“Estás me Matando Susana” é uma comédia com tintas mexicanas e Gael Garcia Bernal exercitando sua veia cômica. A produção assinada por Roberto Sneider (“Arranca-me a Vida”) trata de amadurecimento emocional, responsabilidade afetiva e de amor , em sua concepção mais latina e inflamada.
Leia também: Novo Halloween revitaliza slashers, brinca com legado da série, mas ousa pouco
Bernal dá vida a Eligio, que acorda um dia e percebe que sua esposa o abandonou. Ele descobre que ela foi para os Estados Unidos, mais precisamente para Iowa, participar de um curso literário. Ele decide ir ao encontro dela e é dessa jornada cheia de estranhamentos e repressões que “ Estás me Matando Susana” se alimenta.
Antes mesmo de Eligio ser abandonado por Susana (Verónica Echegui), vemos que ele tem uma amante. Seu comportamento machista e negligente é um incômodo superficial a aquela altura, mas o público vai se acostumando com a ideia do porque Eligio ter sido abandonado, ainda que simpatize com ele.
Esse aparente paradoxo é fruto da boa atuação de Gael Garcia Bernal, aqui exercitando sua veia cômica com tenacidade. É curiosa a trajetória do mexicano revelado no começo da década passada em uma trinca poderosa de filmes daquele país (“Amores Brutos”, “E Sua Mãe Também” e “O Crime do Padre Amaro”). Depois de se dedicar alguns anos ao cinema americano, ele migrou para o independente e agora parece estabelecido no cinema latino-americano. O magnetismo de Bernal permanece o mesmo, que ostenta filmes interessantíssimos no currículo como “Deserto” (2015), “Neruda” (2016), “Ensaio Sobre a Cegueira” (2008), entre outros.
Leia também: "A Favorita" satiriza jogos de poder na Inglaterra do século XVIII
Estás me Matando Susana vale a pena?
É preciso um desalento muito grande para abandonar alguém e mudar-se para outro país e, também, algum nível de despertencimento. Por outro lado, seguir alguém até outro país o que exige? O que revela sobre quem partiu e sobre quem foi atrás? São questionamentos implícitos ao conflito central do longa e que são desenvolvidos com leveza sem deixar a assertividade de lado.
Leia também: Com Marina Ruy Barbosa, “Sequestro Relâmpago” não alcança status de thriller
“Estás me Matando Susana” tem carinho com seus personagens e não tem medo de assumir a lógica de que no amor a lógica é apenas coadjuvante e cativa por propor uma experiência, aos personagens, mas também ao público, tão passional e incontida.