Jorge Amado soube retratar com a suavidade e precisão a vida dos moradores da Bahia no começo do século XX. Com seus personagens que pegavam fogo, o autor não falhou em mostrar como eram os romances da época em que prostitutas e marinheiros rolavam nas areias do cais e a noite era dos malandros.
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Não levou muito tempo para que os roteiristas percebessem que as obras de Jorge Amado poderiam ter suas tramas transpostas para a televisão. Obras como "Gabriela, Cravo e Canela", "Dona Flor e Seus Dois Maridos", "Mar Morto" e "Tieta do Agreste" popularizaram ainda mais o jeito, os costumes e as crenças do povo nordestino.
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Somente na TV aberta, o autor ganhou 11 adaptações, entre novelas, séries e minisséries. Suas histórias do porto também chegaram às telas do cinema - e fizeram sucesso junto à crítica e ao público. Tantas adaptações se devem, principalmente, ao fato de que, mesmo em vida, o escritor liberava suas obras para adaptação na TV - diferentemente de outros autores brasileiros.
Soma-se a isso, suas tramas com personagens caricatos e de fácil identificação e cheias de reviravoltas. Pronto: as obras enchem os olhos de produtores e roteiristas e se tornam um prato cheio para as produções audiovisuais - tanto na TV quanto no cinema. O autor, porém, tinha um comportamento peculiar quanto as obras adaptadas: nunca quis assistí-las. Dizia que, se visse as produções, poderia mudar de ideia quanto a liberação dos direitos autorais.
Com duas fases bem marcadas, em que a primeira mostra a idealização do comunismo e ganha menos destaque entre a crítica e mesmo entre as adaptações, o autor ganhou ainda mais relevância dentro do universo audiovisual ao dar início à sua segunda fase: aquela que coloca a mulher como figura central - tanto pela força quanto pelo sexo.
E o sexo com isso?
Por sinal, o sexo também é um dos temas bastante presentes em suas obras - e isso, por si só, já merece destaque: escritos em meados dos anos 90, mostram o sexo sem pudores em uma sociedade que considera a sexualidade era um tabu. E, mais ainda, a sexulidade da mulher - que costumava ser retratada como um ser frígido e desprovido de libido ou desejo sexual.
Quando isso foi transposto para a televisão, na novela "Gabriela" (1961), da TV Tupi, ainda que de maneira não tão explicíta, causou furor e gerou dois efeitos imediatos: o choque do setor mais conservador da sociedade e a identificação das mulheres, até então, muito oprimidas sexualmente. Além disso, temas sexuais sempre costumam render audiência - tanto é que as emissoras e produtoras continuam apostando suas fichas em cenas ousadas para alavancar a audiência.
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Obviamente, não é possível afirmar que a televisão brasileira ama Jorge Amado somente por suas cenas de sexo e pelas mulheres fortes. É preciso destacar que a qualidade de sua obra, que já foi traduzida para diversas línguas, entre na soma de fatores que fazem do autor um sucesso na mídia audiovisual, bem como a forma que o próprio autor se apaixonava pelos personagens, traduzindo isso em genuínas obras de arte, que convidam o espectador a adentrar no microcosmo baiano e perder-se entre noites de jogos, saveiros e gritos de prostitutas no areial.