Em novembro de 2015 a barragem de Fundão em Mariana (MG) rompeu, matando 19 pessoas e destruindo o subdistrito de Bento Ribeiro. O desastre, então considerado o maior ambiental no Brasil, virou tema do livro reportagem “Tragédia em Mariana: A história do maior desastre ambiental do Brasil”, da jornalista Cristina Serra.
Na época atuando na Rede Globo , Cristina Serra foi à região para fazer a cobertura do noticiário, mas acabou se envolvendo com as pessoas da região, que acabaram perdendo tudo e tiveram suas vidas desfeitas. Pouco mais de três anos depois, outro acidente muito parecido, mas ainda mais devastador, volta a assolar o Brasil.
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Na sexta-feira (25) a barragem da Mina do Feijão em Brumadinho , também em Minas, se rompeu causando um estrago ainda maior. Até agora são 65 mortes e 288 pessoas desaparecidas. “Era possível prever que acontecesse (outro rompimento), mas sinceramente eu não esperava que fosse em tão pouco tempo e numa magnitude tão grande”, comentou Cristina.
A jornalista conta que nutriu esperança de que as empresas estivessem mais atentas às normas de segurança desde Mariana, mas Brumadinho, infelizmente, mostra que não. “A fiscalização em barragem de mineração é praticamente inexistente – não tem fiscais suficientes, os fiscais não têm condições adequadas”, comenta.
Cristina não se precipita a apontar culpados no caso atual, já que é recente e uma investigação está em andamento, mas para ela o caso de Mariana é uma soma de descasos, tanto das autoridades, quanto das empresas. Ela explica que hoje a Agência Nacional de Mineração (antes Departamento Nacional de Produção Mineral) não tem condição de fiscalizar as 663 barragens de mineração ao redor do Brasil.
Mas, o principal fator na sua visão são as empresas (no caso de Mariana a Samarco, joint venture da Vale com a anglo-australiana BHP Billiton): “elas tem que ser obcecadas com normas de segurança. No caso de Mariana a investigação mostrou que (a Samarco) não cumpriu as normas”, comenta.
Segundo seu levantamento, outros seis rompimentos já haviam ocorrido desde 1986, totalizando 15 mortos, além dos danos ambientais. Nos últimos 33 anos foram oito desastres, cada um mais devastador do que o anterior. “Alguma coisa está errada”, comenta.
De Mariana a Brumadinho
A jornalista começou a visitar a região logo após o acidente em Mariana. “O ‘Fantástico’ fez uma cobertura muito abrangente. Eu entrei nessa cobertura e não saí mais. Durante novembro, dezembro e janeiro eu ia praticamente toda semana”, explica.
Serra conta que passou o Natal na região e, enquanto foi recebida por uma família em Paracatu de Baixo na ceia, almoçou com outra de Bento Rodrigues no dia 25. “A gente se envolveu demais com aquilo”, comenta a jornalista, que procurou as famílias dos 19 mortos. Ao longo de sua pesquisa Cristina falou com engenheiros, especialistas, ambientalistas, bombeiros e investigadores de Fundão, além de autoridades da Samarco, Vale e BHP.
Ainda em contato com os moradores, ela fala que procurou alguns depois de Brumadinho: “todos passaram pela perplexidade, revolta, indignação e agora estão fazendo uma corrente de solidariedade”, conta.
Para ela, Brumadinho ainda tem um longo caminho pela frente, de investigação e recuperação . O caso atual, que afetou diretamente a área administrativa e refeitório da empresa, deve ser investigado minuciosamente: “Como o centro administrativo, o refeitório, essas instalações estavam abaixo da barragem, ou seja, no caminho da lama caso acontecesse acidente? Não contraria só segurança, contraria o bom senso. Para mim isso revela descaso com a segurança das pessoas”, avalia.
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Cristina não pode ir a Brumadinho por conta de sua agenda de compromissos profissionais, mas não descarta visitar a região. Ela garante que está acompanhando o caso de perto, e crê que merece uma investigação minuciosa, como ela fez em Mariana: “as vozes de Brumadinho tem que ser ouvidas”, conclui Cristina Serra .