Chegou ao fim no último domingo (08) a Bienal do Livro do Rio, que aconteceu na Barra da Tijuca, no Riocentro. Com um público de 600 mil pessoas, ao todo, durante dez dias de feira, o evento vendeu mais de 4 milhões de livros .

Vinicius Fernandes
Reprodução Instagram /
Vinicius Fernandes

Apesar da alta vendagem, a Bienal do Livro do Rio foi alvo de um debate sobre censura este ano. Isto por que, na última quinta-feira (05), o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, determinou o recolhimento de exemplares da HQ "vingadores, A Cruzada das Crianças" que tem a imagem de dois personagens do sexo masculino se beijando. 

Vinícius Fernandes, autor de "Graham: O Continente Lemúria" e "Caminho Longo", ambos com temáticas LGBT ’s, definiu a feira deste ano como “histórica”.

“Foi uma experiência muito boa, foi a terceira que participei, a segunda no Rio. Mas pelos acontecidos, a questão da censura da prefeitura, foi uma Bienal que ficou na história”. 

Na sexta (06), dia seguinte da determinação de Crivella , Vinícius assume que não viu os fiscais entrarem na feira para confiscar as obras com “conteúdo pornográfico”, mas lembra de como os protestos começaram. 

“Não chegaram ao pavilhão que eu estava, mas eu ouvi todo o protesto. Pessoas pegaram os livros [com temática queer] e se uniram. No meio de tudo, uma mulher veio da multidão e me abraçou chorando”, relata o autor, que completa: “Me senti muito emocionado”. 

Marcelo Crivella
Sergio Marques/Parceiro/Agencia O Dia
Marcelo Crivella

No sábado (07) o Tribunal de Justiça do Rio suspendeu a decisão que impedia a prefeitura carioca de confiscar livros. Ao saber disso, a organização do evento alegou que iria recorrer.

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Ao falar sobre a segunda visita dos fiscais , o autor usa palavras como “absurdo, surreal e afronte”. “Quando ele chegou lá na segunda vez para tentar confiscar os livros, eu quase não acreditei. Achei um absurdo, é surreal, um afronte à liberdade de expressão”.

Dissertando sobre a motivação do prefeito para recolher obras literárias, Vinícius Fernandes aponta a falta de informação. “Tudo começou por causa da HQ dos ‘Vingadores’, ele achou que era para crianças… mesmo que fosse, são apenas dois homens se beijando”.

“Ele viu ali [na HQ] algo que ele queria que fosse escondido. Ele devia conhecer mais antes de ir tão a fundo, saber o que realmente é… e mesmo que fizesse isso, não era desculpa para confiscar”, completa ele. 

Em seguida, o autor de "Graham: O Continente Lemúria" e "Caminho Longo" fala sobre como a literatura, em especial a queer, pode ser essencial em um momento com este.

“A literatura é capaz de transformar e ensinar, acho que se as pessoas vissem mais obras LGBT,entenderiam melhor o outro lado. Além disso, é uma questão de representatividade”, disse ele, que completou: “Enquanto eu crescia, sentia falta de ver algo que acontecia comigo. Muitas vezes o jovem gay passa por algumas coisas sozinho e lendo ele pode afastar esse sentimento de solidão”.

O efeito Felipe Neto

Youtuber Felipe Neto
Divulgação
Youtuber Felipe Neto

Na última sexta (06) em rebate às medidas da prefeitura carioca,  Felipe Neto comprou mais de 10 mil exemplares com temática queer e decidiu distribuí-los gratuitamente no evento. Apesar de o comunicador não ter comprado seus livros, nem ser gay, o autor classifica a atitude do youtuber como “honrosa”. 

“Para apoiar a causa as pessoas não precisam ser necessariamente LGBTQ+. Ele ajudou  a dar visibilidade, foi uma arma muito poderosa. Foi a base para as pessoas se unirem e protestaram. Foi um atitude muito honrosa”.

Mesmo sem apoio de Felipe Neto, Vinícius Fernandes fechou a Bienal do Livro com suas obras esgotadas. Ao falar sobre a sensação de sair de uma edição tão emblemática com um feedback tão positivo, ele não pestaneja: “Foi uma experiência muito boa, fiquei muito emocionado de ter meus livros esgotados e que venha a próxima”.

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