BBB 24: Rodriguinho presta desserviço em rede nacional
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BBB 24: Rodriguinho presta desserviço em rede nacional

O ano é 2024, milhares de vozes ecoando por uma vida saudável, diminuição da pressão estética, liberdade de ser como é, e, ao ligar a televisão, sintonizar na Globo, às 22h30, o telespectador é transportado diretamente para décadas passadas. Rodriguinho, um homem de 45 anos, se sente no direito de, em rede nacional, avaliar e condenar o corpo e os hábitos alimentares de outras mulheres.

Ter que escutar as falas humilhantes do cantor Rodriguinho sobre Yasmin Brunet é a verdadeira prova de resistência da 24ª edição do Big Brother Brasil. Nos últimos dias, os telespectadores ficaram surpresos pela forma com que o cantor de pagode ridiculariza a modelo, a  atacando sorrateiramente pela aparência.

"Ela já foi melhor, mas está mais velha hoje. Mas o rosto dela é lindo […] Ela tá mais velha e largou mão. Hoje ela comeu dois pacotes de bolacha com requeijão inteiro! Ela sai comendo!", disse o cantor, em conversa com aliados.

Em outro dia, Rodriguinho achou que seria engraçado apelidar Yasmin Brunet de Yasmin "comer" na frente dos outros participantes.  O caso voltou a se repetir, com o pagodeiro dizendo que a modelo daria "prejuízo" aos integrantes da xepa, sinalizando que ela acabaria com a comida.

Aos 45 anos, o cantor de pagode parece nunca ter ouvido falar em body shaming, mas sabe como performá-lo sem dificuldade. O termo, que vem ganhando cada vez mais espaço, representa o ato de ridicularizar, zombar ou criticar a aparência física de uma pessoa.

Ao passo que os telespectadores são inundados com comentários degradantes, o público fica ainda mais próximo de discutir outro problema que afeta a vida de milhares de mulheres.

"Eu tenho realmente um problema com compulsão alimentar, eu tenho. Eu sei que tem vezes, na maioria das vezes, na verdade, em que tô triste, eu tampo esse buraco emocional com comida", disse Yasmin Brunet em uma entrevista, antes do confinamento.

E não é como se a condição da modelo fosse desconhecida pela casa mais vigiada. Em conversa com Wanessa Camargo e Rodriguinho, a loira desabafou sobre estar lidando com a compulsão no reality show da Globo e até pediu paz ao cantor diante da pressão sofrida no confinamento.

"A fome é uma sensação fisiológica que faz o organismo procurar e ingerir alimento para satisfazer as necessidades diárias de nutrientes. Mas isso também pode ser ‘embaralhado’ pela saúde emocional, quando temos outros estímulos além de nutrir e dar energia ao organismo. O apetite emocional pode ser uma resposta ao estresse, acontecendo em situações específicas ou de forma crônica, quando o paciente sempre lida com questões emocionais adversas ingerindo mais alimentos", explica a Dra. Deborah Beranger, endocrinologista.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 4,7% da população brasileira sofre de compulsão alimentar . O número representa quase o dobro do índice da população mundial, 2,6%.

"A Compulsão alimentar pode vir por gatilhos, que podem ser estressores interpessoais, dificuldades nas relações sociais, familiares, conflitos, problemas de autoestima, sentimentos negativos em relação a si, principalmente, relacionados ao corpo, peso e a autoimagem", analisa Vanessa Gebrim, psicologa especialista pela PUC-SP.

As atitudes de Rodriguinho também chamam atenção para outro tópico sensível, o padrão de beleza inalcançável. Yasmin Brunet é loira, cabelos lisos, bem tratados e compridos, branca, tem o corpo magro e curvilíneo. A modelo, aos 35 anos, é a representação das capas de revistas e transita no imaginário do que seria perfeito para os padrões da sociedade.

Se até Yasmin Brunet é vítima da pressão estética incentivada por homens, em rede nacional, o que será daquelas que vivem à margem do padrão?

"A pressão estética pode influenciar o surgimento de vários transtornos. Os mais comuns são quadros de compulsão alimentar, bulimia, anorexia, ansiedade e depressão devido a toda essa pressão psicológica", adiciona a psicologa.

Em novembro de 2023, a influenciadora Luana Andrade morreu, aos 29 anos, após se submeter a uma lipoaspiração nos joelhos.  A morte se confirmou  após quatro paradas cardíacas.

Luana Andrade entrou na estatística de mulheres que recorrem à lipoaspiração em busca de elevar a autoestima. O Brasil é segundo país no mundo com mais ocorrência da cirurgia. Essa, também, é a que mais mata mulheres. 

Segundo uma pesquisa da Sociedade Internacional da Cirurgia Plástica (ISAPS) em 2020, 61,8% das mortes no país por cirurgias plásticas ocorreram devido somente à lipoaspiração.

Na semana da morte de Luana, as redes foram inundadas por reflexões moralistas sobre como as mulheres se deixam levar em busca da perfeição. Mas, fica o questionamento, elas se deixam levar ou são empurradas impiedosamente, no dia a dia, nos mínimos detalhes?


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