Após ter falas agressivas, racistas e gordofóbicas, Gabriel Fop foi eliminado do "BBB 23" na terça-feira (31). O modelo foi o participante que teve o comportamento mais preocupante da edição até o momento, mas não foi criticado por todos. Tanto dentro da casa como fora, Gabriel conquistou a redenção pela ótica de alguns telespectadores. A "passada de pano", como definiu parte da web, levou para a discussão sobre outros vilões que saíram rejeitados pelo Brasil. Por que há diferença no tratamento?
Karol Conká é um exemplo. A cantora foi odiada por fazer bulliyng com Lucas Penteado e ter falas xenofóbicas com Juliette no "BBB 21". De fato, o comportamento da ex-sister não deve ser aceito. Mas a artista foi tão "cancelada" no programa que saiu com 99,17% dos votos, em uma mobilização nacional jamais vista na história do reality show da Globo. Na época, Karol se deparou com pessoas desejando a morte dela, perdeu contratos de publicidade, parcerias e seguidores nas redes sociais.
Gabriel, por sua vez, foi agressivo e abusivo com Bruna Griphao, com quem teve um relacionamento no "BBB 23". O comportamento do ex-brother preocupou tanto que Tadeu Schmidt usou o programa ao vivo para alertar o modelo e condenar falas em que ele incitava violência contra a atriz. Ele chegou a dizer que daria "cotoveladas na boca" de Bruna.
Além disso, o modelo foi grosso com Larissa e teve atitudes consideradas racistas e gordofóbicas com Bruno Gaga. Tudo isso em apenas duas semanas. Mesmo assim, Gabriel conquistou fãs, que acreditavam na mudança rápida de comportamento do homem de 24 anos. Deste modo, Gabriel Fop saiu com apenas 53,30% dos votos, em uma votação acirrada com Domitila Barros, que ainda contou com Cézar Black como coadjuvante do paredão.
O "cancelamento seletivo" que o modelo sofreu foi contestado por telespectadores e ex-BBBs. Assim, a pergunta que fica é: o que diferencia Gabriel dos demais "vilões" do "BBB"?
A psicóloga Jeanine Feitosa analisa os fatores que geram tal "cancelamento seletivo" de Gabriel em comparação com o caso de Karol Conká. "O machismo e o racismo estruturais estão tão enraizados em nossa cultura que acontecem assim de forma banal. Mulheres já ocupam um lugar de violência de gênero, mulheres pretas, então, são duplamente vitimizadas. A cultura do cancelamento costuma recair bem mais sobre esses corpos por se encontrarem em maior vulnerabilidade e denuncia sentimentos velados. Afinal, muitas pessoas jamais admitiriam pensar assim, mas, em momentos como esses, essas mesmas pessoas têm visões machistas e racistas escapando sob a justificativa do erro do outro", diz a profissional.
Além disso, Jeanine aponta que Gabriel, que costumava ser calmo e falar manso, foge do esteriótipo de um agressor, o que o ajudou a conquistar uma certa redenção do público. "Muito se espera que o abusador vá ter um estereótipo agressivo e posturas como gritos e xingamentos. Só que, em grande parte, os comportamentos abusivos, sobretudo, de início, ocorrem de forma tão dissolvida que passam despercebidos. O abusador pode ter um jeito manso, fala doce, mas que ainda assim diminui, maltrata e descredibiliza a vítima, sutilmente. Por isso a dificuldade (inclusive de quem sofre) em identificar e responsabilizar quem comete".
Jeanine ainda ressalta que muitas pessoas ligam o agressor a um monstro ou a alguém com problemas psicológicos, o que é um erro. "Se fosse assim, a pessoa seria agressiva também com um chefe, um superior, figuras de autoridade, mas não. Estamos falando aqui de atitudes que grande parte dos homens tem e que indicam violência de gênero, pois, como vemos, vão acontecer com mulheres", completa.
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A psicóloga Maria Rafart, então, compara os comportamentos de Karol Conká e do modelo. "A forma claramente agressiva da comunicação de Karol atiçou a enorme rejeição do público. Gabriel agiu de forma mais insidiosa: com Bruna, em meio a brincadeiras e afirmações passivo-agressivas; com Bruno, usando também de brincadeira e leveza. Isto não justifica, mas explica: atitudes claramente agressivas são percebidas de forma mais intensa".
Ela ainda pontua que o alerta de Tadeu passou um recado de que "valeria apostar na recuperação do menino Gabriel". No caso do "BBB21", Karol não fazia ideia da rejeição que já sofria e continuava com falas impositivas e agressivas. Deste modo, a psicóloga acredita que se o ex-BBB não tivesse feito os comentários racistas e gordofóbicos com Bruno, ainda estaria na casa.
O menino Gabriel
Como foi apontado por Rafart, o público passou a ligar Gabriel a um menino, que estaria aprendendo. E tal imagem não foi passada apenas pelo comportamento do ex-BBB, a aparência dele fez toda a diferença. É o que explica a consultora de imagem Camile Stefano.
"Karol Conká, por exemplo, usava umas roupas super diferentes, coloridas, e um cabelão. Então, ela já tinha aquela imagem de impacto. O Gabriel, não. Ele parece bem um adolescente. As roupas são de adolescente, camiseta branca, com aquele cabelinho ajeitadinho. O que traz essa sensação de bom moço", diz a especialista.
Stefano, então, relata como tal imagem fez com que muitos telespectadores quisessem dar uma segunda chance para o modelo, de 24 anos. "Quando a gente vê essas atitudes, a gente pensa: 'Calma, ele está aprendendo, ele tem tempo. Daqui a pouco ele melhora com isso'. Só que, na verdade, ele já é um adulto".
A especialista também afirma que o fato de Karol entrar com um plano de imagem, de uma pessoa forte que falaria tudo o que é preciso, a prejudicou. Ela explica que Gabriel, como era pipoca, conseguia gerar mais identificação com o público. "A maioria do pessoal do Camarote tem essa preocupação com imagem, com a roupa que vai levar, de estar bem-vestido, tem toda essa questão da construção da imagem, sendo o caso da Karol Conká. O pessoal da pipoca leva qualquer coisa, vai de qualquer jeito, com roupas do dia a dia".
A aparência com a postura calma de Gabriel o beneficiou no julgamento do público. Na análise da especialista, a postura incisa de Karol combinada ao estilo impactante dela foi um fator que contribuiu ainda mais com o forte cancelamento que ela sofreu. Vale ressaltar que, atualmente, a cantora mudou um pouco de aparência, está careca e usa roupas mais leves, sem abandonar o colorido.
Gabriel realmente estava mudando?
Jeanine ressaltou que a imagem de um agressor em recuperação que Gabriel quis passar não combina com a realidade. "A pessoa que comete o abuso raramente vai admitir o peso de sua atitude e, mesmo quando ainda o faz, geralmente, não é sincero no arrependimento. Na maioria das vezes, a pessoa não parou para refletir sobre, por isso segue repetindo o comportamento", pontua a especialista.
Maria Rafart complementa ao dizer que a falta de consciência das atitudes está presente no ex-BBB. Segundo ela, o abuso que ele cometeu permaneceu na forma de gaslighting . "Gabriel incluiu Bruna na responsabilidade, e até ela mesma ficou na dúvida de sua participação na dinâmica abusiva da relação", explica a profissional.
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