“Bem-vindos ao 'Bipolar Show', porque o foda-se vale mais do que mil palavras”. Assim Michel Melamed irrompe a terceira temporada desse teatro televisivo, misto de performance e entrevista, reflexão e caos, que desenvolveu para o Canal Brasil . O novo ano, que abre com Wagner Moura , classificou como “cru e essencial”. Não há mais quadros e os cenários estão essencialmente crus. Aos entrevistados, o desafio de discorrer sobre emoções, as suas e aquelas ao redor, e problematizar discursos prontos.
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À primeira vista, e o iG já conferiu os dois primeiros dos 26 episódios, “Bipolar Show” volta ainda mais inteligente, libertário e provocante do que nos deixou. A liberdade de pensamento do programa segue apaixonante e a escalação de Moura para abrir o novo ciclo só faz ratificar essa impressão. “A Esquerda e a Direita têm muitos problemas, mas uma coisa que eu não gosto na Esquerda é essa patrulha. ‘Você tem que falar que fuma maconha. É legal o pessoal saber que o capitão Nascimento fuma maconha’. Você não pode impor pra pessoa algo que em teoria faz bem para a causa, mas faz mal para ela. ‘Ator gay tem que se assumir’. Às vezes o cara não falou nem para os pais dele, saca?”
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Moura já provou outras vezes ser um excelente entrevistado e a química com Melamed é das mais inspiradas. “Bipolar Show” é o programa mais criativo, subversivo e pensante da TV brasileira atual, mas precisa que o convidado entre na pilha de Melamed e da proposta. Nesse sentido, dinâmica do novo ano parece talhada para suprir eventuais deficiências nesse departamento. A tímida Débora Fallabella, convidada do 2º programa, oferece a contraprova a este raciocínio. É neste episódio também que Melamed traz uma interessante discussão sobre o próprio programa. O que vemos ali é performance? A espontaneidade pretendida afasta ou ratifica essa proposta? É empolgante ver como será a evolução desse debate interior no curso da nova temporada.
Entre os convidados do 3º ano figuram Gabriel Leone, Alice Wegmann, Luís Miranda, Eliane Giardini, Barbara Paz e os poetas Geraldinho Carneiro, Bruna Beber e Chacal. O fim do programa não terá mais apresentações musicais. Serão poemas recitados por poetas, sempre preservando essa inquietação intelectual proposta pelo show.
A alternância entre os dois cenários, uma das marcas do programa, pela primeira vez acontece em duas locações diferentes: o primeiro deles, mais intimista, está montado no IED (Instituto Europeu de Design), nas ruínas dos históricos Cassino da Urca e TV Tupi, palco de artistas como Carmen Miranda, Grande Otelo, Josephine Baker, Dalva de Oliveira e Nat King Cole, entre tantos outros, além de programas pioneiros da televisão, como a “Discoteca do Chacrinha”, o “Grande Teatro Tupi” e o “Sítio do Pica-pau Amarelo”. O segundo, aberto ao público, está pousado em pleno campus da UFRJ, com uma estrutura que permite a interação dos alunos da faculdade.
A montagem, assinada por Barbara Moraes e o próprio Melamed, parece mais afiada e capaz de deixar ainda mais refinado um programa já singular. Surtado, diferente, provocador e problematizante, “Bipolar Show” volta para ocupar um espaço que hoje nenhum outro parece reunir condições para tanto na TV: o da plena e absoluta liberdade criativa.
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“Bipolar Show” é exibido todas as terças às 21h30.