É devagar, devagarinho, que Martinho da Vila chegou com a sua voz suave e seu bom humor conquistando diversas gerações no país com o seu samba . Não é à toa, portanto, que o músico veio ao mundo em fevereiro de 1938, o mês do carnaval, uma das datas festivas que tornou-se uma das suas grandes paixões e pela qual se dedicou durante toda a vida – e que ainda o faz colocar o samba no pé. Com 80 anos chegando em 2018, o músico celebrará não só o seu aniversário, mas também o fato de que será o protagonista do desfile da escola de samba paulista Unidos do Peruche , que elegeu sua história de vida para compor o samba-enredo de 2018.

Martinho da Vila celebra ser tema de samba-enredo no carnaval de 2018
Divulgação
Martinho da Vila celebra ser tema de samba-enredo no carnaval de 2018


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“Eu já fui homenageado muitas vezes, mas pelo Peruche eu nunca fui”, comenta Martinho da Vila aos risos em entrevista ao iG . “Já fui homenageado dentro de enredos, mas não era o central. Agora eu estou inteiro no Peruche e isso é muito emocionante. Vai ser bem bonito”, completa o cantor que afirma estar acompanhando a preparação da escola de samba e que prevê um belo desfile chegando na Anhembi no próximo ano. Apesar da sua escola de coração ser a carioca Vila Isabel, onde construiu uma trajetória longa de dedicação, assinando vários sambas-enredos, inclusive o que garantiu à escola o título no Grupo Especial em 1988, é com a bateria da Unidos do Peruche que o sambista vai subir no palco no próximo final de semana. Trazendo um repertório que mescla músicas inéditas do seu mais recente trabalho, “De Bem Com a Vida” (2016) com os grandes hits da sua carreira, o show acontecerá na Casa Natura Musical, nos dias 22 e 23 às 22h e o cantor já adianta: “vai ser tudo de primeira linha”.

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Enquanto se prepara para o carnaval fora de época, Martinho da Vila aproveitou para celebrar o samba ao lado de companheiros musicais como Alcione, Criolo, Monarco, Jorge Aragão, Roberta Sá e Mart’nália, sua filha, no Palco Sunset, do Rock in Rio, na última sexta-feira (15). “É um evento como outro qualquer para mim, mas cada evento tem sua importância”, comentou o artista. Fazendo a sua terceira participação no festival – tendo sido a primeira em 2010 na edição portuguesa do evento e a segunda em 2011 ao lado do rapper Emicida e da banda Cidade Negra – o cantor celebra o momento atual da música. “Pensar quase todo mundo odiava música brasileira, samba principalmente e hoje as pessoas se respeitam é muito legal. E o Rock in Rio fazer uma abertura do evento com uma homenagem ao samba é muito importante para a música brasileira, para a música de maneira geral”, comenta o cantor em referência ao show “Salve o Samba!”.

Em um cenário em que o carnaval carioca sentiu na pele ameaças este ano, com o anúncio da prefeitura da cidade do corte de verbas para o evento em 2018, Martinho da Vila permanece esperançoso sobre a volta por cima. “A história do samba é uma história de vitórias, perseveranças, tanto é que o samba entrou no Rock in Rio”, opina o cantor. “A escola de samba era uma coisa só de favelado, de negros. Foi crescendo e hoje é um programa. O prefeito é mal informado sobre a função dele, sobre a cidade e o que representa financeiramente a escola de samba e como ela colabora com a cidade”, critica o cantor em referência a o atual prefeito Marcelo Crivella, que anunciou a decisão em junho deste ano.

Compondo nos dias de hoje

Como bem indicou a exaltação do samba, estilo de música muito tempo considerado marginal, em um dos principais festivais de música do mundo, os tempos são outros. E disso Martinho da Vila não tem dúvida. Como compositor, o cantor sofreu diversas críticas no passado por um dos seus principais trabalhos, Você não passa de uma mulher. “O compositor, o escritor, o artista de maneira geral sofre influência do meio, do que tá acontecendo, do que ele tá pensando naquela época. Então o tempo vai mudando, as coisas vão mudando, as cabeças vão mudando”, afirma o cantor que acredita que “só um artista do passado que pensava aquelas coisas”. Para ele, ainda há poucas compositoras mulheres, o que reflete as decorrentes polêmicas em referência às músicas machistas no universo da arte.

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Embaixador da Boa Vontade

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Reprodução/Facebook

Alem de se dedicar à música, o cantor é embaixador da Boa Vontade em organização

Paralelamente ao carnaval, ao samba no palco, Martinho da Vila ainda arranja tempo para causas mais nobres. Pequeno Burguês, o cantor tem que enfrentar as dificuldades da vida de universitário como descreve na sua canção, mas, para ele que já está no sexto período, o esforço é para algo maior. “Eu sou embaixador da Boa Vontade da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e tenho funções diplomáticas. De diplomacia já entendo bastante, todo artista de uma maneira ou de outra pratica isso. Eu precisava era entender bastante da história das relações internacionais, porque eu faço muita palestra sobre relações diplomáticas, sobre o Brasil e a África, então eu tenho que entender de história para falar sobre o hoje”, conta o cantor que acredita que o que deve motivar alguém a se inserir no universo acadêmico é o conhecimento, e não o diploma.

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Na faculdade, o cantor ressalta que tem uma vida normal. “No passado tinha um perfil só jovens - e só jovens da classe privilegiada grande maioria. Hoje já não. Na minha sala de aula tem gente de todas as idades porque há pessoas que já fizeram outras faculdades e tão fazendo a segunda, já tem mais idade e tem membros de programas de financiamento que foram instituídos nos últimos anos, isso facilitou que outras pessoas de poder aquisitivo menor fossem pra faculdade”, comenta o cantor. “Antes a porta de saída de uma universidade era um desfile de carros, hoje tem gente que mora longe, que vai de ônibus. Mistura tudo, tá muito bom”, completa o cantor.

Os planos de Martinho da Vila, entretanto, não param por aí. O cantor também afirmou que tem um disco vindo por aí em homenagem à Vila Isabel. Segundo o sambista, o álbum já está praticamente pronto, só falta decidir quando será o lançamento dessa nova obra que promete deixar todo mundo com o samba no pé.

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