Renata Sofia trabalha como roteirista em 'Vai na Fé'
Reprodução/Instagram - 23.06.2023
Renata Sofia trabalha como roteirista em 'Vai na Fé'


Renata Sofia fica emocionada ao falar da oportunidade que recebeu de Rosane Svartman para entrar na equipe de “Vai na Fé”. Formada em jornalismo, conheceu a autora enquanto escrevia sobre novelas da Globo no “gshow” e ganhou o apoio da profissional ao se arriscar na profissão de roteirista. Há cerca de sete anos atuando na área, a colaboradora da atual trama das sete também se emociona pela identificação com o trabalho.

“A Rosane já conhecia meu trabalho e achou que a temática da novela tem muito a ver comigo, essa coisa de subúrbio e funk. Ela sabe que amo funk, só não sou mais funkeira porque meus pais não me deixavam sair, mas tudo que uma funkeira podia fazer dentro de casa, eu fazia. Então ela quis apostar em mim e aceitei esse convite, óbvio”, conta ao iG Gente.

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A figura dos pais de Renata exerce grande influência na escrita das cenas para a novela. A roteirista perdeu a mãe neste ano, enquanto o pai morreu na época em que mudou de carreira. “Escrevo muito para minha mãe. Faço tudo para ela e para o meu pai. Então fazer essa novela sobre mulheres pretas e suburbanas, é muito fod* para mim, muito maneiro”, comenta.

Escrever para ficção surge como uma forma de Sofia processar o luto de diferentes maneiras, mas ela ressalta que não faz um trabalho autobiográfico nas histórias da novela. “Minha mãe está muito presente nas coisas que escrevo, nos detalhes. Não é que a minha mãe é literalmente a Bruna, até porque ela é bem diferente. Mas [ela é lembrada] nas coisas pequenas do dia a dia, como a Sol ter feito rabanada para Kate. Minha mãe sempre dava rabanada de aniversário fora de época para meus amigos”, afirma.

A relação de Kate (Clara Moneke) e Bruna (Carla Cristina Cardoso) teve um momento emocionante no início da trama, quando a jovem foge do vilão Theo (Emílio Dantas) e se reencontra com a mãe. A cena repercutiu nas redes sociais e a roteirista relembra que o momento foi escrito há meses, mas a exibição aconteceu pouco após a morte da mãe.


Na época, Renata Sofia recebeu uma mensagem de Elisa Lucinda, intérprete de Marlene, que deixou a cena mais especial enquanto lidava com o luto. “Minha mãe era muito fã da Elisa [...] e a atriz me mandou uma mensagem linda falando sobre a perda da mãe dela: ‘Minha terapeuta falou para eu ler meus poemas, então veja suas cenas’. E ver aquela cena foi muito especial. Foi o que Elisa disse, eu já estava falando disso [da mãe]. Minha mãe já estava presente. Parece que foi uma confluência de momentos”, reflete.


A colaboradora de “Vai na Fé” diz que já levou “broncas” de Rosane Svartman pelas frases “muito literárias” que ocasionalmente deixa no roteiro, mas relata que a autora permitiu uma exceção para a cena em questão. “Essa é uma das cenas que fiz algumas gracinhas, de botar uma frase que não dá para ser gravada. A Rosane até falou: ‘Sempre reclamo de rubricas literárias, mas essa deixei porque tocou meu coração’. O roteiro dizia: ‘Tudo está seguro, mãe e filha estão juntas’”, pontua.


Como projetos audiovisuais costumam demorar da gravação à exibição, Renata diz “se envolver muito” no momento da escrita para sentir a realização do trabalho, diante da incerteza de quando as produções irão ao ar. A entrega intensa aos personagens faz com que ela reflita sobre questões pessoais, como quando escreveu sobre a morte de Carlão (Che Moais) para a trama da Globo.

“Tive um processo de perda do meu pai, foi bem diferente do que estou vivendo agora [com a mãe]. Fazer as cenas do Carlão também foi um processo para mim, de conversar com essa morte, de entender essa perda, essa quebra repentina. Tem uma cena em que a Duda [filha mais nova da protagonista Sol, vivida por Manu Estevão] fala: ‘Mãe, é errado querer que o papai volte, mesmo sabendo que ele está em um lugar bom?’. Essa sou eu falando, porque eu sentia muito isso”, analisa.


Sofia reconhece que fazer terapia é um fator importante para “não se desbaratinar” nos roteiros. “Acessa as emoções, refletimos e às vezes escrevemos uma coisa como queria que tivesse sido feito, falar alguma coisa que a gente não pôde falar. É muito bonito ver como isso toca as pessoas. Já recebi algumas mensagens [sobre cenas emocionantes], nem só nessa morte do Carlão, que é uma cena de repercussão mais óbvia de sentimento. Mas a quantidade de pessoas emocionadas com a Sol falando ‘você vai mudar a nossa vida pelo estudo’, isso é real também”, destaca.

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O envolvimento nos roteiros também é necessário para dar vida aos vilões, mesmo apresentando uma opinião contrária às atitudes dos personagens. “Temos que amar muitos nossos personagens, até o Theo [risos]. Quando a gente está escrevendo o Theo, acredito muito no que passa na cabeça dele. De que, para ele, ele está certo. Para mim, está totalmente errado, mas, quando estou escrevendo, tenho que ter certeza de que ele está certo”, propõe.

A roteirista defende que a diversidade nos bastidores exerce influência no resultado das cenas e celebra como as diferentes vivências beneficiam a novela. “Estamos caminhando para uma compreensão de que, quando falamos de diversidade, não falamos só de ‘vai ter uma atriz preta, então, tem que ter o preto para escrever cenas da preta’. Não é assim. Escrevo muito para Clara [Regiane Alves], por exemplo, uma mulher muito diferente de mim. Mas acho que a riqueza da equipe faz com que a gente tenha a troca junto, que a gente se questione e pergunte”, pondera.


“Temos que estar muito abertos a escrever e escutar, a Rosane fala muito essa frase. Saber ouvir quando a gente não conhece. Por exemplo, queremos falar do Rafa [Caio Manhente], um menino rico em depressão. Como vou escrever? Posso talvez saber o que é depressão, mas eu não sei que é ser um menino rico. Então a gente tem que pesquisar, ir atrás de fontes, conversar, acolher e refletir”, complementa.

Renata ainda enche a autora de elogios por permitir liberdade na colaboração entre os roteiristas da novela. “A Rosane é uma das pessoas que mais admiro, acho ela uma profissional incrível, uma autora super interessante e antenada na sociedade. Ela gosta do que faz, de conversar, estar na casa das pessoas e ouvir. Acho isso muito generoso, um autor que se coloca no lugar do diálogo, não no lugar da imposição”, compartilha.

“Sou muito fã dela mesmo, independente de trabalhar com ela. Trabalhar para uma pessoa que admiro, realmente me sinto muito lisonjeada. O clima é incrível, ela é uma chefe generosa que passa conhecimento e dá retorno. É realmente muito emocionante para mim estar nesse projeto. Só no âmbito pessoal, já é muito emocionante. E aí quando vai para repercussão que essa novela tá fazendo e significando, é uma loucura mesmo”, conclui.

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