Como seguir a vida normalmente após uma grande conquista? Veronica Roth procurou responder esta pergunta ao transmitir o sentimento pessoal com o sucesso de “Divergente” em um novo livro. Em “Os Escolhidos”, acompanhamos a protagonista Sloane anos após ser uma das selecionadas para salvar o mundo de uma criatura maligna.
Em entrevista ao iG Gente, a escritora americana faz uma comparação aos desafios da personagem com os próprios obstáculos que lidou depois da grande repercussão das obras adaptadas ao cinema.
“Escrever ‘Os Escolhidos’ foi realmente uma boa maneira de refletir sobre os aprendizados que tive [desde a saga]. A personagem principal é famosa por algo que fez quando era mais jovem, e não se sente segura consigo mesma, não sabe como ser honesta com ela mesma. Nossas situações obviamente não são as mesmas – eu não matei nenhum lorde das trevas! – mas consegui mergulhar nessas emoções de uma nova maneira quando escrevi o livro”, conta.
‘Não vou andar para trás’
Entre tais conhecimentos que adquiriu com a experiência de se tornar uma autora best-seller, Veronica destaca como aprendeu a “valorizar mais a própria voz do que as vozes de estranhos”. “É maravilhoso quando um livro atinge tantos leitores, mas é fácil se perder nas opiniões de todos sobre o trabalho, boas e ruins. Mas, no final do dia, você sempre fica sozinho. Então eu tento me valorizar para me sentir bem, ser honesta e segura comigo”, pontua.
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Roth descreve como “positivo e desafiador” ter uma repercussão mundial do próprio trabalho, mas reforça um convite ao público para notar o próprio crescimento desde a publicação da série de sucesso em 2011. “Vi alguém me perguntando no Instagram do porquê eu não escrevi mais ‘Divergente’, já que era ‘o que as pessoas querem ler’. Eu propus a pessoa se lembrar de qualquer trabalho que estivesse fazendo quando tinha 23 anos e pensar se, dez anos depois, ela ainda gostaria de ficar restrita a fazer apenas aquele trabalho, repetidamente”, diz.
“Eles não gostariam de crescer e mudar, não importa o quanto gostassem desse trabalho na época? É assim que me sinto. Estou muito orgulhosa de ‘Divergente’ e feliz com o que ele trouxe para minha vida. Mas estou comprometida em crescer como escritora. E não vou andar para trás”, reforça. Desde a trilogia, a escritora já publicou outros quatro contos ambientados no mesmo universo, reunidos no livro “Quatro” (2014).
Ficção científica e fantasia
Reconhecendo o amadurecimento da escrita, Veronica Roth se inspirou em um tema recorrente de livros de fantasia e ficção científica para escrever “Os Escolhidos”. “Nessas histórias, você encontra muitas tramas sobre pessoas 'escolhidas' - alguém, geralmente um jovem, que salva o mundo. Eu amo essas histórias, sempre amei. Até ‘Divergente’ é uma dessas histórias. Mas sempre tive curiosidade do que acontece depois, especialmente quando o herói era jovem”, aponta.
“Como é ser famoso e celebrado por matar alguém, mesmo que essa pessoa fosse má? Como você pode avançar a partir desse ponto? Foi daí que surgiu a ideia de ‘Os Escolhidos’”, ressalta. A autora ainda explica como o livro aborda questões sobre como “navegar na vida adulta”, explorando temáticas como luto, ansiedade, estresse pós-traumático, entre outras.
Com esta ideia inicial, Veronica explica que a escrita a partir da perspectiva da protagonista Sloane veio naturalmente ao longo da criação do livro, já que ela queria construir uma personagem “que realmente lutasse, fosse complicada e tivesse espinhos”. “Também gostaria de mostrar que a visão do mundo dela fica mais simples com a vida adulta – quando ela lutou contra o vilão, tudo parecia simples. Já adulta, quando ela é chamada para salvar o mundo novamente, é muito mais complicado. E acho que é assim que nos tornamos adultos, aprendendo a navegar nas áreas cinzentas”, reconhece.
Enquanto a temática principal da trama foi algo mais natural, Roth expõe que precisou se esforçar mais para a criação de um universo completamente novo para “Os Escolhidos”. “Sou mais uma escritora de ficção científica do que de fantasia, então, este livro foi um grande desafio para mim. Nunca havia criado um sistema mágico antes, por exemplo, e meu cérebro não funciona naturalmente dessa maneira. Acabei abordando como se estivesse em algum lugar entre os dois gêneros”, reflete.
Apesar de o livro chegar apenas neste ano no Brasil, a obra foi lançada em 2020 nos Estados Unidos, durante a primeira semana de confinamento na pandemia da covid-19. Considerando a recepção da novidade no país natal, Veronica adianta como ela espera que o livro “Os Escolhidos” chegue ao público brasileiro.
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“Quando 'Os Escolhidos' saiu nos Estados Unidos, estávamos em nossa primeira semana de confinamento da pandemia, então os livros realmente não eram a primeira coisa na mente de ninguém, nem mesmo a minha! Espero que agora, embora as coisas ainda estejam tumultuadas, haja um pouco mais de espaço para se perder em uma história. O que pode surpreender os leitores brasileiros é o humor do livro – é muito mais engraçado do que meus trabalhos anteriores, embora explore algumas temáticas sérias. Então, espero que isso ajude as pessoas a se envolverem na história”, conclui.
Vale ressaltar que no mesmo ano do lançamento nos EUA, "Os Escolhidos" teve os direitos comprados para uma adaptação cinematográfica por Erik Feig, da Picturestart, que trabalhou nos filmes de "Divergente". No entanto, novas informações do novo filme não foram divulgadas desde então e Veronica Roth guardou segredo.
+ O "AUÊ" é o programa de entretenimento do iG Gente. Com apresentação de Kadu Brandão e comentários da equipe de redação, o programa vai ao ar toda sexta-feira, às 12h, no YouTube, com retransmissão nas redes sociais do portal.