Lançada discretamente pela Netflix no final de outubro, “Wanderlust”, uma coprodução com a BBC britânica, é uma série bastante diferente dentro da paisagem das produções adultas que tratam de relacionamentos. A começar pelo tema central, relacionamentos abertos, mas também pela maneira com que aborda suas inevitáveis ramificações.
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Criada e produzida por Nick Payne, que escreveu alguns episódios de “The Crown”, “Wanderlust” acompanha ao longo dos seis episódios que compõem a primeira temporada a rotina do casal formado por Joy (Toni Collette) e Alan (Steven Mackintosh), que vivenciam o esfriamento do desejo sexual um pelo outro e ponderam a respeito de como encarar esse problema.
Joy sofreu um acidente de bicicleta e ficou com a perna quebrada por um tempo. Circunstância que surgiu como o pretexto ideal para afastar qualquer contato sexual com Alan. Com a recuperação iminente, o elefante na sala, ou no quarto do casal, volta à pauta. Joy é terapeuta conjugal e questões sobre a sexualidade e vida sexual de seus pacientes são frequentes e constantes. Justamente por isso ela parece se cobrar mais a respeito de como toca a própria relação com seu marido e com o próprio desejo.
Já Alan se ressente do afastamento gradativo da mulher. Ele está convencido de que ela o rejeita sexualmente e isso o aproxima de Claire (Zawe Asthon), uma colega que dá aulas na mesma escola que ele.
Ainda no primeiro episódio, Joy e Alan chegam ao entendimento de que seria válido abrir o casamento. Viver experiências sexuais fora do matrimônio. A conversa em que se dá essa decisão é um dos melhores arremedos narrativos de 2018 na TV mundial. Tanto pela qualidade dos diálogos, como pela complexidade do tema e abrangência dos raciocínios e sentimentos em jogo.
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“Wanderlust”
O significado da palavra que batiza a série é um “intenso desejo ou impulso de viajar, explorar o mundo” e isso se ajusta diretamente aos dois protagonistas da série. O mais interessante é observar como eles lutam contra arranjos sociais e composições dogmáticas, mas também contra instintos que não conseguem decifrar ao certo para tentar salvar tanto uma relação como eles mesmos.
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“Wanderlust” é uma série sobre perdas e a inexorabilidade delas, também é sobre desenvolver mecanismos para melhor lidar com essa realidade inescapável, na vida, no amor e no sexo. Além das performances iluminadas do par de protagonistas, Sophie Okonedo, que dá vida a terapeuta de Joy, tem momentos de clarividência como intérprete. A delicadeza do desenvolvimento da história e a atenção aos personagens pautam a série que se resolve de maneira agridoce, mas verossímil.