Não é de hoje que a relação entre Anitta e sua base de fãs está instável
. Há alguns dias, porém, levou um sacode daqueles com a suspeita de que a cantora poderia ser eleitora de Jair Bolsonaro
, candidato do PSL à presidência do Brasil e alvo de uma aguda polarização face a suas posições controvertidas em diversos campos sociais e dos direitos e liberdades individuais.
Na quarta-feira (19), essa tensão explodiu em cobrança direta e agressiva nas redes sociais quando fãs perceberam que a cantora passou a seguir um perfil que apoiava e vibrava com Bolsonaro. Anitta respondeu pedindo "mais amor" e "respeito ao próximo e a suas decisões".
Não foi o bastante. A hastag #anittaisoverparty foi hit no Twitter mundial e a cantora se viu nos palanques políticos de direita, esquerda e todas as vias entre elas. Justamente aquilo que tentara evitar.
Não à toa, na tarde desta quinta-feira (20), ela se posicionou de maneira mais veemente e sem margens para ambiguidade de maneira contrária a Bolsonaro. Orientada, talvez, por sua assessoria de comunicação que ela já estava acomodada no centro de um debate político que tanto tentou evitar e que já não mais se esquivaria de certo prejuízo mercadológico.
De toda forma, a maior popstar do Brasil atuou nos seus termos. Afastou-se do confete eleitoreiro que as redes sociais se transformaram e expôs alguns de seus critérios políticos que entregam que Bolsonaro não é seu candidato. Talvez não seja o suficiente para reaver uma descontentada fatia de seu público na comunidade LGBTQ +, mas essa não deveria nem mesmo ser uma questão posta.
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Cerco a Anitta
Não é de hoje que os fãs se sentem no direito de interpelar, cobrar e desaprovar postura, opiniões e relações de seus ídolos . Com Anitta, pela visibilidade e por seu tamanho artístico e comercial, essa realidade já estava um pouco mais exacerbada.
É compreensível a demanda de parcela de seu público LGBT a respeito de Bolsonaro. Cantoras como IZA e Pabllo Vittar se posicionaram frontalmente contra o candidato e nos EUA são muitos os exemplos de cantoras com larga aceitação na comunidade, como Madonna, Lady Gaga e Britney Spears, levantando suas vozes contra políticos homofóbicos.
Mas em um democracia plena não se vê o que se viu acontecer com Anitta. A agressividade do movimento que se organizou contra ela nas redes sociais extrapola todas as definições de bullying. Trata-se de uma postura facista e sectária. Se este não é um caso isolado, é o exemplo mais vívido, midiático e contundente de que há algo de errado no Brasil.
Nessa era da pós-verdade e de baíxissimo nível de tolerância à divergência preocupa a maneira truculenta e cheia de virulência com que questões são postas e encaminhadas. A cantora, no que lhe cabia, administrou bem toda a celeuma e evitou o quanto pôde participar do tabuleiro político - todos têm direito de participar ou não de acordo com sua consciência.
Suas pretensões e compromissos comerciais, no entanto, preconizam certo grau de concessão - o que o vídeo desta tarde claramente representa - e tornam o quadro eleitoral ainda mais convulsionado.
Anitta , assim como tantos outros, tem dificuldade de se situar em um mundo em constante transformação e em um Brasil cujas complexidades e miudezas tornam seu futuro um indevassável breu.