A 2ª temporada de “Jessica Jones” mantém os elementos que garantiram que o primeiro ano fosse uma experiência tão bem sucedida. A criadora Melissa Rosenberg soube manter a perspectiva feminina não só como Norte, mas como bússola do programa que flagra sua protagonista, vivida com o mesmo esmero de devoção por Krysten Ritter , entregue à angústia e à comiseração.
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Jessica Jones não se sente bem na própria pele. Esse sentimento sempre norteou escolhas duvidosas pelas quais ela constantemente se sente na necessidade de se penalizar. No novo ano um espelho negro, para fazer uma analogia com a cult “Black Mirror”, se erguerá e fará com que a personagem enfrente não só fantasmas do passado como uma questão premente para qualquer ser humano em algum momento de seu amadurecimento: quem sou eu e como eu quero me apresentar para o mundo e aqueles que se importam comigo?
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A segunda temporada se desenvolve a partir do gancho inserido no final da primeira com aquele arco envolvendo Simpson (Will Traval), que virou uma espécie de supersoldado após alguns experimentos do Exército. O passado de Jessica pode ter relação com o que quer que tenha acontecido com Simpson. Resistente a princípio, ela se lança na investigação após Trish (Rachel Taylor) muito insistir e de maneiras diferentes. A protagonista terá que lidar com uma figura muito peculiar e que lhe parece muito familiar. Janet McTeer, indicada ao Oscar duas vezes, vive essa mulher que enseja reflexões profundas em Jessica.
Subtexto poderoso
A antagonização entre masculino e feminino, um dos trunfos da série, segue potente e vital em diversas frentes. As metáforas estão todas lá. Os vilões são homens abusadores que não sabem ouvir "não" e têm fetiches por dominar uma mulher. No primeiro episódio há até mesmo um diálogo verbalizando essa noção que a temporada desenvolve com tanta assertividade. Mas os conflitos que se dão no universo do feminino também ganham relevo em “Jessica Jones” e ajudam a dimensiona-la como uma série mais robusta e criativa do que a pecha de “série Marvel” costuma ofertar.
Nesse sentido, o arco envolvendo Jeri Hogarth, a poderosa advogada corporativa interpretada por Carrie-Anne Moss, é providencial e desponta como o melhor aspecto dos cinco primeiros episódios do 2º ano, que já foram assistidos pelo iG . Vitimada por uma doença degenerativa, a personagem se debate com a perspectiva – e expetativa – de perder o controle. Logo ela, tão direta e truculenta nas vias para obtê-lo.
“Jessica Jones” mantém o bom nível dramático do primeiro ano e deixa transparecer, ao lado de outro lançamento recente da Netflix , “Altered Carbon”, que deixar séries nas mãos de mulheres pode ser um excelente e lucrativo negócio. A plataforma de streaming está, mais uma vez, à frente da curva.
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