Quando Isabelle Huppert leu pela primeira vez o roteiro do thriller psicológico de Neil Jordan, "Obsessão", sua reação imediata foi a de que estava sendo convidada para interpretar um "monstro".
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Ela relembra, em entrevista cedida com exclusividade ao iG , aquele momento com um sorriso e também acrescenta, que gostou do personagem - como qualquer atriz gostaria de ter um papel em que poderia aprofundar sua criatividade.
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“Eu li o roteiro e pensei: 'Uau! Greta é um verdadeiro monstro’. Ao contrário de outros personagens que já interpretei, que supostamente eram vistos como monstros, mas nunca pensei que fossem monstros reais. Mas essa aqui, ela é um personagem maligno”.
“Não há realmente uma tentativa de explicar ou justificá-la, mas é claro que há todo um tipo de romantismo em volta dela: a música, a infância. Mas no final das contas, sem dúvida, ela é um monstro”.
“Ela é uma assassina, ela é realmente uma pessoa má, mas também é uma pessoa muito solitária. Sendo solitária e sem raízes, é muito inspirador para o espectador e para mim, porque você pode imaginar muitas histórias por trás dela”.
Chloë Grace Moretz interpreta Frances McCullen, uma jovem que ainda sofre com a morte de sua mãe, quando encontra uma bolsa abandonada no metrô e decide tentar encontrar o proprietário para devolvê-la.
Quando Frances encontra Greta Hideg, ela fica encantada com a excêntrica e solitária viúva que vive sozinha na cidade e distante de sua própria filha. Frances torna-se amiga de Greta, mesmo indo contra o conselho de sua melhor amiga e colega de quarto Erica (Maika Monroe) e sua bondade a coloca em perigo. Quando Frances visita Greta, ela acidentalmente descobre um armário cheio de bolsas idênticas a que encontrou no metrô, e logo percebe que isso tudo é uma armadilha.
Enquanto Frances tenta cortar contato com ela, Greta começa a perseguir Frances e Erica, sua colega de quarto. Na interpretação de Huppert, Greta não é apenas extremamente ameaçadora, mas, às vezes, engraçada e tragicamente solitária também. Greta atrai Frances - e o público - para sua teia e é tarde demais para fugir.
Huppert concorda também que o fato de Greta ser, pelo menos a princípio, uma mulher mais velha e aparentemente inofensiva subverte as expectativas do público – estamos acostumados a ver homens como assassinos enlouquecidos.
“Talvez esse tipo de pessoa fosse mais provavelmente um homem do que uma mulher. Essa solidão pode ser tocante, mas também lhe dá uma sensação de poder, de força, porque ela tem sua própria vida. Eu gostei do personagem imediatamente. Ela é simpática como personagem”, ela ri.
“Eu adoro a cena da bolsa, onde a Chloë entende que ela deveria fugir, mas há tantas coisas que nos faz querer ficar com ela, com certeza”.
“Eu acho que o personagem de Chloë entende que algo está errado, mas é claro que ela não tem ideia de que é a ponto de ser completamente aterrorizante. Não só por ela matar, mas o jeito que ela mantém as vítimas. Ela mata lentamente. Isso é realmente terrível. Me desculpe!"
Greta lembra outra inesquecível vilã do cinema, Annie Wilkes, interpretada por Kathy Bates, que sequestra seu autor favorito, interpretado por James Caan, em "Louca Obsessão".
“Nós filmamos em Dublin e quando eu estava lá, recebi um sinal porque em um dos cinemas em Dublin, em uma tarde, havia apenas uma exibição de "Louca Obsessão", e eu gostei muito de rever o filme”.
“Eu não o via há anos e achei que havia alguns tipos de semelhança no personagem - ser malvada e também engraçada às vezes. Kathy Bates, claro, está além dos elogios, ela é tão incrível nesse filme. Mas foi muito interessante assistir ao filme enquanto eu estava fazendo 'Obsessão'”.
Cenas externas foram filmadas em Nova York e, Huppert acredita que a Big Apple foi uma parte importante da história em "Obsessão". “É interessante vir com isso, porque Greta é um personagem solitário em Nova York, onde talvez o senso de pessoas sem raízes seja mais forte do que em qualquer outro lugar - com pessoas vindas de todo o mundo. Bem, nós temos a mesma impressão em Paris agora, mas não com o mesmo tipo de sentimento. Eu me lembro, quando vim para Nova York pela primeira vez, eu era mais parecida com Greta. Eu me senti muito solitária. Mas agora eu gosto disso”.
De fato, Huppert gosta de viajar para diferentes partes do mundo para atuar e adora trabalhar com cineastas como Neil Jordan, seu diretor em "Obsessão". “Bem, existe uma versatilidade no meu trabalho - não no meu trabalho, mas nas pessoas com quem trabalho. E isso faz com que seja sempre novo e fresco. Eu adorei ter trabalhado com Neil e Chloë”.
“Meu próximo filme será um filme chinês que está sendo rodado em Paris, com uma cineasta chinesa chamado Flora Lau. Ela teve um filme no Festival de Cannes 2013 chamado "Bends", na mostra Un Certain Regard.
“E então meu próximo filme será com Ira Sachs, que fez "O Amor é Estranho", e que está sendo rodado em Portugal. E então será outro filme francês e depois uma peça em Nova York.
"Eu amo viajar. Eu acho que, de certa forma, fazer filmes é sempre uma espécie de jornada interior, mas se é também uma jornada em algum lugar do mundo e eu adoro isso. É sempre muito inspirador”.
Huppert nasceu em Paris e estudou na National School for Theatre Arts and Techniques e na National Academy of Dramatic Arts. Ela foi vencedora de diversos prêmios por inúmeras atuações em sua carreira, incluindo a conquista de dois Prêmios César na França ("Mulheres Diabólicas" e "Elle"), dois prêmios de Melhor Atriz no Festival de Cannes ("Violette" e "A Professora de Piano"), um Globo de Ouro ("Elle") e um BAFTA ("Mulheres Diabólicas").
Confira a íntegra da entrevista com a estrela francesa
Qual foi sua reação quando você viu o roteiro de "Obsessão" pela primeira vez?
Bem, eu li o roteiro e pensei: 'Uau! Greta é um verdadeiro monstro’. Ao contrário de outros personagens que já interpretei, que supostamente eram vistos como monstros, mas nunca pensei que fossem monstros reais. Mas essa aqui, ela é um personagem maligno.
Não há realmente uma tentativa de explicar ou justificá-la, mas é claro que há todo um tipo de romantismo em volta dela: a música, a infância. Mas no final do dia, sem dúvida, ela é um monstro. Ela é uma assassina, ela é realmente uma pessoa má, mas também é uma pessoa muito solitária. Sendo solitária e sem raízes, é muito inspirador para o espectador e para mim, porque você pode imaginar muitas histórias por trás dela.
Você viu?
Fazia parte do apelo a ideia de que esse tipo de personagem é geralmente masculino?
Sim, isso também, você está correto. Era um ambiente somente feminino, além do personagem interpretado por Stephen Rea, que eu amo. Ele é um bom ator e eu gostei muito dessas cenas. Ele é ótimo. Ele é um homem maravilhoso. Mas sim, você está certo, talvez esse tipo de pessoa fosse mais provavelmente um homem do que mulher. Essa solidão pode ser tocante, mas também lhe dá uma sensação de poder e de força, porque ela tem sua própria vida. Eu gostei do personagem imediatamente. Ela é simpática como personagem.
É incrível que o público ainda goste do personagem...
Sim! Eu quis dizer, esse é o problema (risos). Eu adoro a cena da bolsa, onde a Chloë entende que ela deveria fugir, mas há tantas coisas que nos faz querer ficar com ela, com certeza. Eu acho que o personagem de Chloë entende que algo está errado, mas é claro que ela não tem ideia de que é a ponto de ser completamente aterrorizante. Não só por ela matar, mas o jeito que ela mantém as vítimas. Ela mata lentamente. Isso é realmente terrível. Me desculpe!
Parece que você se divertiu, apesar de toda a escuridão. É justo dizer isso?
Nós filmamos em Dublin e quando eu estava lá, recebi um sinal, porque em um dos cinemas em Dublin, em uma tarde, havia apenas uma exibição de "Louca Obsessão", e eu gostei muito de rever o filme. Eu não o via há anos e achei que havia alguns tipos de semelhança no personagem - ser malvada e também engraçada às vezes. Kathy Bates, claro, está além dos elogios, ela é tão incrível nesse filme. Mas foi muito interessante assistir ao filme enquanto eu estava fazendo "Obsessão".
Qual é o seu relacionamento com Nova York? Você se sente confortável lá?
Sim, eu me sinto, mas é interessante vir com isso, porque Greta é um personagem solitário em Nova York, onde talvez o senso de pessoas sem raízes seja mais forte do que em qualquer outro lugar - com pessoas vindas de todo o mundo. Bem, nós temos a mesma impressão em Paris agora, mas não com o mesmo tipo de sentimento. Eu me lembro, quando vim para Nova York pela primeira vez, eu era mais parecida com Greta. Eu me senti muito solitária. Mas agora eu gosto disso.
Você se lembra da primeira vez que foi a Nova York?
Sim, lembro-me muito claramente. Eu me lembro da primeira vez que vim aos Estados Unidos. Não era Nova York; isso foi na Virgínia, porque eu estava fazendo uma turnê de teatro que me levou primeiro a uma universidade na Virgínia, em uma cidade chamada Richmond. Eventualmente na mesma viagem eu vim para Nova York pela primeira vez, o que eu me lembro claramente.
Você está fazendo filmes em todo o mundo. O que isso traz para você nesta fase da sua carreira?
Bem, existe uma versatilidade no meu trabalho - não no meu trabalho, mas nas pessoas com quem trabalho. E isso faz com que seja sempre novo e fresco. Eu adorei ter trabalhado com Neil e Chloë. Meu próximo filme será um filme chinês que está sendo rodado em Paris, com uma cineasta chinesa chamado Flora Lau. Ela teve um filme no Festival de Cannes 2013 chamado "Bends", na mostra Un Certain Regard. E então meu próximo filme será com Ira Sachs, que fez "O Amor é Estranho", e que está sendo rodado em Portugal. E então será outro filme francês e depois uma peça em Nova York.
Você ainda gosta da viajar?
Sim, eu gosto, eu amo viajar. Eu acho que, de certa forma, fazer filme é sempre uma espécie de jornada interior, mas se é também uma jornada em algum lugar do mundo, eu adoro isso. É sempre muito inspirador.
Como surgiu a sequência de dança em "Obsessão"?
Eu nem sei como isso aconteceu. Eu acho que talvez eu devesse ter feito isso em um ensaio, apenas um movimento louco para o ensaio, e então eu acho que Neil disse: 'Oh! Isso é bom, você deveria fazer isso de novo’. Eu não sei. E então eu segui a proposta, que era bastante aventureira.
O filme também explora algumas questões em torno da mídia social. Você ignora essas coisas na vida real?
Não, você não pode ignorar porque estão lá. Faz parte do nosso mundo. Eu tenho sentimentos misturados sobre isso. Eu tenho Instagram, mas eu uso muito pouco. Não é realmente minha praia, tenho que dizer. Mas eu gosto de postar, um texto ou algo assim. Quando é apenas sobre você, não é a minha praia.
Você é frequentemente descrita como destemida. Existe um papel de que você teria medo neste momento?
Não, não tenho. Eu posso entender porque as pessoas pensam isso - porque eu não tenho medo de certos assuntos, isso é certo. Eu não estava com medo de fazer "Elle", e eu não estava com medo de fazer "A Professora de Piano". Quer dizer, eu nem vi o ponto negativo disso, então devo ser muito ingênua.
A produção de filmes permite que você explore esses tipos de complexidades e ambiguidades, e o teatro também está explorando novas formas - é por isso que gosto de trabalhar com pessoas como o diretor de teatro Bob Wilson.
As pessoas falam sobre a rapidez com que o filme está mudando. Acontece o mesmo com o teatro?
Sim, de certa forma. O que mudou muito no teatro é que, cada vez mais, a audiência é uma audiência de cinema que vai ao teatro. Então é por isso que nos teatros nós temos todos esses vídeos agora. Mas eu acho que mais e mais você também tem uma audiência de televisão, então é por isso que o teatro às vezes vem em sequências. Reflete uma certa realidade de diferentes mídias.
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A ideia de um ator de teatro também mudou?
Sim, mas isso começou há muito tempo. Por exemplo, trabalho com Bob Wilson há muitos anos e Bob foi provavelmente um dos primeiros a usar microfones. Isso mudou drasticamente a relação entre o ator e o público, porque a principal diferença era a maneira como você tinha que projetar sua voz e falar muito alto e ser teatral, e isso reduziu o problema, isso o liberou completamente.