Souza foi rejeitada pelo suposto noivo, Paulo Simi. A justificativa dada pelo participante seria de que a publicitária era muito "grande" para ele. Internautas criticaram a atitude gordofóbica e questionaram o propósito do reality, de prometer ser além das aparências.
Para Carol, aceitar participar do reality da Netflix já envolvia deixar as questões de aparência para trás. "Na minha cabeça, eu já tinha certeza de que ele era menor do que eu. Já tinha trabalhado minha mente em relação a isso, porque entrei no experimento para conhecer pessoas diferentes do que eu estava acostumada. No momento do cara-a-cara, eu deixei isso de lado e foquei em tudo que a gente tinha se conectado. O fato dele ser mais baixo não seria algo que me faria desistir".
O pós-noivado
É comum que, após o término das gravações, o elenco se reúna às vezes em um barzinho ou festa. Carolina afirma que nesses momentos de reunião o clima com Carlos é pacifico. Eles se cumprimentam, trocam frases, mas a relação não atinge o patamar de amizade.
A experiência também não causou danos emocionais, Carol seguiu a vida dela sem olhar para trás. "Eu entrei muito bem comigo e sairia da mesma forma, eu não tenho nenhum tipo de carência emocional. A minha vida estava ótima aqui fora, então, eu falo que saí da mesma forma que entrei, mas com uma experiência a mais".
Depois do experimento, ela também teve outros relacionamentos. Carol revelou o noivado fracassado nas próprias redes sociais. O fato de não ter apontado diretamente quem havia sido o ex-companheiro fez com que internautas supusessem que ele era branco, e, por Carol ser uma mulher preta, a motivação da desistência seria o preconceito racial.
A advogada relata que ficou espantada com a suposição dos internautas, mas, apesar disso, entende a preocupação. Porém, ela faz algumas ressalvas. "É uma preocupação plausível, considerando a sociedade que a gente vive, mas eu acho também que me associaram de uma forma muito direta ao racismo. Poderia ser qualquer outra coisa, (...) mas o fato das pessoas automaticamente me olharem e direcionarem a minha questão ao racismo eu vejo como uma problemática. Me coloca em um estereótipo".
Sequência de realities
Empreendedora, o primeiro contato de Carol com programas de entretenimento foi a participação no Shark Tank, onde empresários buscam investimento dos jurados. "Eu fui através do meu negócio, tenho um salão, e surgiu essa oportunidade para a gente participar. Era uma coisa que eu nunca tinha pensado, até porque estava com muito pouco tempo de negócio, então, para mim, era algo totalmente fora da minha realidade, mas acabou acontecendo. E aí na sequência, com um mês de diferença, veio a questão do Casamento às Cegas, foi muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, mas foram experiências maravilhosas".