Alfonso Cuarón venceu no último sábado o DGA, prêmio do sindicato dos diretores de cinema, considerado uma prévia fidelíssima do Oscar na categoria. É a segunda vitória do cineasta mexicano na premiação. A primeira foi em 2014, por "Gravidade". Ele também ganharia o Oscar pelo filme naquele mesmo ano.
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O cineasta mais aplaudido no evento, no entanto, foi o sexagenário Spike Lee. O americano que já dirigiu mais de 20 filmes, entre eles clássicos como "Faça a Coisa Certa" (1989), "Mais e Melhores Blues" (1990) e "Malcolm X" (1992) concorre pela primeira vez ao Oscar de direção com "Infiltrado na Klan" e é a única razão de não se cravar a vitória de Alfonso Cuarón na categoria.
Completam a disputa no Oscar 2019 o grego Yorgos Lanthimos, pelo excepcional trabalho em "A Favorita", o americano Adam McKay, para todos os efeitos o Oliver Stone do novo milênio, com "Vice", e o polonês Pawel Pawlikowski com o tenro e impactante "Guerra Fria".
A era mexicana
Nas últimas cinco edições do Oscar, a categoria de direção foi vencida por mexicanos quatro vezes. Cuarón iniciou a festa com sua vitória em 2014, seguido por Alejandro González Iñarritu com os triunfos por "Birdman", em 2015, e "O Regresso", em 2016. Em 2018 foi a vez do único dos los tres amigos que ainda não tinha a estatueta de direção. Guillermo Del Toro triunfou por "A Forma da Água".
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Independentemente da vitória de Cuarón em 2019, no contexto histórico esta década já está assinalada como a de Los Tres Amigos no Oscar. Mas a vitória do mexicano pode dilatar ainda mais esse já assombroso dado histórico.
Predicados não faltam. Em "Roma" , o trabalho do cineasta é ainda mais vistoso do que o que lhe valeu o primeiro Oscar. Mas Lee, além de ser um injustiçado histórico - e a Academia adora quando pode reparar grandes injustiças com um Oscar competitivo - ostenta o melhor trabalho da categoria. Talvez irmanado apenas por Pawlikowski, mas o polonês já tem em sua indicação uma vitória particular.
Esse quadro nos leva a necessidade de destrinchar algumas estatísticas. Apenas um diretor ganhou o DGA por um filme não falado em inglês antes de Cuarón. Foi Ang Lee em 2001 por "O Tigre e o Dragão", mas no Oscar daquele ano o vencedor foi Steven Soderbergh por "Traffic". O contraponto dessa informação é de que essa e em 2013 foram as únicas vezes que os prêmios não bateram. Em 2013, Ben Affleck venceu o DGA por "Argo", mas ele não estava indicado ao Oscar que curiosamente foi vencido por Ang Lee por "As Aventuras de Pi".
Outra estatística pertinente é que, de 1990 para cá, ou seja, nos últimos 39 anos, apenas Steven Spielberg, Clint Eastwood, Ang Lee e Alejandro González Iñarritu venceram o Oscar de direção por duas vezes. Não é algo que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood se sinta estimulada a fazer com frequência e se entregue ao mexicano, essa seria a segunda vez nesta década.
Há outro adendo importante a ser feito sobre esse páreo entre Alfonso Cuarón e Spike Lee . Em um Oscar que preza pela inclusão, como o é o da edição de 2019, premiar Spike Lee também seria premiar pela primeira vez um cineasta negro na categoria. Isso em 91 anos de Oscar. Seria poético e pode ser irresistível!