Com o Brasil como um de seus principais polos de consumo, a Netflix compreensivelmente resolveu apostar maciçamente na produção de conteúdo brasileiro e o momento é empolgante para os artistas e fãs de séries nacionais. Depois de “3%” e “O Mecanismo”, “Samantha!” chega à plataforma de streaming nesta sexta-feira (6).
A série acompanha a história de uma ex-celebridade mirim dos anos 80 que tenta de tudo para voltar ao estrelato, enquanto seu marido, uma ex-estrela do futebol, volta para casa depois de passar mais de uma década na prisão. "Samantha!” se esmera no formato de sitcom e é constituída por sete episódios nessa primeira temporada.
Criada e produzida por Felipe Braga , Rita Moraes e Alice Braga, que faz uma participação pequena, a série investe na característica mais marcante das produções originais da Netflix, seu DNA global. O que pode parecer uma vantagem causa estranheza no episódio piloto que parece espremido por tantas referências e demandas criativas e comerciais.
Há a preocupação de mostrar diversidade e tolerância às diferenças, mas se a série assume um escopo progressista e liberal no discurso, narrativamente se arranja de maneira conservadora. O humor tem pouco oxigênio nesse primeiro episódio, com exceção feita às cenas de Daniel Furlan, que faz o empresário canastrão da protagonista.
Aos poucos o humor vai sendo mais bem azeitado à maneira que os roteiristas estabelecem os parâmetros para sátiras mais bem urdidas, ainda que em sua maioria óbvias. É no quarto episódio, o melhor da 1ª temporada, que o programa parece dizer realmente a que veio.
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É quando a personagem Layla (Lorena Comparato), uma digital influencer, é introduzida. A relação dela com Samantha ( Emanuelle Araújo ) é o grande acerto, do ponto de vista dramático, da série.
A trama e os personagens de “Samantha!”
A cada episódio, a série mostra uma maneira criativa, e um tanto cara de pau, de Samantha tentar se acomodar na fama novamente. A primeira tentativa é bancar o casal com Dodói (Douglas Silva), ex-jogador do Flamengo que sai da prisão disposto a reconquistar seu espaço no convívio familiar. Samantha é resistente a princípio, mas acaba percebendo na dinâmica de casal uma maneira de se manter na mídia.
Reality shows como o musical “The Voice” ou o familiar “The Kardashians” são satirizados em meio às tentativas de Samantha de reencontrar seu status de celebridade.
A dinâmica familiar, que ainda conta com as crianças Cindy (Sabrina Nonato) e Brandon (Cauã Gonçalves) funciona e por vezes lembra a de comédias americanas como “My Wife and Kids”, “According to Jim” e congêneres.
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Conforme a trama avança, o humor de “Samantha!” vai ficando mais encorpado e a série começa a exibir tons de drama. A fruição de gêneros a deixa mais bem resolvida e, ainda que o desfecho seja previsível, a maneira como se dá o enobrece. O gancho para o segundo ano é oportuno e compatível com a verdade da personagem e acena tanto para uma realidade, como para uma sátira, mais aguda e intransigente.