Um dos primeiros lançamentos da Sessão Vitrine Petrobras em 2019, que tem como finalidade a promoção em território nacional do cinema independente brasileiro, é “Temporada”, segundo longa-metragem ficcional de André Novais. O cineasta mineiro, formado em história, é um arguto observador do tempo, do espaço e de suas inflexões na humanidade e isso já estava patente nos curtas “Domingo”, “Pouco Mais de um Mês” e “Quintal”.
“Temporada” acompanha Juliana, interpretada pela excepcional Grace Passô, que está se mudando do interior do Estado de Minas Gerais para a periferia de Contagem, na grande Belo Horizonte. Em seu novo trabalho dedicado a combater às endemias da região, ela se depara com novas pessoas e vive experiências tão banais quanto transformadoras.
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Novais diz que o filme nasceu de um desejo de falar da periferia de Contagem e, também, de “uma personagem feminina que atravessa importantes mudanças” em sua vida. Juliana muda-se primeiro do que seu marido, mas ele tarda a segui-la. Essa ausência sugere uma crise conjugal mal elaborada, sequer reconhecida, que Novais e sua atriz tangenciam por meio de palavras não ditas e um relato poderoso que lá pelas tantas do filme ajuda a dar outra perspectiva sobre a protagonista.
Grace Passô é uma das primeiras atrizes profissionais dirigidas por Novais, um defensor árduo do naturalismo enquanto realizador. O diretor conta que já era admirador da atriz e que a convidou para o filme antes mesmo de iniciar a pré-produção. Quando ela aceitou o convite, reescreveu o roteiro para ajustar algumas características da personagem a ela. “A intenção sempre foi uma atuação naturalista, mas preservando características de quem estava trabalhando no filme”.
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Ele é só elogios para Passô que “contribuiu muito” para a personagem e para o filme. A atriz estipula as bases para uma personagem que rapidamente fisga a atenção do público e que o cativa com empatia e desprendimento.
Não há grandes acontecimentos no curso do longa, mas André Novais rejeita a pecha de que seu filme é apolítico. “Ele é político e trata de diversas questões”, contradita o cineasta. “A ideia era fazer uma ficção com confabulações dentro da história”, advoga.
Se não há grandes alegorias e metáforas, a observância daquela rotina é, em si, tanto um manifesto político como uma elaboração sociológica. Essa aparente despretensão é ainda mais descontruída quando Novais explica a lógica por trás do título de seu filme.
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“Desde o primeiro momento da Juliana no filme até a última cena é um período muito específico da vida dela. Um período de mudança. Por isso chama ‘ Temporada ’. A vida dela vai tomar outro rumo depois daquela cena final e que a gente não necessariamente vai saber qual”.