Com as mudanças no mercado fonográfico, músicas com alto engajamento no TikTok ganham espaço e os refrões e batidas que não cabem em 60 segundos de vídeo são deixados de lado na web. Recentemente, famosos reclamaram da produção de músicas para a plataforma e para o Reels, do Instagram.
Anitta, em uma live do Instagram, contou que lutou para poder gravar "Envolver", sucesso que viralizou nas redes sociais meses depois do lançamento . "A gravadora se liga muito no TikTok, no que viraliza, e se não tem um sucesso logo de cara eles dão tchau", disse, à época.
No TikTok, Halsey fez uma publicação criticando o foco na plataforma. "Eu estou nesta indústria há oito anos, vendi mais de 165 milhões de discos e minha gravadora está dizendo que eu não posso lançar a menos que eles possam inventar um momento viral no TikTok", lamentou no vídeo.
Em contrapartida, músicas como "Acorda Pedrinho", da banda Jovem Dionísio e "Renascer", de Insanou, viralizam na plataforma. Há fórmula para o sucesso e o Tik Tok vai tomar o espaço do mercado? O iG Gente foi atrás das respostas com o rapper Insanou, DJ Braga e Bonne, produtor da Quebra Coco Records.
Para o rapper, que fez a música "Renascer", usada em mais de 175 mil vídeos na plataforma, não há um processo para criar um sucesso no TikTok. "Envolve muito além da produção, cada música tem uma particularidade para fazer sucesso", explica.
Bonne pensa que a estratégia é a chave do sucesso no engajamento. "Tudo é muito orgânico na plataforma, é preciso considerar que há campanhas atreladas ao lançamento", comenta. Ele também dá um exemplo de um sucesso de Marisa Monte.
"Na música 'Língua dos Animais', ela foi acompanhada pela campanha #AdoteComMarisa. Nela os usuários a apresentaram seus bichinhos adotados e incentivaram a adoção, sempre utilizando a hashtag da campanha", conta. A hashtag citada por Bonne teve mais de quatro milhões de visualizações no TikTok.
Segundo DJ Braga, o processo para criar uma música ao TikTok não é como uma "receita de bolo". "Mas acredito em músicas de letras curtas, chicletes com refrão marcante e estratégicos para cair no gosto da galera", analisa.
Produzir para o Tik Tok traz desafios
Os artistas concordam que a produção de músicas tem novos desafios, pensando no engajamento da plataforma. "Não só produzir como o de criar, mudou muito. Agora, se compõe e produz a música pensando na batida contagiante e no passinho que se encaixe para o Tik Tok", indica Braga.
O DJ revela que já tem uma música pensada para a plataforma. "Inclusive, já temos a dancinha pronta e a música em preparo para em breve compartilhar nas redes".
Insanou pensa que as 'trends' e dancinhas são fatores para viralizar, mudando a forma de pensar nas futuras músicas. "A grande maioria das músicas tem uma coreografia pronta antes mesmo de chegar ao Tik Tok. Vejo isso como um desafio, de alinhar a música com os 'challenges' para as pessoas dançarem e aí viralizar", pontua.
Bonne explica que no estúdio é pensado em usar o trecho mais impactante da música para viralizar e ela deve ter no máximo três minutos. "É uma tendência, uma nova forma de se comunicar e de consumir música. Se assiste 3 'challenges' com a mesma canção você automaticamente decorou pelo menos 15 segundos daquela música. A próxima ação é partir para conhecer o restante da canção", afirma.
"Trampolim para a carreira"
Apesar de grandes artistas como Anitta e Halsey pensarem que o TikTok é ruim para a carreira, Insanou e Braga analisam que a plataforma é um trampolim. "É um meio muito forte e atual, apesar de grandes artistas não utilizarem deste método para propagar a música", diz Braga.
E Insanou defende a plataforma. Ele, que tem um rap em alta no Tik Tok, explica que não conseguiu espaço com 'dancinhas'. "A canção em alta é motivação emocional. E, sim, o Tik Tok mudou minha vida, por alcançar mais as pessoas, principalmente pela função de compartilhamento no WhatsApp. Conseguimos entregar mais músicas que as pessoas se identificam", diz o rapper, que enxerga o TikTok como lugar de respeito entre artistas.