Nahim e Andreia Andrade se envolveram em uma polêmica durante a semana no "Power Couple Brasil 6", reality de casais da Record. O casal, que teve diversas discussões com Brenda Paixão e Matheus Sampaio, foi criticado após o cantor chamar Matheus de "bichona" e a empresária afirmar que o influenciador queria "dar o c*".
Nas duas situações, outros participantes repreenderam as falas do casal, mas o comportamento, considerado homofóbico, seguiu. Nahim, na quarta-feira (18), tentou amenizar a situação pedindo para a produção do "Power Couple" convidar casais LGBTs para o programa, na tentativa de justificar que, apesar dos xingamentos, não seria homofóbico. No entanto, no dia seguinte, o retorno do casal "BreTheus" para a competição fez com que Nahim voltasse a repetir falas homofóbicas. Os vídeos viralizaram na internet e geraram desconforto.
Como cenas com cunho homofóbico deste tipo afetam a comunidade LGBTQIA+? O iG Gente conversou com Alessandro Brandão, ator, drag queen e atualmente no ar na novela "Quanto Mais Vida, Melhor", e com Fernando Bertozzi, escritor e organizador do Parada LGBT+ de Búzios para entender como a homofobia segue protagonista em realities.
Para Fernando, usar termos como os escolhidos por Nahim configura discriminação. "Há tantas outras palavras para usar… Não há necessidade de usar termos homofóbicos, até porque homofobia é crime no Brasil, assim como o racismo. O pior de tudo, é pensar que é ofensivo ser gay. Chamar alguém de 'bichona' e tratar isso como ofensa é, sim, homofobia", comenta.
O escritor avalia que o pedido por um casal LGBTQIA+ foi para amenizar a situação de Nahim. "Quando a cabeça esfriou, ele deve ter colocado para pensar. E com certeza pensou no que poderia acontecer quando ele saísse do programa", afirma.
Na briga em que Nahim chamou Matheus de 'bichona' pela primeira vez, colegas de confinamento repreenderam o cantor. Para Fernando, isso é um avanço. "Usar esses termos em rede nacional é péssimo. E parabéns a quem tentou corrigi-lo, pois dá exemplo para as pessoas que assistem. Devemos corrigir sim, mas infelizmente têm pessoas que não querem ouvir", diz.
Para Fernando, a questão financeira pode ter alertado Nahim. "Ainda bem que grandes empresas apoiam a comunidade LGBTQIA+ e os artistas precisam das empresas para fazer publicidade, e meios de comunicação para estar na mídia. Acho que foi tentar amenizar e não de coração", especula.
O ator Alessandro Brandão evidencia o perigo da fala em um programa na TV aberta. "Elas respaldam atitudes lgbtfóbicas. Por causa desse tipo de pensamento, de comentários, de ofensas é que ainda somos o país que mais mata pessoas LGBTQIA+ no mundo, principalmente as pessoas trans", afirma e lamenta: "Continuamos sendo o país onde ser LGBTQIA+ é uma batalha, é literalmente lutar pela vida. E é por causa desses posicionamentos. Esses comentários não podem ser relativizados".
Adriane Galisteu, apresentadora do reality, não repreendeu as falas problemáticas do casal. A produção do programa também não se manifestou durante a exibição das cenas. Para Alessandro, isso relativiza a agressão do casal. "Isso nos mostra como a sociedade em sua postura de cis-heteronormatividade tira toda a importância da existência de pessoas dissidentes, desvaloriza por completo a existência de um ser humano que não esteja dentro de um padrão considerado por eles como normal", comenta.
Alessandro também avalia que a Record, assim como qualquer outra emissora, deveria repreender situações como a de Nahim. "A pessoa que agiu assim deve sair do programa e responder juridicamente por crime de homofobia. E proteger ou relativizar esse caso é ser conivente", aponta.
Já para Fernando, a situação não depende somente de Galisteu. "Às vezes não depende da apresentadora, e sim da direção. Mas ela fez bem ano passado em 'A Fazenda' no caso do Nego do Borel. Como mulher, ela usou belíssimas palavras para falar do caso", opina.
"Acho que a emissora deveria se pronunciar ou fazer alguma atividade. Vale lembrar que esta semana contou com o o dia mundial de luta contra homofobia, deveria ter aproveitado a data e falado do assunto", comenta Fernando.
Fernando também pensa que a direção de Carelli poderia repensar a resposta para confusões que resultem em atos homofóbicos e discriminatórios. "A Record não se manifesta em relação a esse assunto. Pelo menos eu nunca vi. Campanhas de combate à homofobia não tem espaço na Record. Que é uma pena, se falando da terceira maior emissora com sinal aberto do país", pontua.
LGBTfobia é frequente em realities
Situações homofóbicas não são novas em realities. No "BBB 21", Gil do Vigor foi alvo de comentários homofóbicos por parte de Rodolffo. Já no "BBB 22" Linn da Quebrada teve os pronomes trocados e sofreu com comentários transfóbicos no programa. Para Alessandro, a situação é frequente por ser um problema na sociedade.
"O reality é um retrato da sociedade. Mas é exatamente nesses programas de grande alcance que deve acontecer a mudança. Acredito que muito já foi conquistado", avalia.
"Foi muito importante, por exemplo, o "BBB" trazer primeiro o Gil do Vigor e depois a Linn da Quebrada para o programa e ver como gerou ótimos debates na sociedade. Se agora é um caso de homofobia que está no centro das discussões ele precisa ser tratado como tal. Assim a mudança vem, isso é responsabilidade social", cita Alessandro.
Fernando pensa o mesmo, mas analisa que é possível avançar. "Acredito numa sociedade igualitária com menos homofobia. No 'BBB', o apresentador interferiu em um caso de racismo, foi e debateu o assunto de forma saudável sem prejudicar o andamento do jogo. É necessário aproveitar o espaço para passar informação para o telespectador", comenta, relembrando o caso de racismo entre Rodolffo e João Luiz Pedrosa.
Homofobia não é "mimimi"
Durante o programa, Andreia Andrade comentou que o incômodo por parte dos colegas de confinamento é sintoma de uma geração "mimimi" e "mimizeira". Para Alessandro, a fala é "erradíssima".
"Escutar uma mulher falando que 'tudo é mimimi' em uma sociedade machista como a nossa é um caso de que me deixa muito triste, me dá vontade de chorar", lamenta Alessandro.
Fernando diz que "mimimi é reclamar de futilidades", mas que homofobia é algo sério. "Passou o tempo de ser homofóbico e as pessoas acharem engraçado. Graças a Deus existem leis que nos protegem. Não existe 'mimimi' quando a pessoa é agredida na rua simplesmente por andar de mãos dadas com seu namorado ou namorada. Não existe 'mimimi' quando centenas de LGBT’s morrem por puro preconceito e ódio. O 'mimimi' existe, mas não quando falamos de um problema sério que atinge toda uma comunidade", completa.