Um juiz aposentado e viúvo, afastado dos filhos, resolve virar sócio de uma boate de strip-tease da qual é vizinho. Os ingredientes do filme de Tiago Arakilian servem tanto ao drama como à comédia e “Antes que eu me Esqueça” trafega com certa desenvoltura entre esses gêneros trabalhando certo lirismo no desenho da velhice.

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Cena de Antes que eu me Esqueça, que estreia nesta quinta-feira (24) nos cinemas brasileiros
Patrick o`malley
Cena de Antes que eu me Esqueça, que estreia nesta quinta-feira (24) nos cinemas brasileiros

José de Abreu faz Polidoro, esse juiz aposentado que faz questão de ser chamado de doutor e se apresenta com rigidez, no raciocínio e na postura. Para uma figura como essa, admitir que a mente esteja enferma seria algo muito dolorido. “Antes que eu me Esqueça” é, em um primeiro momento, sobre as demandas de Polidoro em um foro essencialmente íntimo. Mas é, também, sobre como tratamos nossos velhos e, ainda, uma crônica familiar tenra e emocionante.

Conjugar todos esses elementos não é uma tarefa tão simples quanto se imagina e justamente por isso o elenco precisa estar afinado e é o caso aqui. José de Abreu se apropria de Polidoro com gosto e convicção. Danton Mello vive Paulo, o filho músico frustrado que está afastado do pai desde o “tetra”, e Letícia Isnard interpreta Bia, a filha que decide mover uma ação para interditar o pai e que recebe do espectador a injusta pecha de vilã.

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A honestidade com que Arakilian trata seus personagens é pulsante e reforça o caráter humanista de seu filme. A boate de strip não surge como um fetiche ou uma tara, mas como um lugar de afeto. Há algo de onírico na composição da mise-en-scène e essa percepção é reforçada pela presença de Dedé Santana como um senhor que habita esse universo particular que é Copacabana (o bairro com mais idosos do Rio de Janeiro) que se intriga com a empreitada de Polidoro.

Danton Mello e José de Abreu em cena do delicado Antes que eu me Esqueça
James Patrick o´Malley
Danton Mello e José de Abreu em cena do delicado Antes que eu me Esqueça

A delicadeza do registro lembra “Chega de Saudade”, outra crônica do cinema brasileiro sobre a terceira idade, lançada por Laís Bodanzky em 2008, mas o filme de Arakilian se resolve também como um drama familiar robusto e cheio de reminiscências.

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Há, ainda, a presença luminosa de Guta Stresser, que faz Joelma, uma nordestina que trabalha na boate e é uma das pessoas que mais rapidamente se afeiçoa a Polidoro. Sem papas na língua, a personagem responde pelos momentos de graça mais genuínos que surgem no longa.

“Antes que eu me Esqueça” é um filme que fala de carências. Todos os personagens, de alguma maneira, se debatem com um vazio incômodo. A maneira solar como o filme aborda questões inerentes à vida de todos, o configura como uma produção distinta no contexto do cinema brasileiro e muito recomendável também por isso.

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