Existe um claro desiquilíbrio na avaliação séria e sisuda que se faz de um filme que se pretende nitidamente um besteirol. Essa difícil equação é posta novamente à prova com o lançamento de “ Baywatch – S.O.S Malibu ”, versão cinematográfica da clássica série de TV que foi um grande hit nos EUA, repercutiu bem no Brasil e fez a fama de Pamela Anderson e David Hasselhoff – ambos com pontas no filme.
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A versão assinada por Seth Gordon (“Quero Matar Meu Chefe” e “Uma Ladra Sem Limites”) da série de TV é reverente à série original, sem encastelar-se nas referências e aposta no timing cômico de Zac Efron e Dwyane “ The Rock ” Johnson para garantir o riso. E ele vem! “ Baywatch ” não se leva a sério e é, no mínimo, inadequado que o expectador o faça. A ideia é ganhar o público pelas sacadas – algumas funcionam brilhantemente, outras nem tanto.
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A maneira como Mitch (Johnson) provoca a todo o tempo Brody (Efron), sempre se referindo a ele pelo nome de uma boy band, é um dos melhores easter eggs que a produção oferece e é um deleite para fãs de cultura pop. O filme de Gordon tem essa incrível capacidade de agradar nerds e populares, hétero e homossexuais, homens e mulheres, nostálgicos e contemporâneos. É uma qualidade que precisa ser apreciada a despeito do roteiro raso e da necessidade de condescendência da audiência aqui e ali.
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Há piadas que não funcionam mesmo com o voto de condescendência. Um exemplo é a cena em que Zac Efron surge travestido. É compreensível o tipo de humor que se pretende ali, mas não há contexto e destoa como gratuita demais. Já as duas cenas com brincadeiras com pênis – uma já suficientemente alardeada no trailer – são bem engraçadas e jogam a favor do filme. Há quem diga que pode se medir a qualidade de um besteirol pelo teor de suas piadas com pênis e “Baywatch”, por este parâmetro, sai-se muito bem. Zac Efron , que aqui reitera seu valor como ator cômico, já está habituado a este universo desde “Vizinhos” (2014).
Encarnando uma versão boy magia loira burra, Efron é mesmo o grande destaque do filme, mas o resto do elenco não fica atrás. A loiríssima Kelly Rohrbach, para todos os efeitos a legítima herdeira de Pamela Anderson aqui, está ótima como o objeto de culto do nerd vivido por John Bass. A dinâmica dos dois não fica nada a dever à dos protagonistas.
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A reprovação quase unânime ao filme nos EUA precisa ser posta em perspectiva. A baliza para avaliar “Baywatch” talvez não fosse a mais indicada. Apesar do plot edificante envolvendo o personagem de Efron – ele é o único com uma evolução dramática de fato – o filme revolve nessas sacadas e tiradas frequentemente divertidas e espirituosas. Portanto, fia-se como uma opção de entretenimento certeira.