Preguiça e festa, para o brasileiro, são palavras que nunca poderão estar na mesma frase. São João, por exemplo, saiu do Nordeste e espalhou os quitutes e os grupos dançando quadrilha pelas mais diferentes regiões e, além de entreter as pessoas com momentos inesquecíveis de diversão, essas festas são entusiastas indiscutíveis da cultura brasileira e, acima de tudo, nordestina. Nesse sentido, como é que dá para esquecer da música Asa Branca, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, uma das principais faixas na trilha sonora desses eventos tradicionais?
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É mais do que necessário lembrar que eventos tradicionais como festas juninas não só divertem, mas também evidenciam a importância de verdadeiros símbolos culturais do País enquanto expressão do povo que ocupa essas terras tropicais. Entre esses símbolos, está a canção Asa Branca, que faz 70 anos agora em 2017 e, mesmo depois de sete décadas, continua congelada como uma música que é um verdadeiro ícone de representatividade nordestina.
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Dia 3 de março de 1947. Para uns, pode ser uma data como qualquer outra, mas para Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira essa junção de números e letras marcam um momento mais do que inesquecível em suas vidas. Era nesse dia, há 70 anos atrás, que os músico gravavam em solo carioca a primeira música que vem à cabeça quando o assunto é cultura nordestina. Sem querer deixar um momento tão significativo passar em branco, é que o iG Gente resolveu exaltar a importância da composição desses dois ícones para o Brasil e, acima de tudo, para o povo do Nordeste.
A música
Falar de Asa Branca é falar de um verdadeiro símbolo da música popular do Brasil quando nos permitimos olhar para o panorama geral da expressão cultural no país. Depois de composta, a canção de choro regional alcançou proporções de sucesso e representatividade para o povo nordestino, com certeza, jamais pensadas por Luiz e Humberto, seus compositores.
Muitos admiradores de Luiz Gonzaga com certeza devem perguntar a si mesmos o que é que inspirou a ele e a Humberto Teixeira a escrever a letra de Asa Branca, e essa é uma das respostas que o iG Gente vem dar.
Por conta do contexto de seca muito comum na região do Nordeste brasileiro, Luiz e Humberto usaram o nome da ave Asa-branca para nomear a canção e a partir daí tecer a temática da música, que diz que a seca é dona de um poder tamanho e, por meio dele, pode fazer até mesmo com que o pássaro busque outro habitat, assim como afastar um homem qualquer de sua região o fazendo mudar para outra – ainda que esse prometa voltar, um dia, para os braços de sua amada. Relembre a letra:
Quando olhei a terra ardendo
Igual fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
Que braseiro, que fornalha
Nem um pé de plantação
Por falta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Até mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
Depois eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
Depois eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
Hoje longe, muitas léguas
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim voltar pro meu sertão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim voltar pro meu sertão
Quando o verde dos teus olhos
Se espalhar na plantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu voltarei, viu
Meu coração
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu voltarei, viu
Meu coração
Influência na MPB brasileira
Após o lançamento da canção feito em 1947, duas versões a consagraram como um sucesso. A primeira foi gravada pelo próprio Luiz Gonzaga em forma de toada, um gênero cantado sem forma fixa de caráter melodioso e com letras normalmente curtas e narrativas, podendo ser de teor amoroso, lírico ou cômico. Já a segunda, foi gravada em forma de baião e responsável por introduzir o gênero para o povo brasileiro (que pode conhecê-lo, também, por forró ou xote).
A música gravada pela segunda vez foi lançada ao mercado fonográfico em 1950 e, a partir daí, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira foram responsáveis por ressignificar gêneros musicais nordestinos e a própria história de seu povo para o restante do Brasil que, finalmente, pode conhecer ritmos musicais expressivos vindos da região que fica em um dos extremos do País.
Luiz Gonzaga
Quando se pensa em Luiz Gonzaga, não é segredo para ninguém que o cantor e compositor representa uma figura mais do que expressiva quando o assunto é música brasileira e cultura nordestina, no entanto, é preciso lembrar mais traços extremamente importantes da trajetória construída em vida por esse músico pernambucano.
Nascido em 13 de dezembro de 1912, Luiz Gonzaga do Nascimento ficou conhecido não só por conta de seu nome de fortemente expressivo, mas também por seus feitos durante sua carreira: Rei do Baião, Majestade do Baião, Rei Luiz e Gonzagão são apenas algumas das alcunhas ganhadas pelo músico ao longo da vida, que chegou ao fim no dia 2 de agosto de 1989, quando morreu aos 76 anos.
Em mais de sete décadas vividas, Luiz Gonzaga conseguiu, com músicas como Asa Branca (1947), Baião (1946), Siridó (1948), Juazeiro (1948), Baião de Dois (1950) e muito mais músicas, resgatar a atenção do povo brasileiro para a forte resistência dos nordestinos, eternos soldados na luta para sobreviver em uma das regiões mais secas do Brasil.