A década já era 1980, mas os acordes pesados das guitarras e a bateria frenética do punk rock que tinham atingido o seu auge nos anos anteriores ainda ecoavam na mente dos jovens. Em tempos de ditadura militar e com os preços altos para se comprar discos internacionais no País, o gênero chegava tímido no Brasil , mas com músicos que não hesitavam em se debruçar naquele novo som. Entre eles, estava o Aborto Elétrico, formado por Fê Lemos, Renato Russo e André Pretorius. No movimento do rock de Brasília, a banda fez o Distrito Federal balançar, até a sua separação, que resultou, mais tarde, na criação de uma das bandas mais icônicas do País: o Capital Inicial.

Capital Inicial se prepara para mais um show no Festival Rock in Rio este ano
Reprodução/Facebook
Capital Inicial se prepara para mais um show no Festival Rock in Rio este ano


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Não é à toa, portanto, que a banda despontou na segunda edição de um dos maiores festivais do mundo, o Rock in Rio e desde então nunca mais parou de se apresentar no evento.  O Capital Inicial subiu ao palco do festival pela primeira vez no dia 26 de Janeiro de 1991 depois de já ter rodado o país com o cantor inglês Sting em 1987 e do festival Hollywood Rock na capital paulista e carioca.

O cenário era de grandes mudanças, para uma banda que já tinha tido sua fase de auge e agora esfriava o seu rock. A gravadora mudou, o som já não era mais focado nas guitarras e, apesar das altas expectativas, não foi uma das melhores, já que tiveram diversos problemas com o som e um repertório que não fez jus a sua história. Não foi a toa, portanto, que logo no ano seguinte a banda perde um membro e, em 1993, o vocalista Dinho Ouro Preto abandona o projeto para seguir carreira solo – a qual também não obteve muito sucesso.

Os anos foram passando e a banda se reuniu tempos depois para comemorar os 15 anos de formação da banda e os 20 anos do rock brasiliense. Com a formação original, os quatro integrantes Dinho Ouro Preto, Loro Jones, Fê Lemos e Flávio Lemos embarcaram em um reencontro com os fãs trazendo faixas do inicio da carreira e no mesmo ano veio um novo álbum: “Atrás dos Olhos”. De volta ao mercado, Capital Inicial vem com o Acústico MTV do seu trabalho, cujo lançamento aconteceu no mesmo ano de sua segunda participação no Rock in Rio, em 2001.

No dia 21 de janeiro daquele ano, a banda divida palco com Deftones e Red Hot Chilli Peppers em uma apresentação que fez com que os músicos se redimissem do fiasco na edição anterior. Mais maduros, a sua aparição no festival, entretanto, veio de última hora, depois de um boicote das bandas nacionais ao festival, que não concordavam com o suposto favorecimento às bandas internacionais no evento. Dessa vez, os músicos vinham com repertório bastante diversificado que, mais tarde, também faria parte do Acústico MTV. A escolha, por sua vez, fez com que o público de 250 mil pessoas sentisse a nostalgia do bom e velho Rock Brasília.

Novos tempos

Apesar da recuperação que o Capital Inicial então enfrentava naquela época, Loro Jones acaba saindo da banda em 2002 alegando excesso de trabalho. O posto, por outro lado, passa para Yves Passarel, da banda Viper que ao lado do reencontro dos músicos rendeu à música brasileira muitos frutos nos anos seguintes: “Rosas e Vinho Tinto”, “giGAntE!”, “Eu Nunca Disse Adeus” e “Das Kapital”, em 2010, um ano antes de retornarem ao festival, que naquele ano teria entrado para a história por ter esgotado todos os seus ingressos em apenas quatro dias após a abertura das vendas. Na época, a banda passava por uma fase que cada vez mais se distanciava daquela veia roqueira dos anos 1980 e assumia o seu lado pop, característica que mais tarde se comprovaria na nova edição do Rock in Rio.

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Dinho Ouro Preto durante apresentação do Capital Inicial no Rock in Rio de 2011

Com a volta do festival para o Brasil, depois de dez anos, o Capital Inicial realizou um show energético suficiente para contemplar os anseios do público que aguardava por mais uma edição do evento há tempos no País. Hits emblemáticos fizeram mais de 100 mil pessoas soltarem a voz na Cidade do Rock, como foi o caso de Natahsa . O evento também teve homenagens póstumas, como foi o caso do filho de Cissa Guimarães, que era fã do Red Hot Chilli Peppers e faria 20 anos na data do evento e mesclou as baladas da banda com as músicas mais pesadas, incluindo aquelas de tempos do “Aborto Elétrico” como também releituras de clássicos do punk, como da banda The Clash. A participação deste ano do Capital Inicial mais uma vez consagrou a banda como uma das mais significativas do País e rendeu aos fãs um DVD da passagem dos músicos no evento.

Dois anos mais tarde, em 2013, quando “Saturno” já tinha sido lançado e recebido elogios da crítica por reascender a chama da rebeldia em suas letras, que apareciam mais políticas, o Capital Inicial voltou aos palcos do festival. No ano, o longa “Somos tão jovens”, que remontava a história de Renato Russo, tinha sido lançado e a memória do rock de Brasília estava em alta. Diferentemente daquela época do underground no distrito federal, a banda deixou de lado a característica orgânica do punk e os músicos ficaram dois meses se preparando para finalmente subir ao palco do festival novamente. O ano também marcou as Jornadas de Junho, manifestações políticas que emergiram por todo o Brasil e fez com que a canção Saquear Brasília fosse dedicada aos políticos do Congresso Nacional evidenciando que a fase política realmente tinha voltado.

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O sucesso do Capital Inicial fez com que a banda voasse até Lisboa e participasse da edição portuguesa do festival no ano seguinte. A apresentação foi bem comentada na imprensa e a presença dos fãs brasileiros fez com que a estreia internacional da banda fosse bem sucedida. Agora, com mais uma edição do Rock in Rio no Brasil, a banda brasiliense faz, mais uma vez, história no evento que cresceu junto com eles. Sem um álbum de estúdio novo desde “Saturno” - mas com uma fama concretizada e fãs fiéis - a banda mostra que ainda tem gás para fazer o show continuar.

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