Quando Lorde lançou "Melodrama" , seu segundo álbum, muita gente apontou que aquele momento era decisivo em sua carreira: se o disco não fosse bom e não conquistasse a crítica, a neozelandesa poderia ficar taxada como uma cantora de um disco só.

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A banda Far From Alaska lança seu segundo álbum,
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A banda Far From Alaska lança seu segundo álbum, "Unlikely", ainda neste ano

Isso não é exclusivo de Lorde: há décadas, muitos acreditam que o segundo álbum é aquele que vai consolidar a carreira de um artista que se deu bem na estreia ou enterrar de vez a de quem não foi tão bem no primeiro disco. Por isso, muito deles se sentem pressionados na hora de entrar no estúdio pela segunda vez, principalmente se tem muita coisa em jogo.

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Um caso clássico é o do Stone Roses. A banda de Ian Brown conquistou o Reino Unido e o resto do mundo com seu disco de estreia, mas o segundo foi um fracasso colossal: "Second Coming" não manteve o nível da banda e foi o último trabalho do grupo britânico, em 1994.

Por outro lado, outros artistas de fato se consolidaram no segundo disco. "Back to Black", o clássico de Amy Winehouse; "Pinkerton", do Weezer; "21", de Adele; e "Nevermind", do Nirvana, eram o segundo trabalho desses músicos e até hoje são os seus mais importantes.

A banda potiguar Far From Alaska está passando por esse processo. Após fazer sucesso internacional com o disco de estreia, eles se preparam para lançar o segundo. Para Cris Botarelli, a banda não enfrentou pressão alguma para produzir o novo trabalho. "A gente está muito mais seguro agora", garantiu em entrevista ao iG . "A pressão era mais do tempo, a gente não queria ficar sem lançar nada", explicou.

O segundo disco do grupo ainda não foi lançado, mas agradou muito a quem já o ouviu. "A gente gostou do resultado e as pessoas que já ouviram curtiram muito, ficaram muito felizes", disse Cris. Ela diz que esse trabalho tem uma cara diferente do anterior. "O segundo disco é mais a gente, mais a nossa cara, mais quem a gente é compondo", afirmou.

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Mesmo sem a pressão, ela explica que o segundo álbum colocou algumas dúvidas na cabeça dos músicos. "Nós fizemos o primeiro disco e ele tem uma cara muito definida, mas a gente começou a fazer o segundo sem saber o que iria ser. Ficamos com medo de ficar muito diferente e perdermos fãs", confessou. "Mas a gente percebeu que não tinha isso, que era a mesma banda fazendo coisas diferentes."

Cris acredita que a mística do segundo disco é uma coisa que vem dos fãs. "Os fãs acham que o segundo disco é pra provar, eu já estive nessa posição e pensava assim. Mas quando você está na banda, não consegue controlar o que vai acontecer, a não ser que seja algo muito dirigido", avaliou a artista.

"Viagem"

Uma das bandas que se deram bem com o segundo trabalho é a paulistana Bratislava. Foi com "Um Pouco Mais de Silêncio", de 2015, que o grupo ficou nacionalmente conhecido e virou até uma das atrações do Lollapalooza Brasil deste ano.

Com o terceiro disco recém-lançado, o vocalista Victor Meira tem boas lembranças do segundo trabalho. "Na segunda gravação, eu tinha um know-how maior e a gente gravou cada instrumento num estúdio diferente em São Paulo, pra entender diferentes tipos de produtores e aparelhos", explicou.

Atração do Lollapalooza, a banda Bratislava lançou seu terceiro álbum,
Divulgação/Daniel Moura
Atração do Lollapalooza, a banda Bratislava lançou seu terceiro álbum, "Fogo"

Para ele, essa história do segundo disco ser o definitivo não funciona mais. "Acho que isso é uma viagem, o cenário é muito diferente", disse. "A consolidação pode chegar no sétimo disco ou no primeiro", continuou o cantor, citando a banda carioca Ventre como exemplo de artistas que despontam logo no disco de estreia. "Já o Red Hot Chili Peppers alçou voo no quinto ou sexto álbum", contrapôs.

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Lutando por um espaço

Assim como a Bratislava, os cearenses da Selvagens à Procura de Lei também têm um carinho especial pelo segundo disco. Foi "Selvagens à Procura de Lei", de 2013, que colocou a banda definitivamente no radar do rock brasileiro, chamando a atenção até da Universal Music.

O disco era pra ser um relançamento das músicas do primeiro trabalho deles, "Aprendendo a Mentir", de 2011, mas os músicos lutaram para fazer um álbum de inéditas – e tomaram uma ótima decisão. "A gente queria fazer uma coisa nova", contou o baixista Caio Evangelista. "A gente usou um cachê que ganhou no réveillon de fortaleza pra gravar o disco", explicou.

Com a relevância nacional alcançada com o segundo álbum, veio a base para fazer o terceiro, "Praieiro", no ano passado. O disco foi financiado pelos fãs. "Pedimos R$ 35 mil e arrecadamos R$ 44 mil", disse Caio. 

Por ser uma banda conhecida só regionalmente na época de lançamento do segundo trabalho, a Selvagens não sentiu pressão na hora da gravação, mas o baixista reconhece que as pessoas sempre esperam algo a mais depois da estreia. "O segundo já não é o primeiro trabalho, o cara já tem bagagem", disse. "Com certeza tem mais responsabilidade", continuou.

Os cearenses da Selvagens à Procura de Lei se consagraram com seu segundo álbum, em 2013
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Os cearenses da Selvagens à Procura de Lei se consagraram com seu segundo álbum, em 2013

Ele lembra de como foi o clima quando a banda fez "Selvagens à Procura de Lei". "Quando a gente foi pro estúdio, não era a galera que gravou o primeiro disco", explicou. "O estúdio é o momento que mostra quem vc é com a música, ali não existem máscaras."

Enquanto fãs, gravadoras e a mídia aguardam ansiosamente o segundo álbum dos artistas para dar seu veredito sobre o sucesso deles, os músicos não sentem a menor pressão na hora de voltar ao estúdio. A maioria deles mostra que está certo e consegue manter o nível no segundo disco, quando não elevar – caso de Lorde. A certeza é de que essa história da mística do segundo álbum está muito mais na cabeça de quem não está envolvido com o trabalho.

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