Alanis Guillen como Juma em 'Pantanal'
Reprodução/Globo - 06.10.2022
Alanis Guillen como Juma em 'Pantanal'

No ar desde março, a novela "Pantanal" chega ao fim nesta sexta-feira (7) entrando para a história das tramas de maior sucesso da Globo. O período de exibição na faixa das nove apresentou altos índices de audiência para a emissora, além dos recorrentes comentários do público, que deixaram a produção entre os assuntos mais comentados das redes sociais diariamente. 

Apesar de se tratar de uma história originalmente contada em 1990, na TV Manchete, Elmo Francfort acredita que "o que é bom sempre volta" e reúne elogios ao remake de autoria do Bruno Luperi. Em entrevista ao iG Gente, o consultor de TV, diretor do Museu da TV, e autor do livro “A história da televisão brasileira para quem tem pressa” analisa quais foram os principais pontos que transforaram "Pantanal" no grande sucesso da Globo em 2022.

O respeito ao revisitar uma obra admirada

Juma, Maria Bruaca, José Leôncio e muitos outros personagens já apresentavam uma conexão emocional com os brasileiros que acompanharam a novela original de Benedito Ruy Barbosa, pela Manchete, há mais de 30 anos. Elmo defende que a produção recente se destaca entre outros remakes da televisão por apresentar "equilíbrio e sensibilidade" para repetir uma narrativa enquanto ainda mantém a consideração pelo panorama atual. 

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O consultor afirma que o autor "acertou o tom" em realizar esse movimento sem reproduzir estereótipos do audiovisual. "Bruno Luperi teve um respeito enorme pelo trabalho do avô [Ruy Barbosa] e com a atualização da trama, que imagino ter sido um trabalho hercúleo, tanto dele como de toda a equipe. Um dos destaques foi para demonstrar a queimada criminosa e as vítimas dela - como, por exemplo, fazer do Velho do Rio um dos atingidos pelos incêndios", aponta. 

O diretor do Museu da TV compreende que "Pantanal" conseguiu criar um formato "diferente" ao balancear o antigo e o novo, uma receita de fenômeno diante de tantas novelas da Globo com menor repercussão. "O público quer isso, algo que se aproxime dos nossos dias, mas que tenha magia, que nos toque fundo [...] Assistir à novela fez muita gente descobrir um Brasil que muitos desconhecem, falou do rural sem ser bucólico, mostrou até a evolução tecnológica nas plantações e cuidado com o gado, tendo total relação com o que hoje falamos de 5G e internet das coisas", pontua. 

Estratégias por trás do fenômeno

O aspecto emocional atualizado entre os telespectadores atuais não foi o único elemento pensado pela Globo ao trazer o remake para a programação. Francfort cita algumas estratégias utilizadas pela emissora que também influenciaram no triunfo da produção. 


"A promoção constante da novela em todos os programas da casa, até transformando em quadro, como no caso do 'Encontro', é uma estratégia crucial. Deu-se o devido respeito ao produto audiovisual", avalia o consultor. Além da atração comandada por Patrícia Poeta, a novela também foi divulgada por Ana Maria Braga, no "Mais Você", e até no "Domingão" com Luciano Huck. 


Elmo também admite que a empresa "soube usar as redes sociais para intensificar o sucesso, incluindo os memes". Dos memes da trama às fofocas dos bastidores, o público se manteve engajado diante das táticas da Globo em diferentes mídias. 

A força dos jovens

Elmo Francfort observa que componentes utilizados desde a época da Manchete se assemelham com conteúdos que o público jovem consome atualmente, como "o suspense e as causas socioambientais como pano de fundo". "'Pantanal' é uma novela única, que muito se assemelha às atuais séries que os jovens têm assistido nas plataformas de streaming. Personagens com profundidade psicológica, ingredientes que possuem realismo fantástico, sem falar do próprio cenário natural", pondera. 

A evolução do roteiro considerando a profundidade dos personagens foi algo que se destacou especialmente entre outras novelas da Globo, gerando identificação entre os espectadores jovens e cada vez mais novos memes e comentários que ampliavam a ressonância da trama. O consultor cita a complexidade como um dos maiores acertos da produção. 


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"A luta do bem contra o mal, equilibrada com a reflexão constante e de busca da identidade, foi muito bem explorada. Zé Leôncio se redescobrindo com pai, Tadeu, Zé Lucas e Jove reconstruindo a imagem paterna, cada um com sua particularidade, Maria Bruaca lutando por um lugar ao sol, Filó buscando ter o devido reconhecimento, a família de Zuleica na busca de uma verdade real e sem contestação diante de Tenório, e muitas outras histórias. As mulheres fortes da trama também, que ao longo da novela se mostram empoderadas, foram um ingrediente importante nos anos 1990 e ainda mais forte agora", reflete. 

Os aprendizados como remake

O consultor ainda cita a "curiosidade" como um artifício que tornou o remake interessante tanto para emissora quanto ao público. "É como revisitar um clássico. Porém, todo remake receberá críticas pelas comparações e precisará ter a sensibilidade de se atualizar para o tempo presente", expressa. 

"Existia na área uma 'lenda' de que tramas como 'Pantanal' eram intocáveis, impossíveis de remake, pelo caráter singular e único. Mais ou menos como a polêmica que toda vez surge quando alguém fala em adaptar 'Mágico de Oz' no cinema novamente. É único. Para isso, é necessária uma sensibilidade incrível e um cuidado, carinho e respeito com o original. Foi isso que aconteceu com a novela. Deu certo. Uma 'audácia' que valeu a pena", relata. 

E o que a Globo aprendeu com essa "audácia" de sucesso? Elmo opina: "Aprendeu a perceber que, mesmo com o crescimento das séries no streaming, novela é algo nosso, identidade brasileira, que a Globo sabe fazer bem. A voltar a apostar em 'novelões', com tramas que tenham profundidade, ensinem, façam da telenovela instrumento para ajudar na educação e na quebra de preconceitos, paradigmas. E também aprendeu a promoção e divulgação. Foi uma verdadeira aula que 'Pantanal' fez, sendo um marco também para o resgate da produção de nossa teledramaturgia, ainda em tempos de pandemia, cujos reflexos sobre a saúde diminuíram, mas não acabaram". 

+ O "AUÊ" é o programa de entretenimento do iG Gente. Com apresentação de Kadu Brandão e comentários da equipe de redação, o programa vai ao ar toda sexta-feira, às 12h, no YouTube, com retransmissão nas redes sociais do portal.


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