Jennifer Lawrence é uma das raras atrizes que conseguem formatar um filme em torno de si. “Operação Red Sparrow”, que a reúne com Francis Lawrence , seu diretor nos três últimos “Jogos Vorazes”, é um thriller de espionagem muito bom. Requintado, com ótimo elenco, um ritmo oitentista, atmosfera de guerra fria, roteiro esperto e uma personagem feminina fortíssima.
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São características que mesmo astros veteranos da indústria penam para conseguir em um projeto. É inegável que “Operação Red Sparrow” tem arestas. Há manobras e desdobramentos que clamam por condescendência do público e o roteiro leva a dubiedade da espiã vivida por Lawrence ao limite (com alguns dividendos positivos e outros questionáveis), mas no geral se trata de um thriller salutar que honra o legado de bons filmes de espionagem como “Sem Saída” (1987), “O Espião que Sabia Demais” (2011), “Caçada ao Outubro Vermelho” (1990), “Munique” (2005), entre tantos outros.
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O filme tem dona
Não há margem para confusão. Apesar do elenco portentoso com Joel Edgerton , como um agente da CIA que se aproxima da espiã Dominika (Lawrence), Matthias Schoenaerts, como o tio de Dominika e vice-diretor da agência de inteligência russa, Charlotte Rampling, como a responsável pelo treinamento dos Sparrows, como são conhecidos os espiões mais refinados do programa de inteligência russo, Ciarán Hinds, como diretor da agência de inteligência russa, Jeremy Irons, como um general russo, e Joely Richardson, como a mãe de Dominika, este é um filme de Jennifer Lawrence. Um veículo sofisticado para seu talento e carisma e a atriz, como de hábito, não decepciona.
Sem pressa para evoluir
“Operação Red Sparrow” tem muitos aspectos interessantes, como a relação entre a disciplina e gana de uma bailarina – Dominika era uma bailarina de grande potencial no Bolshoi antes de um infeliz evento lhe colocar na rota da espionagem - e a de uma espiã, a relação pervertida e de abuso entre o tio e a jovem e a sexualidade como trunfo nas barganhas de poder. Há uma cena em particular, a tal cena em que a atriz surge nua, que avaliza o sexo como maior instrumento de aplicação e privação de poder.
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É o melhor filme de Francis Lawrence como diretor desde “Constantine” (2005), justamente seu primeiro. O filme se desenvolve sem pressa. O ritmo e a montagem remetem ao cinema dos anos 70 e 80, bem longe da linguagem videoclipada do cinema recente.
Oito ou oitenta
A maneira como Dominika é construída, com sua dualidade levada às últimas consequências, tanto favorece como prejudica o filme. A dúvida que paira sobre sua lealdade à Rússia e o grau de envolvimento com o agente americano que é sua primeira missão oficial é pertinente narrativamente até certo ponto. Depois, passa a incomodar, já que fica bem claro para o público o direcionamento da espiã.
Contudo, Lawrence e o roteiro de Justin Haythe (baseado no livro de Jason Matthew), recuperam o gás do filme nos 20 minutos finais com desdobramentos verossímeis e que reforçam a aura de bom filme de espionagem. Todavia, a aptidão mais natural do que se poderia supor de Dominika, e a opção por reforçar isso por meio de diálogos e algumas cenas gratuitas, do ponto de vista do desenvolvimento da trama, podem impacientar espectadores menos tolerantes a excessos hollywoodianos.
De todo modo, “Operação Red Sparrow” é um filme atraente, muitíssimo bem realizado e que prende a atenção. Por seus predicados e características, um filme que Hollywood desabituou-se a fazer, o que o reveste ainda mais de charme.