A internacionalização e a promoção da diversidade estão fazendo bem à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood e o que se vê na lista dos indicados à 90ª edição do Oscar é a preocupação por parte da Academia em ser mais inclusiva e criteriosa em relação as suas escolhas. Sim, James Franco que experimenta uma perseguição midiática à luz das denúncias de assédio sexual que pesam contra ele ficou de fora – o que revela um fato preocupante quando o talento e a arte deixam de ser preponderantes em uma escolha que deveria ser norteada por eles –, mas é sensível o esforço de abraçar a diversidade e pluralidade perpetrado pelo colegiado que já reúne cerca de oito mil membros.
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São muitos os indícios desse esforço para além de recordes pessoais, étnicos e de gênero que foram registrados na esteira do anúncio desta terça-feira (23). O maior deles é a receptividade ao cinema de gênero. Produções como “Corra!” e “A Forma da Água” dificilmente são lembradas na categoria de Melhor Filme e eles são duas das principais atrações do Oscar em 2018.
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O reconhecimento a uma produção como “Dunkirk”, que recebeu oito indicações, entre elas a primeira de Christopher Nolan entre os diretores, também merece comemoração. É um filme que propõe um espetáculo cinematográfico ímpar na produção contemporânea. É um filme de guerra radicalmente diferente do que Hollywood tem por hábito consagrar. Nessa conta ainda tem “Blade Runner 2049”, que apesar de ter ficado de fora da disputa por melhor filme, recebeu cinco indicações.
Era Trump
Um dos principais aspectos da safra 2018 é a resposta de Hollywood à era Trump. Além da esperada indicação a “Três Anúncios para um Crime”, primeiro filme a capturar com excelência a América furiosa que elegeu e reage a Trump , produções como “O Destino de uma Nação” e “The Post: Guerra Secreta” também conquistaram indicações a melhor filme. O primeiro acompanha a ação de Winston Churchill na iminência da derrota para a Alemanha nazista na 2ª guerra mundial enquanto que o segundo recria um dos capítulos mais importantes da constante luta pela liberdade de imprensa. São filmes que combinados, por mais que os dois últimos sejam também acadêmicos (no sentido de serem produções alinhadas ao gosto da Academia), expressam tanto um descontentamento como uma reação cultural às vigentes circunstâncias históricas.
Por falar em circunstâncias históricas, quatro dos cinco indicados ao Oscar de Melhor Filme são focados em personagens femininas. É a primeira vez que temos mais de dois filmes com essa característica desde que a categoria se dilatou em 2010.
Bons tempos voltaram?
Depois de um punhado de anos com o cinema independente dando as cartas no Oscar, testemunhamos o retorno dos filmes adultos de estúdio à baila. Sim, temos dois egressos de Sundance na disputa (“Me Chame pelo Seu Nome” e “Corra!”), mas “The Post”, “Dunkirk” e “O Destino de uma Nação” são produções de estúdio e os demais concorrentes na principal categoria são de braços independentes de estúdios, como “A Forma da Água” e “Três Anúncios para um Crime”, por exemplo, que ajudaram a Fox Searchlight conquistar 20 indicações e estabelecer o recorde da edição entre os estúdios.
Como fica a disputa
O fato de Martin McDonaugh, diretor de “Três Anúncios” ter ficado de fora da lista dos diretores fere as chances de seu filme. Apenas “Argo”, em 2012, e “Conduzindo Miss Daisy”, em 1990, venceram o Oscar de Melhor Filme sem ter seu diretor indicado. A distância de “A Forma da Água”, que amealhou 13 indicações, para o segundo colocado, “Dunkirk”, também impõe certo respeito. O filme de Del Toro vem cacifado pelas vitórias em Veneza, no Critic´s Choice Awards e no Sindicato dos Produtores. Há, ainda, “Trama Fantasma”, que estreou tarde e ficou de fora de algumas premiações prévias. O filme de Paul Thomas Anderson, que volta a figurar na categoria de direção dez anos depois de “Sangue Negro”, teve um desempenho muito superior ao esperado e pode ser um elemento surpreendente em uma corrida que – a esta altura – se revela ainda mais imprevisível do que se antecipava.