Os 18 melhores filmes nacionais de 2018
Veteranos e estreantes buscam narrativas inventivas e mostram que o cinema nacional esteve em melhor forma do que nunca em 2018
Em um ano onde as biografias se destacaram no cinema, vimos nos filmes nacionais o retorno de grandes cineastas com novos trabalhos, o terror tomar conta dos restaurantes e casas, e diretoras mostrarem sua inventividade.
Fazer cinema no Brasil não é fácil, mas os filmes dessa retrospectiva 2018 mostram que, nos mais diferentes gêneros, dos dramas jovens às histórias de família, o cinema segue em ótima forma. Veja a lista dos 18 melhores filmes nacionais de 2018:
- “Berenice Procura”
Claudia Abreu protagoniza este filme que, à superfície, é um drama policial com a comunidade LGBT como ponto central. Mas a história de " Berenice Procura ", dirigido por Allan Fiterman encontra uma forma delicada de desbravar relações familiares e amorosas mais complexas do que aparentam ser.
- “O Beijo no Asfalto”
Murilo Benício foi destaque no cinema nacional e estreou na direção com o belo “ O Beijo no Asfalto ”, baseado na obra de Nelson Rodrigues. Misturando a ficção com uma homenagem ao ofício de ator, Benício ousa na estética do longa e, apesar do resultado ser inusitado, agrada. Lázaro Ramos, Débora Falabella, Fernanda Montenegro e Otávio Müller.
- “Benzinho”
Por falar em Müller, ele se reinventa para viver Klaus em “Benzinho”. O filme escrito pelo ex-casal Karine Teles e Gustavo Pizzi se debruça sobre a família e, da mesma forma que fala de afeto, mostra as dores da separação e da distância.
- “Tinta Bruta”
Mais um ótimo exemplo da originalidade do cinema brasileiro, “ Tinta Bruta ”, de Felipe Matzembacher e Marcio Reolon, busca novos caminhos para falar de sexualidade, autoconhecimento e pertencimento. Contando a história de Pedro (o elogiado Shico Menegat), o filme mostra um menino que ganha a vida fazendo vídeos sensuais enquanto pinta o próprio corpo. O longa se debruça sobre os conflitos que fazem de Pedro uma pessoa marginalizada e mostra como, para além da comunidade LGBT, há muitas formas de trabalhar um personagem.
- “Tungstênio”
“ Tungstênio ” é um dos filmes que estrearam este ano baseados em histórias em quadrinhos, além de “O Doutrinador”. Mas, dirigido por Heitor Dhalia, o thriller não evita ou diminui as cargas dramáticas da HQ, pelo contrário, consegue pesar ainda mais as tensões nas histórias que correm em paralelo, fazendo um longa com novo olhar sob as possibilidades de uma adaptação.
- “Arábia”
O l onga de Affonso Uchôa e João Dumans vai a Minas Gerais para retratar a “vida normal” que, se olhada sob os ângulos certos, tem suas peculiaridades e não é nada tediosa. Contando a história do protagonista a partir de sua morte, a produção recolhe as memórias desse homem ordinário que, dentro de sua banalidade, tem um jeito de viver e ver o mundo que são particulares.
- “Paraíso Perdido”
O primeiro filme de Monique Gerdenberg desde “Ó Paí, Ó”, “Paraíso Perdido” usa a música brega como pano de fundo para uma série de histórias envolvendo uma família que não podia estar mais distantes da tradicional brasileira. Com ótimo destaque para Lee Taylor e uma bela estreia do cantor Jaloo, o filme tem um elenco poderoso – e grande – que ainda assim não o impede de desenvolver bem cada uma das histórias. Nesse paraíso escondido no centro de São Paulo, a memória, o passado e as lembranças permeiam a vida dessa família chefiada por Erasmo Carlos.
- “Legalize Já”
Em 2018 diversas personalidades que já morreram ganharam suas biografias – com propostas diferentes, de Tancredo Neves em “O Paciente” a Abelardo Barbosa em “Chacrinha: Velho Guerreiro”. Mas talvez o personagem menos conhecido seja Skunk, membro fundador do Planet Hemp que morreu quando a banda começa a se destacar no cenário musical no começo dos anos 1990.
“ Legalize Já ” retrata seu encontro com Marcelo D2 (Renato Góes), mas é mesmo uma homenagem ao artista (vivido com maestria por Ícaro Silva) e sua maneira de pensar livre e incompatível com a vida marginal que levou.
- “Ana e Vitória”
Foi difícil encontrar público para esse filme que, de cara, parece uma biografia barata da curta carreira da dupla Anavitória . Talvez por isso o filme não tenha encontrado sucesso comercial antes de chegar a Netflix. Mas, uma vez no streaming, conseguiu encontrar seu público para além dos fãs da dupla.
E quem der uma chance para o filme, que tem as meninas como protagonistas, vai se surpreender ao encontrar uma bonita história de amizade, permeada pelos muitos amores, dúvidas e dificuldades profissionais tão comuns a instantaneidade do jovem moderno.
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- “Aos Teus Olhos”
Temas muito quentes na sociedade podem não ser ideais para criações artísticas que se pretendem a permanecer. Isso não significa que não devam ser abordados, caso tenham um norte bem definido. E é isso que Carolina Jabor faz em “Aos Teus Olhos”, protagonizado por Daniel de Oliveira.
O professor Rubens se vê em um dilema quando é acusado por um ex-aluno de assédio. Entre mensagens no WhatsApp e no Facebook, ele é alvo da tal fogueira pública que vemos esquentar constantemente nos dias de hoje – e com muita força em 2018.
- “Canastra Suja”
Caio Sóh utiliza um tema um tanto quanto explorado e o analisa sob um olhar novo – tanto narrativa quanto esteticamente. Uma família disfuncional vira pano de fundo para as experimentações do diretor, que ainda destaca as hipocrisias e contradições dos seres-humanos.
- “A Voz do Silêncio”
A tão populosa São Paulo ganha ares solitários no filme de André Risum , que recorta diferentes histórias com essa mesma temática em seu cerne. Por diversos motivos, pessoas com os mais distintos dilemas se veem afastadas de grupos sociais. Marieta Severo é o destaque desse filme que se apoia na força estética e musical para contar suas histórias.
- “As Boas Maneiras”
Uma dessas boas surpresas que chegam sem fazer alarde, “ As Boas Maneiras ” é resultado de um cinema que não tem medo de ousar e se fia nos gêneros, sempre buscando algo novo. Estrelado por Marjorie Estiano e Esabél Zuaa, o longa de terror de Marco Dutra e Juliana Rojas aposta em criaturas para fazer jus ao gênero, mas não se limita a isso. Contando a história de uma mulher grávida e a babá contratada para cuidar de seu futuro filho, o filme abre espaço para diálogos mais profundos e é aberto a interpretações ao tratar de temas folclóricos.
- “Intimidade entre Estranhos”
Quando, por algum motivo, se abre uma porta para conviver com alguém que não se tem intimidade, o resultado pode variar de uma amizade verdadeira para um conflito profundo. E é esse momento de transição que o filme de José Alvarenga Jr. explora. Com foco nos personagens, o longa se passa principalmente em um prédio e se debruça entre as reações sociais mais superficiais dos personagens, até seus conflitos mais profundos, que vão sendo revelados ao longo da trama.
- “Todas as Razões Para Esquecer”
A empatia com o sofrimento de Antonio (Johnny Massaro) por ter terminado um relacionamento termina bem rápido, conforme ele vai se mostrando um homem egoísta e sem empatia ele mesmo. Ele é incapaz de compreender o que fez com que seu relacionamento acabasse e se engana dizendo que era isso que ele queria, enquanto na prática se mostra completamente perdido.
“Todas as Razões para Esquecer” tem seus problemas, mas vale como um retrato moderno de relações desgastadas pela correria do dia a dia, a falta de disposição para se comunicar frente a frente enquanto as redes sociais se tornam uma segunda natureza.
- “Antes que eu me Esqueça”
O filme de Tiago Arakilian caminha naquela tênue linha entre o drama e comédia. Contando a história de Polidoro (José de Abreu), que descobre ter Alzheimer e decide se tornar sócio em uma boate, o longa desfaz a imagem que o personagem construiu ao longo da vida para viver, quem sabe, uma última aventura e tentar se reconectar com a família nesse processo. Belas atuações de Abreu e Danton Mello.
- “O Animal Cordial”
Um dos filmes mais surpreendentes do ano, “ O Animal Cordial ”, dirigido por Gabriela Amaral, conta com Murilo Benício, em um ano de graça no cinema. Ele vive Inácio, dono de um restaurante farto com os constantes assaltos e que toma uma atitude inusitada ao ser roubado mais uma vez.
Falar qualquer coisa além disso já é demais, embora o filme seja mais do que potenciais spoilers, já que consegue exprimir de todos os seus personagens ações sempre imprevisíveis. O suspense tem um elenco brilhante, com destaque para Luciana Paes que vive um dos momentos mais potentes e perturbadores do cinema neste filme.
- “Ferrugem”
O tocante e intenso filme de Aly Muritiba encerra a retrospectiva 2018. Ao tratar de um assunto tão complexo, o diretor não poupa as duras verdades que às vezes preferimos não assumir quando se trata de adolescentes, como por exemplo o fato de que todos eles tem um potencial assustados para fazer maldades e machucar os outros. Termo “bullying” parece pequeno para representar os desdobramentos vividos por Tati (Tiffanny Dopke) depois que ela tem um vídeo íntimo vazado na internet. Além de uma comedida e tocante atuação de Dopke, o filme ainda tem outra revelação Giovanni de Lorenzi.
Sem se preocupar com fórmulas, mas tentando compreender as muitas ramificações das angústias adolescentes, Muritiba vê o alerta em relação ao bullying como consequência de um período longo e pouco compreendido da existência e mostra, como todos os outros nessa lista, que os filmes nacionais têm potencial para contar a melhor história que se propõe a contar.