É muito claro que o segundo ano de "O Mecanismo" muda o tom e o ritmo na abordagens dos conflitos inerentes à Operação Lava Jato, cujos bastidores são dramatizados na série da Netflix. Mas depois do forte barulho provocado por certas liberdades narrativas no primeiro ano, causa certa surpresa a maneira como a segunda temporada se constrói. 

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José Padilha e seu elenco na coletiva de
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José Padilha e seu elenco na coletiva de "O Mecanismo" realizada na última semana

Muita gente vê na evolução dramática desses novos oito episódios uma mea culpa de Padilha, afinal, ele ilumina toda uma engendragem para derrubar Dilma, encarcerar Lula e manter o mecanismo em funcionamento. Pode até ser, mas a série assume o discurso de golpe? 

A resposta pode ser mais complexa do que um sim ou não. Existe um norte narrativo que não pode ser desprezado nessa análise e ele dá respaldo ao que se vê no segundo ano. Padilha entende toda a classe política como imoral e corrupta e constrói todo o seu raciocínio sobre esse anagrama conceitual.

É nesse contexto, que a série perpassa a tese do golpe. Há reuniões frequentes entre os personagens inspirados no ministro do STF Gilmar Mendes, no então presidente da Câmara Eduardo Cunha, no então vice-presidente Michel Temer e no então senador Aécio Neves em que eles articulam maneiras de usar os rumos da Lava Jato em benefício próprio.

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A série também muda a retratação das figuras de Lula e Dilma, que surgem mais como vítimas das circunstâncias do que como algozes da coisa pública, algo mais tangenciado no primeiro ano. A opção por esse olhar na representação reforça a perspectiva de que a produção entende na movimentação política que aconteceu naquele momento histórico um golpe. 

Dilma Rousseff
Agência Brasil

Dilma Rousseff

A articulação das ideias e dos personagens, no entanto, em momento algum dão conotação ideológica a essa movimentação, o que fragiliza a percepção de mea culpa de Padilha. Afinal, a engrenagem aqui denunciada pela produção visa a manutenção de um esquema ílicito com diversas ramificações nos setores público e produtivo do País. 

A suavização na retratação das figuras de Lula e Dilma , por seu turno, podem apenas atender a demandas narrativas de iluminar outros personagens dessa extensa gama de mocinhos, vilões e uma cambada de personagens que trafegam na zona mista.

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"O Mecanismo" pode até ter perdido um lastro de qualidade em seu segundo ano, mas não abriu mão de suas convicções e a maior delas, justamente aquela que encontra eco na audiência, é de que político no Brasil não presta. 

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