Celebrado desde sua estreia no Festival de Veneza, “Roma” marca o retorno de Alfonso Cuarón para suas raízes mexicanas desde “Y Tu Mamá También”, de 2001. Desde então o diretor participou da franquia “Harry Potter”, fez uma ficção científica pouco lembrada (“Filhos da Esperança”) e outra premiada (“Gravidade”).

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"Roma"

Em 2016 ele começou a produzir seu novo filme, que foi comprado pela Netflix. “ Roma ” não só marca seu retorno ao seu país de origem, mas também narra uma história baseada nas memórias e experiências de infância do diretor.

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O filme conta a história da empregada doméstica Cleo (Yalitza Aparicio) e sua vida trabalhando para uma família de classe média-alta da Cidade do México.

Entre os dramas vividos por sua patroa Sofía (Marina de Tavira), o cuidado da casa e das quatro crianças, ela tem uma vida simples, com alguns momentos de lazer e uma companheira inseparável em Adela (Nancy García García), que trabalha com ela e divide o quarto dos fundos.

Alfonso Cuarón se inspirou em Libo, que trabalhou na sua casa na infância para contar a história de Cleo, que tem uma vida ordinária, mas que, se olharmos com atenção, é repleta de momentos extraordinários.

Passado nos anos 1970, o filme reflete não só um período da vida de Cuarón, mas também do México.

A trajetória de “Roma”

“Quantos cinemas você acha que passariam um filme mexicano, em preto e branco, falado em espanhol e mixteco, que é um drama sem grandes estrelas?”, questionou o diretor após ganhar o Globo de Ouro de melhor Filme em Língua Esntrangeira. O longa foi tema de muitos debates na indústria antes mesmo de sua estreia.

Como plataforma de streaming, a Netflix comumente é excluída de eventos cinematográficos e em 2018 foi impedida de competir em Cannes, motivo pelo qual escolheu não exibir o filme de Cuarón lá. O longa então chegou a Veneza rodeado de expectativa e saiu com o Leão de Ouro. A vitória colocou “Roma” direto na temporada de premiação. Além do Globo de Ouro, o filme ganhou o Bafta, o DGA e foi indicado ao Spirit Awards.

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Por que ganhar?

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  • É um filme sobre memória. Autoral, Cuarón cresceu no bairro que dá nome ao filme, e transformou uma experiência pessoal em uma obra cinematográfica única. A protagonista, mesmo que não crie identificação, emociona e a Academia gosta de filmes tocantes.
  • É artístico e a Academia adora isso. Filmes sobre cinema ou que exaltem a arte de fazer cinema costumam prosperar na premiação e “Roma” tem isso.  
  • Um homem de muitas tarefas, Cuarón assume, além da direção, o roteiro, a edição e a fotografia, essa um caso a parte. O filme é bonito e a fotografia pode ser acolhedora ou inquieta, usando as ruas, a casa e a praia como parte da história, elementos além de meros cenários.
  • O filme foi ganhando projeção ao longo da temporada. Ganhou alguns dos prêmios mais importantes da temporada, inclusive o Critic´s Choice de Melhor filme do ano
  • Yalitza Aparicio. Indicada como Melhor Atriz, ela não é a favorita, mas mesmo assim mantém seu mérito. Professora recém-formada, ela participou do teste para o papel só por curiosidade, mas o encontro com Cuarón foi transformador. Filha de uma empregada doméstica, Aparicio colheu suas próprias memórias para criar Cleo e, embora contida, faz uma performance muito profunda. Sua caminhada até o estrelato pode ter sido meteórica, mas não é falta de merecimento. Carregar nas costas um filme grandioso, aguardado e envolto em polêmicas não é tarefa fácil. Se “Roma” chegou onde chegou, é por conta do talento escondido de Yalitza.  
  • Política. Na era Trump, premiar um filme mexicano diz muito. E se a Academia estiver disposta a “comprar” essa briga, nenhum filme poderia combater o muro do presidente melhor do que esse.

Por que não ganhar?

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  • Mesmo aclamado na temporada, o filme ainda é da Netflix e teve uma curta temporada no cinema. A maior parte dos membros da Academia ainda são mais conservadores e o fato de um longa como esse ter sido feito para as telas do streaming pode seguir sendo um empecilho – já que premiá-lo poderia abrir um precedente inédito para a indústria cinematográfica.
  • Elevado pelo hype. Sim, “Roma” é um filme lindo, mas a temporada tem excelentes longas e uma disputa com nível elevado. Além de Cuarón, Spike Lee, Adam McKay e Yorgos Lanthimos criaram longas espetaculares, e embora o mexicano seja celebrado, ele está em pé de igualdade com seus concorrentes.
  • Política. Da mesma forma que a Academia pode decidir premiá-lo como um desafio, pode não o fazê-lo pelo motivo contrário. Premiar um filme mexicano, dirigido por um mexicano e com uma história muito específica sobre o país latino significa sim desafiar as políticas adotadas por Trump. Embora a cara da Academia esteja mudando, boa parte dos votantes faz parte de um grupo que pode não querer transformar a premiação em um ato político.
  • Identificação. De maneira bem diferente, o filme ressoa em países como o Brasil, onde vemos uma pobreza grande de um lado, e famílias abastadas com empregadas vivendo com sues patrões de outro. Além de um status social diferente, o americano não tem uma identificação tão forte com esse tipo de comportamento, o que pode perder um pouco a força por não ser relacionável.
  • Fora do padrão hollywoodiano. O filme, além de preto e branco, tem um ritmo lento, menos diálogos e é mais contemplativo – fugindo do modelo americano de fazer filmes. Embora o diretor tenha reconhecimento artístico por seu trabalho, ele pode não causar a mesma impressão que, digamos, “Vice”.

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Roma ” foi indicado a 10 prêmios no total. Além de Fotografia, Direção, Filme, Filme Estrangeiro, Roteiro Original, Direção de Arte, Mixagem de Som e Edição de Som, a 10ª e surpreendente indicação ficou por conta de Marina de Tavira como Atriz Coadjuvante.

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