É difícil dizer que o segundo filme de alguém é o mais pessoal. Até porque se supõe que, em um universo de dois filmes, essa honra caiba ao primeiro. Não é bem assim e Gabriela Amaral Almeida pode provar.
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“A Sombra do Pai” é um filme que a acompanha desde a escola de cinema. “Esse roteiro está em um lugar de experimentação e aprendizado”, informa a cineasta. “Desenvolvendo a ideia tive a oportunidade de escrever para outros diretores (Walter Salles, Cao Hamburger e Marco Dutra, entre eles) e fazer ‘O Animal Cordial’”.
A diretora conta que decidiu que era o momento de filmar o projeto, “com essência ‘Stephen kingiana’” porque um artista não pode deixar que um projeto amadureça demais. Foram dez anos até que “A Sombra do Pai” começasse a ser rodado. O longa começou a circular por festivais de cinema no momento em que o primeiro filme de Almeida chegava ao circuito comercial.
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No longa, Julio Machado vive um homem que vai sendo dominado pela amargura e que se abala ainda mais após a morte de um colega na construção em que trabalha como pedreiro. Sua filha, papel de Nina Medeiros, é fã de filmes de terror e vendo o sofrimento e distanciamento do pai começa a acreditar que pode trazer a mãe de volta à vida.
“Nina era uma criança muito disposta ao jogo e muito resistente e isso era algo importante porque a personagem é o esteio do filme”, diz Almeida, que elogia a fisicalidade da menina. Fisicalidade é outra palavra que importa e foi algo que Machado buscou detidamente para seu personagem. “Que corpo exaurido era aquele? Que corpo oprimido pela mecânica do trabalho é esse? Ele não se afeta muitos pelos encontros. A gente se voltou para essa investigação”, relata o ator.
Machado observa que o que mais o atraiu em seu personagem foi justamente exercitar essa “questão para nós homens que é não se permitir sensível, não se deixar afetar por determinados encontros”. Investigar essa “masculinidade impermeável” dentro de um exercício de gênero foi sedutor para o ator, que atualmente está no ar em “Malhação: Toda Forma de Amar”.
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Almeida admite que “A Sombra do Pai” busca o contraponto entre essa feminilidade sensitiva e essa masculinidade refratária. A diretora acrescenta que o potencial alegórico do gênero é ideal para traduzir todo tipo de ansiedade.