Não é exagero dizer que Keanu Reeves se encontrou no personagem John Wick, que de cult, se transformou em uma franquia cujas ramificações emanam do cinema para os games e para a TV. O personagem, que volta aos cinemas no terceiro capítulo intitulado “Parabellum” não dá sinais de desgaste e é a maior aposta do estúdio de médio porte Lionsgate para a temporada 2019 – no Brasil a distribuição compete à Paris Filmes.
Dirigido por Chad Stahelski, um ex-dublê convertido em cineasta com essa série iniciada em 2014, “ John Wick 3: Parabellum” eleva o já altíssimo patamar da franquia em matéria de cenas de ação. As coreografias são arrasadoras e imaginativas e as cenas, em si, pensadas para provocar o maior impacto – além de a maioria fazer uma boa ponte para o game em FPS (First Person Shooter) que se avizinha.
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O novo filme começa instantes depois do fim de “Um Novo Dia para Matar” (2017) e John está prestes a se tornar excomungado pela confraria de assassinos que faz parte. Ele precisa agir rápido já que toda Nova York, quase que em uma afirmação literal, vai tentar eliminá-lo para garantir o bônus de US$ 14 milhões.
Os primeiros 20 minutos do filme são alucinantes. São os momentos mais geniais do cinema de ação na década juntamente de “Mad Max: Estrada para a Fúria” (2015). A cena em que John e mercenários chineses fazem um duelo de facas é francamente aflitiva de um modo que o cinema de ação desaprendeu a ser.
Altos e baixos
A partir daí e com John cobrando favores – ele também tem sua cota de promissórias e tíquetes para coletar – “Parabellum” se incumbe de expandir esse universo de assassinos e seus códigos de conduta. É neste contexto justamente que o filme se apequena diante dos anteriores. Além de algumas opções narrativas contestáveis, ainda que com alguma verossimilhança, essa expansão acaba por minar a força desse terceiro filme com reviravoltas sem muito sentido para o personagem.
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Se Ian McShane como Winston, o gerente do Continental (o hotel –refúgio para os associados) de Nova York , ganha força e projeção, a personagem de Halle Berry, uma ex-aliada de Wick a quem ele procura para cobrar uma dívida, responde por um dos momentos mais desinteressantes da trama. Essa irregularidade torna “Parabellum” um filme menos empolgante, mas que não deve comprometer seus efeitos junto aos fãs.
Se narrativamente o longa tem seus percalços, o mesmo não se pode dizer das cenas de ação. Nesse departamento, Stahelski não economiza na megalomania e propõe desde cavalos assassinos (Wick usa coices como arma de defesa em mais um dos grandes momentos do personagem) a uma luta do protagonista com dois fãs já no clímax.
Hiperbólico e sem vergonha alguma dessa condição, “Parabellum” tem em Keanu Reeves seu contraponto ideal. Mais um performer do que um ator aqui, Reeves percebe que a composição desse personagem exige traquejos dramáticos e físicos em compassos diferentes.
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O desfecho, com direito a gancho ainda mais escancarado do que o do filme anterior, demonstra que John Wick ainda tem fôlego no cinema e a julgar pelo que se vê nesse terceiro capítulo, ninguém pode ousar discordar.