Bruno Luperi, autor do remake de 'Pantanal', analisa sucesso da novela
Divulgação/Globo
Bruno Luperi, autor do remake de 'Pantanal', analisa sucesso da novela


Bruno Luperi tinha 2 anos quando “Pantanal”, novela escrita pelo avô materno, Benedito Ruy Barbosa, estava no ar na TV Manchete. E guarda no álbum de fotografias uma grande referência ao folhetim: sua festinha de aniversário. A mesa de doces tinha onça, capivara e toda sorte de bichos que apareciam na novela, grande fenômeno da teledramaturgia da época e agora de volta às telas, no horário das 21h da TV Globo.

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— Essa história (de “Pantanal”) mexeu com as estruturas da minha família em todos os sentidos. Abriu caminhos para meu avô — diz.


Para Bruno, também. Apesar de ter estreado nas novelas como um dos autores de “Velho Chico”, em 2016, com a mãe, Edmara Barbosa, é com “Pantanal” que ele prova o sabor de liderar um sucesso. O jovem de 34 anos foi escolhido pelo próprio avô, em 2020, para dar uma roupagem contemporânea ao clássico. A sugestão foi prontamente aceita pela direção da emissora, que na época já trabalhava com ele na pré-produção de uma novela chamada “Arroz de palma”. O neto não pensou duas vezes e aceitou priorizar “Pantanal”. Trinta e dois anos depois da primeira exibição, os capítulos vêm alcançando sucessivos recordes de audiência e mobilizando as redes sociais.

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— A gente está vendo anunciante que tinha parado de anunciar em novela voltar — conta o autor.

Morador de São Paulo, pai de um menino de 7 anos e de uma menina de 5, o ex-publicitário conversou com O GLOBO por chamada de vídeo sobre a relação com o avô, principalmente durante a adaptação da novela, o peso do sobrenome e a repercussão do sucesso.

Dilemas

“Fui publicitário por muito tempo. Era um cantinho seguro, um refúgio onde me escondi do peso, da importância do meu avô. Aos 25 anos, comecei a ver que não tinha jeito, meu sangue falava mais alto. É uma transição difícil, com alguns medos. Para quem tem alguém com a relevância dele, é muito difícil sentar nessa cadeira. Quando ‘Pantanal’ estreou e foi bem, falei: ‘Ainda bem que não estraguei a novela.’ Foi um alívio.”

Encontro de gerações

“É muito bom poder fazer ‘Pantanal’ com meu avô vivo e lúcido (Benedito tem 91 anos). Ele fala que é a primeira novela a que ele assiste, de fato, como público, e está gostando. Mas essa falta de controle é uma sensação nova para ele. Pelas nossas conversas, acho que ele viveu muitas angústias.”

Liberdade de escolha

“Não tem como ficar pedindo benção para cada palavra. Ele confiou em mim, mas sempre foi um cara que escreveu sozinho. Isso foi muito delicado. Ele falava ‘a novela é tua’, e eu dizia ‘é sua’, numa discussão sobre trazer tal ator. Sobre (a escolha da atriz para interpretar) Juma, falei: ‘A Juma que você está querendo é mais velha, muito conhecida. A personagem é uma onça, vive no meio do Pantanal, duas esquinas depois do fim do mundo. Não pode ser um rosto muito grande. Ela é uma menina na flor da idade.’ Eram convicções que ele tinha com algumas pessoas, eu com outras.”

Outros tempos

“Alguns personagens eram menores há 30 anos. Hoje ganham outro peso. Estamos sentindo isso em relação a Maria Bruaca. Há um olhar mais sensível para o papel da mulher, sobre o que é o machismo, uma relação tóxica. A sociedade está muito mais atenta para as nuances. A novela não tem um caráter moralizador, mas tem que apresentar a realidade.”

O que vem por aí

“Falam muito dos personagens que deixam a trama, mas a novela foi contada dessa maneira. Algumas questões pensadas lá atrás podem mudar, outras não. Doa a quem doer, temos que respeitar. (No caso da morte de Madeleine), o pessoal me xingou, me culpou, mas a novela foi concebida assim. (Se vai acontecer de novo a castração de Alcides ) ninguém vai ver a novela se eu responder tudo (risos). Mas alguns eventos têm que acontecer, talvez não da forma como foram concebidos.”

Rostos novos

“Montar um elenco é uma arte, e para fazer esta novela tem que ser ator. Ela exige amplitude, compreensão do personagem e que se deixe a vaidade em casa.”

Nem tudo é festa

“Todos falam a mesma coisa: é mágico. É muita gente apaixonada por arte junto. Acho um alento, não é sempre que isso é possível. Se (a novela) fosse um fracasso, estaria um clima horrível. O que vocês estão sentindo ali (no Instagram dos atores) é bem o que se passa nos bastidores. Muitos dos problemas vocês não veem, claro. Há coisas que a gente guarda para nós. (risos)”

Coisa de pele

“O texto original não sugeria tanta nudez, ele dava um cenário para uma cena de amor. Mas a interpretação da direção, na época, era assim. Acho que era um mecanismo presente naquele tempo, algo muito transgressor. Hoje já não sei se é, a gente já viu aquilo. A nudez era um recurso, a cena de natureza também. Minha avó reclamava que a novela só tinha tuiuiú voando. Dentro daquela equação fazia sentido, agora não. A nossa leitura foi mais para a poesia. Ninguém está sentindo falta da nudez.”

‘Arroz de palma’

“É uma novela baseada num romance do Francisco Azevedo. Conta as histórias do Antônio, um cozinheiro de 88 anos que está revisitando as memórias. A novela traz uma mensagem muito forte de reconexão da família. Quando a veremos é com a Globo. Por mim, eu descanso e volto.”

Novela tá on

“A maior alegria é ver que o gênero existe, é só uma questão de como fazer. A novela não precisa ter uma necessidade absurda de levantar bandeira. Ela vai falar das questões dela, no tempo dela, mas sem forçar barra.”



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