A busca pela plenitude é trôpega e desorientadora e filmes como “Gente de Bem” – The Land of Steady People no original, revelam a maneira desencontrada e aflitiva com que nos lançamos nessa jornada.

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Ben Mendelsohn e Edie Falco em cena de Gente de Bem
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Ben Mendelsohn e Edie Falco em cena de Gente de Bem

No cinema de Nicole Holofcener , a angústia existencial dita os passos das personagens. Foi assim em “Amigas com Dinheiro” (2006), “Sentimento de Culpa” (2010), “À Procura do Amor” (2013) e assim o é em “Gente de Bem” . Diferentemente dos outros filmes, porém, aqui o ponto de vista é masculino e representa uma excelente oportunidade para a cineasta, também roteirista, exercitar novas vozes e sensibilidades.

O filme começa com Anders ( Ben Mendelsohn ) tentando se ajustar a sua nova realidade. Operador bem sucedido do mercado financeiro, ele resolve se aposentar – e se divorciar. Tudo parte de um movimento em busca de sua felicidade. Cumpridas essas etapas, Anders se encontra em um incômodo lugar de despertencimento. Não só não se sente realizado, como sente que deixou de ser uma referência para aqueles que importam em sua vida. É do desenvolvimento prático, mas também íntimo, dos conflitos interpostos por essas circunstâncias, que o filme se alimenta.

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Ainda que o foco esteja em Anders, Nicole Holofcener também adentra os anseios e angústias dos outros pilares daquela família remodelada. O filho Preston (Thomas Mann), recém-saído de uma reabilitação para dependentes químicos precisa emplacar na vida e em alguma profissão, a ex-mulher Helene (Edie Falco) engatou um romance com um conhecido de Anders e isso está mexendo com ele mais do que deveria.

A galeria de personagens é inspirada e proporciona ótimos momentos. O roteiro é muito feliz ao tangenciar pequenos dramas cotidianos como alusões de conflitos muito maiores. Há uma cena, por exemplo, em que Anders broxa – uma constante nessa nova e conturbada fase de divorciado – e olha para um livro de autoajuda na cabeceira de sua compania. “O que há com as mulheres e esses livros”?

A exclamação gera protestos, mas é sintomática do estado de penúria emocional do protagonista que rapidamente cai em si em relação a grosseria que acabara de cometer. A cena, no entanto, além de expor eficazmente uma vulnerabilidade masculina é reveladora de como homens e mulheres lidam de maneira distinta com seus fantasmas.

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Ben Mendelsohn em estado de graça

Ben Mendelsohn em cena de Gente de Bem: arrebatador
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Ben Mendelsohn em cena de Gente de Bem: arrebatador

Grande parte da força do filme deriva da atuação delicada e corajosa de Ben Mendelsohn. Um ator capaz de calibrar emoções tão complexas e contraditórias com a destreza de um artesão e a sutileza de uma bailarina. É um trabalho admirável no todo e nas partes.

“Gente de Bem” , exibido no último festival de Toronto e disponível na Netflix desde o último dia 14, é uma das pequenas joias do cinema independente americano em 2018.

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