O mundo está preparado para um Bradley Cooper autor? O próprio não estava. O ator que começou com participações em séries como “Sexy and The City”, “Nip/Tuck”, “Alias” e “Lei & Ordem”, chamou a atenção pela primeira vez na comédia “Penetras Bons de Bico” (2005) e virou protagonista com o inesperado hit “Se Beber, Não Case!” (2009) já tinha promovido uma revolução. Teria gás para outra?
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Quando Bradley Cooper conquistou sua primeira indicação ao Oscar pela comédia dramática “O Lado Bom da Vida” (2012), o escárnio foi generalizado. Ele era, inclusive, o melhor entre os concorrentes ao prêmio da Academia naquele ano. O Oscar ficou com o sempre premiável Daniel Day Lewis por “Lincoln”.
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O ator estava decidido a fritar seus críticos. A parceria com David O. Russell o levou ao Oscar no ano seguinte com “Trapaça” e em 2015 foi a vez de concorrer com “Sniper Americano”, pelo qual também foi indicado como produtor. O trabalho com Clint Eastwood trouxe à superfície um desejo antigo, o de dirigir.
“Nasce uma Estrela”, principal estreia deste fim de semana prolongado nos cinemas brasileiros, era um projeto originalmente de Clint. Mas depois de muita conversa ele foi se transformando em um projeto de Cooper, que também está no novo filme de Clint, “The Mule”, que estreia no Natal nos EUA.
Eram muitos os riscos para Cooper ao assumir tão enfaticamente essa quarta versão de uma das histórias mais populares de Hollywood. Ele nunca dirigira e nunca cantara no cinema. Lady Gaga jamais protagonizara um filme. O longa chega ao Brasil com Cooper aclamado, como ator e cineasta, e com Gaga reinventada como atriz de cinema e um buzz forte sobre Oscar para ambos e para o filme.
“Nasce uma Estrela” é o tipo de filme que Hollywood deixou de fazer e é inegável que essa nostalgia conta a favor da produção, mas Cooper vai além e classificou o projeto como uma “catarse artística”. Faz sentido. A desconfiança para com o ator e agora cineasta tem sido uma constante em sua carreira e como alguém que aprecia o conceito de que o cinema pode conjugar elementos comerciais e artísticos, “Nasce uma Estrela” parece uma resposta muito bem urdida.
O artista disse em entrevista recente à revista Time que “há certa tristeza em entregar algo (no caso o filme)” porque “não pertence mais a você”. “Nasce uma Estrela” não pertence mais a ele, ou a Stefani (nome de batismo de Lady Gaga e como Cooper se refere a ela). Mas a recepção tem sido intensamente positiva.
Exibido e aclamado nos festivais de Veneza e Toronto, o filme teve uma bilheteria de estreia nos EUA muito boa. Arrecadou mais US$ 40 milhões e a indústria aposta em um fenômeno cultural do naipe de “Titanic” (1997). É possível projetar que o longa ainda esteja fazendo dinheiro nas bilheterias internacionais à época das indicações ao Oscar, no fim de janeiro, quando deve receber um novo impulso mercadológico.
O futuro de Bradley Cooper
Muitos analistas da indústria trabalham com a possibilidade de Bradley Cooper ser indicado ao Oscar de direção logo por seu primeiro filme e essa não seria uma escolha injusta por parte da Academia. Seu trabalho em “Nasce uma Estrela” é delicado sem deixar de ser vigoroso. Uma característica que falta a muitos contadores de história experientes e que calça perfeitamente o que é “Nasce uma Estrela” enquanto cinema. Sua visão da fama, a maneira como aborda o vício e a forma acalentadora como adorna seus personagens são entusiasmantes.
Cooper já está envolvido em um novo filme e novamente a música será um elemento central. O roteiro de “Bernstein”, sobre o músico Leonard Bernstein, está sendo desenvolvido em parceria com Josh Singer (“Primeiro Homem” e “The Post – A Guerra Secreta”) e ainda está em fase bem embrionária.
Mas a tendência é vermos Cooper, atualmente com 43 anos, mais envolvido em todas as instâncias de produção de projetos queridos. Em “Nasce uma Estrela”, por exemplo, ele tem cinco créditos. Como produtor, ator, roteirista, diretor e compositor.
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A nova fase de Bradley Cooper merece ser observada com atenção. Trata-se de um artista que amadureceu como poucos em sua geração e que com “Nasce uma Estrela”, como seu próprio personagem sugere, em uma metalinguagem que se fosse creditada a Godard não seria percebida como ególatra, tem algo a dizer. E tudo indica que vale a pena ouvir.