Quem não gosta de uma teoria da conspiração? Sam Esmail, criador e produtor de “ Mr. Robot ”, adora. Sua nova série, “Homecoming”, baseada em um podcast de sucesso e em cartaz no Amazon Prime Video, se sustenta inteiramente em premissas conspiratórias.
Leia também: Listamos 20 séries novas da temporada que merecem sua atenção
Estrelada por Julia Roberts e com dez episódios de meia hora – uma bem-vinda novidade no campo das produções dramáticas – “Homecoming” resgata o clima de paranoia tão em voga no cinema dos anos 70 e 80, auge da Guerra Fria, e estabelece uma atmosfera hitchcockiana para desvelar uma trama sobre atividades escusas do exército americano em conluio com uma grande empresa.
Quem conhece “Mr. Robot” vai reconhecer prontamente as afinidades, que vão desde a fotografia à construção da narrativa, entre uma produção e outra. Ocorre que a nova série já sai atrás por se sustentar inteiramente no truque. Há ótimas sacadas de roteiro, mas Esmail esgarça a fórmula além do desejável. Quando finalmente revela o que está acontecendo naquela instalação militar com cara de rehab no meio da Flórida, o espectador mais atento já havia antecipado, ainda que sem todos os pingos nos is.
De todo modo, pela maneira criativa com que desenvolve sua trama e por emular o melhor do cinema americano dos anos 70, “A Conversação” (1974), de Francis Ford Coppola, é uma referência contumaz, “Homecoming” desponta como uma produção bastante recomendável.
Leia também: Intensificação da concorrência ameaça reinado da Netflix no streaming
Julia Roberts na TV
A série chamou bastante atenção por ser o primeiro papel de Julia Roberts na TV. A atriz faz a psicóloga responsável pelo programa que dá nome à produção. Uma mulher que vai se ressentindo do pragmatismo com que a empresa, em um primeiro momento, e os EUA, mais genericamente, tratam soldados traumatizados. Ela desenvolve uma relação intrincada com um deles, papel do ótimo Stephan James, e acaba entrando em atrito com seu superior, Colin Belfast (Bobby Cannavale).
A série flui em dois tempos distantes, sendo que 2018 é o passado. No futuro, um oficial do ministério da Defesa (Shea Whigham) tenta apurar uma reclamação sobre o programa, já não mais em desenvolvimento, e esbarra em muitas óbices e má vontade.
Leia também: Julia Roberts afirma que não quer mais fazer comédias românticas
Se não é a grande série que poderia ser, “ Homecoming ” ganha pontos por propor algo essencialmente diferente do que a TV, e mesmo o streaming, está produzindo. Sua narrativa cheia de pontas aparentemente soltas indica uma possível segunda temporada com novos protagonistas. Venha ou não a continuidade, esta é uma série que parece destinada a ser objeto de culto.