Com 101 episódios na bagagem e encarando uma aguda crise de audiência, inédita para o alto padrão consolidado pela série, “The Walking Dead” faria bom uso de um divã. O programa do AMC, exibido no Brasil pela FOX, vem perdendo reiteradamente espectadores (foram 2,5 milhões entre o primeiro e o segundo episódio do 8º ano) e recebendo críticas cada vez menos simpáticas.
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A série que começou como cult e atingiu incrível popularidade sempre primou pela narrativa lenta, pelo bom desenho dos personagens, pela violência indistinta e inesperada e por arcos dramáticos cheios de reverberações filosóficas e existenciais. Desde que Robert Kirkman , criador da HQ na qual a série se baseia, assumiu o controle criativo, “The Walking Dead” foi se transformando em algo muito mais previsível, monótono e amparado por truques narrativos. A impaciência que acometeu os espectadores mais calejados e exigentes de um bom material na TV, agora parece generalizada.
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Listamos cinco razões que contribuem para o mau momento atravessado pela série:
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Truques
Antes da era Robert Kirkman, iniciada na quarta temporada, “The Walking Dead” não precisava de ganchos para fidelizar sua audiência. A série se garantia em sua narrativa cerimoniosa e cheia de nuanças. A estrutura bem resolvida do programa deu vez a uma série de truques e a uma dinâmica rocambolesca. Quem não se lembra da patetada da falsa morte de Glenn (Steve Yeun)? Ou da enrolação que durou toda uma temporada até o surgimento de Negan? Alguém se lembra do que rolou de fato na quinta temporada? A série foi ficando menos memorável e mais reféns de truques e de uma dinâmica banal que a apequenaram historicamente.
Linguagem de HQ
Outra novidade da era Kirkman à frente da série é a linha pedestre adotada pela narrativa. O showrunner não entende HQ e TV como mídias diferentes e pensa ser suficiente a mera transposição de uma para a outra. Ele importa das HQs arcos completos e não se preocupa com a linguagem da TV. Resultado: diálogos sofríveis, lentidão injustificada, ação pouco imaginativa e a percepção de que a série não tem um norte.
Os personagens deixaram de ser importantes
Outra marca da nova era de “The Walking Dead” é a superpopulação de personagens. Tudo começou com o esvaziamento de importância e relevância dramática dos personagens que já estavam no ar. Michonne (Danai Gurira) nunca foi de falar muito, mas a personagem tinha potência dramática. Hoje tem o quê? Carol (Melissa McBride) teve uma curva ascendente primorosa na trama, mas hoje parece uma casca de personagem. Rick (Andrew Lincoln) é o coração da série, mas ele não está batendo bem. É uma sombra do personagem que toda fã do programa adora. O que dizer de Daryl (Norman Reedus), completamente escanteado com as HQs como parâmetro? Não obstante, pipocam novos personagens a todo tempo na trama e não há o menor cuidado em dimensiona-los. O público, claro, não poderia se engajar menos.
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Conflitos repetidos e tramas que não evoluem
Todos os conflitos que Rick viveu entre as temporadas 5 e 8, de alguma maneira ele já havia vivido antes. “The Walking Dead”, sob Kirkman, tem sérios problemas em evoluir narrativamente. Os produtores vivem prometendo mundos e fundos, mas quando os episódios chegam, testemunhamos um doloroso mais do mesmo.
Irrelevância dramática
Com oito temporadas nas costas, é preciso ter algo muito bom e relevante a dizer para evitar a fadiga. “The Walking Dead” definitivamente não tem. Os produtores falam em trinta temporadas da série, em mais um demonstração de que pensam que basta transferir o conteúdo das HQs para a TV. Embora a premissa da série admita certa longevidade, é preciso redefinir algumas coisas como atestam os problemas elencados acima.