Alexandre agora é missionário
Reprodução/Montagem 23.05.2022
Alexandre agora é missionário


Alexandre Canhoni marcou época no Brasil ao ser o vocalista dos  paquitos da Xuxa Meneghel no início da década de 90. O Xand, como era conhecido, se destacou entre os colegas de grupo, ganhou fãs, fama, porém trocou tudo por uma vida completamente distante do luxo do mundo das celebridades. Morando no Níger há 20 anos, Alexandre Canhoni virou missionário, adotou 19 filhos e garante que fugiu dos deslumbres de ser um ex-paquito.

O missionário voltou ao Brasil há três semanas para retomar contatos da antiga carreira como cantor e dançarino, que perdeu durante o tempo que esteve no país africano. Em entrevista ao iG Gente, Canhoni assume que se relaciona melhor com as ex-paquitas ao invés dos ex-paquitos.


"Hoje eu tento contato com os ex-paquitos, mas não tive resultado. Perdi contato com o meio todo, agora que estou dando uma reativada na mídia. Encontrei a Miúxa e foi incrível. Com as meninas eu me relacionava melhor, tenho contato com a Ana Paula, quase encontrei ela nesta semana", conta. 

Sobre Marlene Matos e Xuxa , Alexandre se reserva a dizer que pouco fala com a ex-produtora e não sabe como falar com a apresentadora. "Falo com a Marlene Matos, a gente trocou WhatsApp há um tempo, mas daquele jeito mais reservado dela. Com a Xuxa, perdi contato por estar na África. Quem sabe agora volta", comenta. 

O ex-paquito revela que o relacionamento com as duas era estritamente profissional e que ele não era 'deslumbrado por estar com a Xuxa'. "No programa era o relacionamento profissional, de terça e quarta na gravação. Era um bate-papo relaxado, mas às vezes íamos para a casa dela. Era normal estar com ela. O foco sempre era decorar letra, treinar para os programas, shows, turnês, nosso papo era de trabalho, ir em restaurante. Foi uma fase de boa", afirma. 

Canhoni garante que a produtora Marlene Mattos sabia que ele tinha talento "mas não investia por causa da Xuxa". O missionário também conta que Marlene "jogava pesado" por ele querer aparecer mais que os outros paquitos. "Queria aparecer em excessivo, às vezes mais que a Xuxa. Nas nossas chegadas em hotéis e aeroportos, eu mandava fã-clube meu para aparecer ao lado dos da Xuxa, fazia esquemas com secretárias dos clubes para os fãs aparecerem com camisas estampadas com o meu rosto", entrega. 


Alexandre relembra com carinho dos tempos de paquito, já que, para ele, o período o ensinou como produzir e ser artista. "Eu novinho, sempre curioso em tudo, chegava cedo nas gravações, eu foquei. Sou focado e determinado, tanto é que competi com 9 mil candidatos para a vaga de cantor do grupo. Entrei sabendo que era uma fase, mas projetava minha carreira solo como cantor. Eu sou visionário, sempre fui assim, trago de recordação boa são os profissionais com quem aprendi a produzir", relembra. 

"Eu fazia um marketing à parte, tinha secretárias, construía minha carreira. Eu era egocêntrico, meio surtado, pensando que era melhor que todo mundo", conta, rindo. Outro momento marcante da carreira de paquito foi a relação com Sérgio Mallandro. "Ele viajava com a gente, era brincalhão, as gravações eram muito mais divertidas, porque eram apenas nós cinco no estúdio. Quando ele estava, a Xuxa e as paquitas estavam de férias, foi uma fase ótima, as brincadeiras eram mais intensas também", afirma. 


Canhoni conta que aproveitou o tempo de produção para investir em negócios paralelamente. "Com 18, 19 anos, ainda no grupo, eu montei minha produtora ‘Xand Produções’ e eu fazia paquito, paquita cover, vendia por fora, porque sabia as coreografias dos homens e das mulheres. E eu ensaiava de madrugada o grupo, no salão do prédio que morava na Barra da Tijuca", conta. 

Mas apesar dos bons momentos, ele diz que o ego e a competitividade eram marcantes nos bastidores. "Um queria aparecer mais que outro. A inveja por eu cantar, por ter destaque nas câmeras, em entrevistas. Eram adolescentes, cada um querendo sua fatia, deslumbrados, era outro momento", aponta. 

"Eu nem gostava de crente, foi algo sobrenatural"

Alexandre saiu da formação dos paquitos em 1992. Com três anos em carreira solo, o cantor mudou de vida e se converteu à religião cristã, em 1995. Para ele, o encontro com Deus foi sobrenatural.


"Eu nem gostava de ‘crente’, vivia minha vida normal, mas a virada foi sobrenatural. Estava saindo de um estúdio, ouvi uma música e fui atrás, quando me deparei, era um templo cristão. Eu até falei na hora: ‘Ai, são esses crentes chatos’", conta, rindo.

O ex-paquito relembra que foi reconhecido no local. "Meu ego inflou, dei uns autógrafos e falei com Deus: ‘Olha Deus, se você tiver algo comigo, muda minha vida radicalmente’. Depois disso, saiu um peso das minhas costas que veio uma paz que eu nunca tive. Não tive problemas com álcool, drogas, nada me deixava desse jeito. Eu não estava triste, aos olhos racionais, eu estava indo para um momento melhor que estava, mas acredito que foi um chamado de Deus", comenta.

Para ele, não faz sentido o que passou. "Estava saindo de um sucesso para outro e Deus me chama para ir ao país mais pobre do mundo para cuidar de crianças e jovens. Fui de perseguidor a perseguido, como a história de Paulo, teve o sobrenatural", diz, citando o apóstolo que era romano, perseguia cristãos e se converteu à religião após ver uma luz forte, ficar cego, e voltar a enxergar quando aceitou o cristianismo. 

Canhoni explica que a mudança na vida foi intensa. "Mudei minha vida radicalmente e fui conhecer a história de Jesus, fiz teologia, me formei capelão, fiz capelania em Boston, nos Estados Unidos, e aperfeiçoei meus estudos para não falar besteira", comenta. 

Alexandre também faz uma crítica aos pastores que se convertem e oprimem quem não conhece o Evangelho. "Eu chamo de esquizofrenia gospel esses crentes surtados falando coisas que Jesus nunca disse e oprimindo a galera. Essa paz, essa serenidade que Cristo me proporcionou, nada que fiz foi semelhante, por isso creio ser real e que ele é o filho de Deus, pela experiência que tive", pontua. 

Vida no Níger com 19 filhos e 13 netos

Alexandre e a esposa, Giovana
Reprodução/Instagram 23.05.2022
Alexandre e a esposa, Giovana


O encontro de Alexandre com Níger ocorreu enquanto ele estudava a vida de Jesus Cristo e trabalhava com pessoas em situação de rua. "Senti uma carga, uma vontade de trabalhar com moradores de rua, com pessoas abandonadas, para levar um carinho, uma palavra amiga. Comecei a ter compaixão dessa galera e fiz um trabalho desse tipo aqui". 

Alexandre conta que descobriu Níger após palestrar e ouvir falar do país. Hoje, o foco dele é contribuir com o crescimento da economia do país africano e fazer parcerias com empresas para isso.  "Nem sabia, confundi com a Nigéria, mas fui até o país em 2002 e isso mudou radicalmente minha vida, meu foco. Vi situações de fome e não consegui dar as costas para isso. Hoje temos quatro creches, 10 projetos de nutrição, um centro esportivo com quatro times de futebol, duas escolas de costura, trabalho com cegos em presídios e no hospital nacional", afirma. 

Além dos projetos no Níger, Alexandre também empreende em diversas áreas. "Trabalho com cidadania italiana e portuguesa, com lifting e harmonização, projeto de música, dança, um canal infantil e palestras. Não sei como está dando certo, mas está rolando. Falei com minha esposa que preciso de um secretário para me ajudar, eu tentei largar mão disso, mas vai ter um momento que não vai dar", conta. 

No Níger, Alexandre formou uma família com 19 filhos adotivos e 14 netos. Ele explica que a estrutura familiar não foi escolha. "Foi acontecendo, de repente já estava em casa, peguei a guarda deles. A mais nova tem 19 anos, adotamos eles crescidos e foi maravilhoso, é nossa casa e nossa família", entrega.

"Como não são do mesmo pai e da mesma mãe, nós dividimos a casa em quartos de meninos e meninas. Eles estão nos programas que trabalhamos, já estamos indo para uma segunda geração criada com caráter, é um legado. Precisou de 20 anos para poder formar o caráter cristão. A gente treina disciplina, pontualidade, respeito, é muito bacana". 

O ex-paquito relembra que já foi ameaçado de morte e teve a casa queimada por extremistas islâmicos no Níger. "Queimaram 90 estabelecimentos e minha casa, conseguimos fugir. Mas somos tranquilos, entendemos que há um tempo para o entendimento de tudo. Não temos medo, nem de morrer, porque todo mundo vai morrer. Não vou ter gastrite crônica por pensar nisso", aponta. 

Casado com Giovana Canhoni desde 2001, Alexandre e ela foram recém-casados para o Níger. "Nos conhecemos em 1997, em Minas, depois voltei em 2000, conversamos e começamos a nos relacionar. Casamos em 2001, eu com 29, ela com 19. Ela é parceira, estamos juntos sempre. Ela é como a SEO da empresa", brinca Alexandre, que ainda explica que os dois dão palestras de como ter um casamento feliz. 

Apesar da pobreza, Alexandre diz que o Níger não sofreu com a covid-19. "Acho que é a mão de Deus, não tivemos nem 3000 mortes, a falta de higiene é enorme e teria matado muita gente lá, mas a doença não impactou tanto as pessoas no país", finaliza. 

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