Não é nenhuma novidade que o cinema de horror é o principal celeiro criativo da Hollywood de hoje e, neste cenário, uma produção como “Hereditário”, exaltada pela crítica desde que despontou no último festival de Sundance, é muitíssimo bem-vinda.
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Original, bem filmado e com um tempo bem particular, o filme de Ari Aster, também responsável pelo roteiro e estreante em longas-metragens, é uma construção capciosa de clima e atmosfera como raramente se vê no gênero atualmente, mas “Hereditário” é, também, uma obra refém da megalomania (e talvez excesso de liberdade) de seu criador.
Há a deliberada opção de sonegar à plateia a raiz dos problemas que acometem Annie (Toni Collette) e sua família. Quando a conhecemos, seu marido Steve ( Gabriel Bryne ) e seus dois filhos Charlie (Milly Shapiro) e Peter (Alex Wolf), o luto está assentado sobre a família. A mãe de Annie morreu.
Aos poucos vamos descobrindo que ela não se dava bem com a mãe e não sabe exatamente como processar aquele momento histórico que vive. Sua filha Charlie parece ter algum tipo de desordem mental. Logo descobrimos que distúrbios mentais são recorrentes na família e Annie se ressente dessa condição.
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Aster trabalha intuitiva e estrategicamente com a ideia híbrida de transtornos dissociativos e linhas espíritas para construir uma tensão que vai ficando mais rígida conforme a trama avança. Mas ele estica mais do que necessário esse argumento e articula um desfecho frustrante que enfraquece toda a etimologia de medo e apreensão que havia erguido até então. A força narrativa do filme se esvai em um final cuja trivialidade rivaliza com a singularidade dos arranjos que o precederam.
Apesar de descarrilhar com seu filme na linha de chegada, Aster se mostra um contador de histórias sagaz. “Hereditário” tem pelo menos três cenas de tirar o fôlego, um fato para lá de incomum em filmes do gênero e que atesta o engenho visual e argumentativo do cineasta.
Não obstante, o elenco do filme está em grande forma. A menina Milly Shapiro provoca os calafrios que precisa provocar para o devido trânsito da trama e Toni Collette está soberba como essa mulher aflita entregue a todo tipo de boia salva-vidas que jogam a ela. Gabriel Bryne, por seu turno, acerta no compasso de silêncio para fazer o personagem que encorpa o ceticismo da plateia com enfado e sofreguidão.
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“Creepy” no sentido idealizado pelo cinema de horror, “Hereditário” é um arthouse com alma de blockbuster. Característica que também pode ser encontrada em “Um Lugar Silencioso”, outro bem sucedido exemplar do gênero em 2018.