Com dificuldades e às vezes até medos para se arriscar no mercado literário, novos escritores têm sido descobertos por clubes de escrita. O “Clube de Autores” e o “P.S.:” são alguns desses clubes que ajudam autores independentes.
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O “ Clube de Autores ”, por exemplo, já possui mais de 70 mil livros publicados. Um dos sócios, Ricardo Almeida revela que essa “plataforma” nasceu das experiências dos próprios fundadores. “Como escritores, não concordávamos com o modelo, até então, padrão do mercado editorial. Era como se todo modelo tivesse se construído sobre a premissa de se fazer o autor pagar pela história que já escreveu”, conta.
Os livros do clube de Ricardo Almeida são lançados em versão e-book e físico, diferente do “ P.S.: ” que lança uma série de livros anual. “Focamos em cinco ou quatro livros dentro de uma série com autores que já são conhecidos ou não na internet”, declara Cínthia Zagatto.
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Como boa leitora (e escritora) de fanfics, Cínthia queria transformar esses livros publicados na internet de forma gratuita em livro físico, e toda a ideia surgiu durante seu MBA em publicação de livros. “Nosso projeto final seria uma editora e quando comecei a pensar que tipo de editora seria, queria fazer uma editora que publicasse fanfic”, relembra.
Diferente do “Clube de Autores”, que lança livros de todos os gêneros e sem um período específico, o clube de Cínthia Zagatto é uma plataforma de assinatura anual e com um número restrito de tiragem. Em 2018, Cínthia e sua sócia focaram em lançar livros romances românticos voltados para leitores de fanfics.
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“Buscamos em um site os principais autores de fanfics e lá encontramos que a maioria era mulheres. Somos mulheres, que leram fanfics na infância. Fez sentido que esse projeto pudesse dar voz ao que as mulheres querem dizer e ler. É um clube feito por mulheres com autoras”, declara Cínthia.
Sendo feito por mulheres e tendo apenas autoras, Cínthia esclarece que não há limitação para os assinantes da plataforma. “A gente não limita nossos assinantes apenas para mulheres, mas faz sentido que seja voltado para elas, de modo que seja uma coisa diferente no mercado. Temos muitos clubes voltados para homens e queríamos ter um espaço de fala bem representativo”, conta.
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Escritores independentes
Para Ricardo Almeida, ter um clube voltado para escritores independentes não é apenas uma questão de ajuda, mas sim “de entregar para ele um modelo absolutamente novo”. “Antes existia apenas duas formas de um autor se lançar. Procurar uma editora disposta a patrociná-lo ou pagar para que uma editora lançasse. Na nossa visão, o autor não tem que pagar, tem que receber”, declara.
No “P.S.:” as escritoras não tiram nada do bolso, são convidadas das sócias do projeto. “As autoras não pagam nada. A gente faz todo processo como uma editora tradicional, porém com uma tiragem limitada e exclusiva, então não é um projeto para elas terem grande alcance, mas para terem material exclusivo”, explica Cínthia Zagatto.
Ricardo nomeia seu clube como “uma casa de escritores e para escritores”, pois os livros que são publicados por eles não precisam seguir nenhuma regra em especifico, tanto que 2019 eles devem fechar com 15 mil novos lançamentos. “Temos apenas exigências legais: o livro deve ser do próprio autor e não deve conter nenhum tipo de ilegalidade. Fora isso, todos os livros são bem vindos. Nosso papel é viabilizar isso [publicação de livros].”
A fim de dar novas oportunidades para escritores independentes, o “P.S.:” busca mesclar os autores já publicados com os “anônimos”. “A gente começou com quatro autoras que nunca tinha publicado um livro por editora. A ideia é sempre dar oportunidade para autoras maiores e menores ao mesmo tempo”, explica.
“É fazer com que autoras menores consigam visibilidade maior com os leitores e que as escritoras maiores criem um portfólio para apresentar para as editoras formais e tradicionais”, conclui Cínthia Zagatto, sócia do clube de autores "P.S.".