Não é fácil manter alto nível de excelência na 3ª temporada de uma série. No caso de “Billions”, o conflito entre o procurador de Justiça Chuck Rhodes ( Paul Giamatti ) e o bilionário investidor e gestor de fundos Bobby Axelrod (Damian Lewis) já estava suficientemente esgarçado. Tanto o é que o final do 2º ano apontava para um distanciamento desse que foi o mote dos primeiros episódios da série.

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Imagem promocional do terceiro ano de Billions
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Imagem promocional do terceiro ano de Billions

A 3ª temporada de “Billions” começa com Rhodes investindo tempo, dinheiro e relacionamentos na sua tentativa de chegar ao governo do estado. A aliança com Black Jack Foley (David Strathairn) está mais sólida do que nunca e seus planos de atuar nos bastidores pela condenação de Bobby parecem promissores. Já Bobby começa a temporada tendo um revés atrás do outro. O Ministério Público está cada vez mais perto de assegurar um caso consistente contra ele por manipulação do mercado e fraude financeira.

Mas a grande sacada de Brian Koppelman, David Levien e Andrew Ross Sorkin, os produtores responsáveis pelo show, foi conduzir a série contra as expectativas de sua audiência. No sétimo episódio do ano, “Not You, Mr. Dake”, digno de season finale em qualquer boa série, há um rearranjo com uma aliança inesperada entre Chuck e Bobby, fecundada por Wendy (Maggie Siff), que neste 3ºano ganha carga dramática e fica ainda mais falível e humana.

Aliás, a terceira temporada da série é mais de Wendy do que de Bobby ou Chuck. A primeira foi mais de Bobby, o sedutor tubarão do mercado financeiro. A segunda, de Chuck, o procurador ambicioso e sem medo de fazer valer o ditado de que “os fins justificam os meios”. Já o terceiro ano dá uma gravidade de Lady Macbeth para Wendy. Tanto em seu contexto familiar com Chuck, como em sua vertente profissional com Bobby.

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Pupilos x mestres

Bobby Axelrod: um olho no gato e outro no peixe na 3ª temporada
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Bobby Axelrod: um olho no gato e outro no peixe na 3ª temporada

Com o arrefecimento da animosidade entre Bobby e Chuck era preciso encontrar nêmeses para ambos os protagonistas da série. O respaldo a essa necessidade narrativa, no entanto, já era bem engendrado desde o começo do 3º ano. O chefe do Ministério Público Waylon ‘Jock’ Jeffcoat é o tipo de animal político que gosta de afirmar sua autoridade e Chuck já havia demonstrado reagir mal a esse tipo de personalidade. Não dá outra. O que começa como uma rusga por causa de um caso de violência policial logo vira uma richa de estatura semelhante a que ele tinha com Bobby. Só que agora com um homem capaz de neutralizar sua eficiência e até mesmo demiti-lo.

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Não ajuda o fato do incorruptível Bryan Connerty (Toby Leonard Moore) se incomodar com a liberdade criativa com que Chuck vem atuando em seus casos. Os flancos expostos, vale lembrar que Chuck começa a temporada focado em concorrer a um cargo político, são uma nova realidade para o anti-herói mais consumado da série .

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Wendy é a grande protagonista do terceiro ano de Billions. Sua personagem ganha relevo e dramaticidade nos novos episódios

Já Bobby age para manter Taylor (Asia Kate Dillon) no status de pupila prodigiosa, mesmo depois de tê-la confiado o controle da empresa enquanto ele não podia atuar no mercado financeiro. Não é uma tarefa fácil e pode  precipitar um movimento sem volta.

É da fruição dessas ambiguidades que “Billions” se articula na metade final da ótima 3ª temporada e apresenta dividendos entusiasmantes.

John Malkovich faz uma participação nos últimos episódios como um mafioso russo a quem Bobby recorre para recapitalizar rapidamente sua empresa. É uma jogada arriscada que Bobby parece não antecipar todas as possíveis variáveis. Malkovich agrega valor com seu Grigor, um entusiasta de metáforas francamente assustador. Sua relação com Bobby é um dos pontos altos do final da temporada.  Temporada esta que recebeu outras participações especiais, como do jogador de basquete Kevin Durant e da tenista Maria Sharapova.

No topo do jogo

Chuck encontra um rival que se blinda dentro das engrenagens do sistema de Justiça
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Chuck encontra um rival que se blinda dentro das engrenagens do sistema de Justiça

A inteligência do roteiro continua como o trunfo definitivo de “Billions”, ainda que o elenco mantenha o nível das atuações lá em cima. A maneira orgânica como as viradas se dão denota não só esmero, mas engenho da equipe criativa da série. O episódio final, regado a adrenalina, leva a série para outro lugar.

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A quarta temporada terá um horizonte límpido, mas “Billions” impõe a si mesma um desafio ainda maior: redefinir a estrutura da série, sem perder de vista o apelo dos conflitos (e antagonismos) nos principais corredores do poder.

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