Ao terminar a sessão de “Sicário: Dia do Soldado” fica a sensação indesviável de que estamos diante de uma nova e inusitada franquia, mas uma com fôlego e estofo dramático para existir e se justificar. A sequência do elogiado filme de Denis Villeneuve, uma das boas surpresas de 2015, é um filme menos complexo e mais bem resolvido, mas que ruma em outra direção.
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Sem Emilly Blunt, que foi a fiadora da audiência na introdução daquele universo amoral e corrosivo do combate ao tráfico de drogas, o agente da CIA Matt Graver (Josh Brolin) e o operativo colombiano Alejandro (Benicio Del Toro) assumem o protagonismo da ação e do elemento humano, que surge mais bem dimensionado em “Sicário: Dia do Soldado” .
Escala de horror
O filme começa com homens-bomba se detonando em pleno solo norte-americano. Investigações preliminares apontam o envolvimento de carteis mexicanos na facilitação do acesso desses terroristas aos EUA. Acuado, o governo dos EUA decide agir para desestabilizar a cadeia de comando dos carteis mexicanos. É a senha para que Graver saiba fazer o que faz melhor. Jogar o jogo sujo dos bastidores.
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Ele convoca Alejandro e monta um time de elite de mercenários para sequestrar a filha de um barão das drogas. A ideia é acirrar as tensões entre os cartéis para que seja possível desestruturá-los. O plano, claro, sofre avarias e em uma bela cena envolvendo sua superior imediata na CIA, vivida por Catherine Keener, Matt desabafa: “Você queria um Afeganistão. Aí está”.
O grande mérito da sequência, algo que se deve muito ao bem desenvolvido roteiro de Taylor Sheridan, é a maneira como estrutura a relação de Matt e Alejandro com o universo que habitam. Matt é obsessivo com o combate às drogas e naturalmente se ressente sempre que o humor político lhe priva de certas possibilidades, mas em “Dia do Soldado” ele dá sinais de estafa. Já Alejandro protagoniza uma das cenas mais bem urdidas do filme. Quando a esmo e sem rumo no deserto se depara com um homem surdo. A empatia que surge naquela cena agiganta filme e personagem de maneira irreversível.
O dia do Soldado
Mas “Sicário” é um filme sobre o absurdo e as contradições inerentes de uma guerra pautada por interesses circunstanciais. Aleatório, oportunidade e planejamento se chocam com violência absurda no longa e o personagem de Del Toro é o maior exemplo disso. É ele, ainda, e seu desfecho cheio de reticências no filme que habilita “O Dia do Soldado” do título.
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Sem fazer concessões e com uma veia gore que alude ao horror tanto das fronteiras como dos gabinetes, “Sicário: O dia do Soldado” é um filme tão irascível quanto o mundo que se esforça para radiografar. O cineasta Stefano Sollima, da série italiana sobre máfia “Gomorra”, entende o conceito ensejado pelo filme de Villeneuve e o expande com método e atmosfera.