“Deus Salve o Rei” tinha tudo para ser uma novela diferente. Mas, no fim das contas, não soube aproveitar o conceito da Idade Média, de reis e rainhas, e acabou focando mesmo na história de amor.
Errando mais do que acertando, a novela se despediu na última segunda-feira (30) dando lugar a “ O Tempo Não Para ”, que também promete uma história inusitada. Assim como “ Deus Salve o Rei ”, a nova trama tem um “quê” de passado, mesmo se passando no presente.
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Uma família do século XIX acaba congelada em um iceberg e é descoberta 132 anos depois, nos dias de hoje. Em meio a isso, a jovem Marocas ( Juliana Paiva ), que veio do passado, se apaixona por Samuca (Nicolas Prattes) que vive no presente. A relação do casal é o fio central da trama, o que pode levar a história para o mesmo caminho de “Deus Salve o Rei” só que, ao invés do conflito envolver reinos, envolverá as mudanças de costumes dos muitos anos que dividem o casal. “É uma comédia romântica. Conta uma história de amor inusitada entre duas pessoas de séculos diferentes”, comenta o autor Mario Teixeira.
Os dilemas morais de “O tempo Não Para”
Uma das narrativas da novela, claro, será acompanhar essa adaptação de um grupo inserida numa São Paulo 100 anos a frente de seu tempo. Os avanços tecnológicos, as mudanças culturais e as liberdades causam estranhamento e curiosidade desse grupo antigo, e deve gerar alguns bons momentos em que as coisas mais simples do nosso dia a dia são refletidas como grandes novidades.
Mas, além disso, um tema central será a escravidão. Em 1886, quando o grupo é congelado, Dom Sabino (Edson Celulari) era dono de escravos, que só seriam abolidos dois anos depois. Mas a grande questão é, 132 anos depois, como vive o negro no Brasil?
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Esse aspecto social será apresentado por meio de Eliseu (Milton Gonçalves), catador de materiais recicláveis que acolhe parte dos congelados, incluindo Dom Sabino. Com um filho criminoso e outro sem ambições na vida, ele cria a neta Paulina (Carol Macedo) como filha e nunca perde as esperanças.
Considerando, principalmente, as críticas que a Globo tem sofrido em relação ao papel do negro em suas novelas, essa é uma oportunidade de fazer um retrato social justo, algo que a novela anterior não tinha ambição de fazer.
Leveza e humor
Algumas das características das novelas da faixa das 19h são a leveza e o humor. Embora “Deus Salve o Rei” tenha caminhado em parte para o lado da comédia, a leveza se perdeu em meio a tramas violentas de batalhas entre reinos, bruxarias e violência em geral, o que levou o Ministério Público a exigir uma mudança na classificação etária do folhetim.
O “Tempo Não para” promete devolver essa suavidade, apostando nesse conflito de épocas para divertir e entreter. Se não cair no maniqueísmo fácil, a novela terá a oportunidade de devolver as marcas já costumeiras do horário e que foram abandonadas por “ Deus Salve o Rei ”.