Em meio à onda de releituras e reimaginações vigente em Hollywood, era natural que um novo “Robin Hood” ganhasse vida. Dirigido por Otto Bathurst, que tem experiência na TV britânica à frente de episódios de “Black Mirror” e “Peaky Blinders”, o filme se propõe a redimensionar a lenda do homem que roubava dos ricos para dar para os pobres alterando algumas perspectivas e acrescentando elementos novos como uma Marion mais ativa no campo político.
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Batizado de “ Robin Hood – A Origem” no Brasil, o filme ganha pontos por investir em um Robin de Loxley mais jovem, voluntarioso e febril. Taaron Egerton , que despontou em “Kingsman: Serviço Secreto” (2014) e será Elton John no cinema no próximo ano, aborda o personagem com o devido carisma e, como já era de se esperar, capricha na ação.
Bathust investe em cenas de ação em espaços abertos e fechados e confia tanto na capacidade atlética de Egerton como nos efeitos especiais. A primeira aposta se mostra mais eficiente do que a segunda, mas o que realmente afasta o novo “Robin Hood” de ser um grande filme é o tratamento protocolar que o roteiro dá aos conflitos.
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Will Scarlet ( Jamie Dornan ), o plebeu que almejar ascender politicamente em Nottingham é um personagem subaproveitado, ainda que Dornan o componha muito bem. A rivalidade entre Will e Robin por conta de Marion jamais é defendida pelo roteiro com a garra que os atores ostentam. Uma bem-vinda novidade do filme é colocar Robin como um cruzado a serviço da corrupta coroa inglesa e inserir sua frustração em relação à guerra contra os muçulmanos como mais um elemento para sua atividade como fora da lei.
A aposta em um elenco majoritariamente britânico se prova acertada. Além de Dornan e Egerton, a irlandesa Eve Hewson é um alento como Marion e constrói uma personagem que vai muito além da mera beleza. O australiano Ben Mendelsohn confirma mais uma vez a aptidão para incorporar vilões e dá tensão e sofisticação a seu xerife de Nottingham e tem uma grande cena com F. Murray Abraham que se diverte como um cardial preocupado com os saques que Hood está fazendo à igreja na Inglaterra. Há ainda Jamie Foxx como o mouro que de rival passa a tutor do herói.
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Com mais altos do que baixos, “ Robin Hood – A Origem” não consegue superar em charme a versão de 1991 estrelada por Kevin Costner, mas olha pelo retrovisor a versão sisuda e cheia de arrogâncias que Ridley Scott e Russell Crowe capitanearam em 2010.