Criada e desenvolvida pelos mesmos responsáveis de “Orange is The New Black”, um dos primeiros hits da já estabelecida cultura do streaming, “Glow” é a nova aposta da Netflix para fisgar um público que gosta de histórias centradas em mulheres e de nostalgia. A produção que estreia mundialmente no próximo dia 23 foca em Ruth Wilder (Alison Brie, de “Mad men”, aqui assumindo o primeiro protagonismo de sua carreira), uma atriz fora do mercado que tenta sobreviver na Los Angeles dos anos 80.

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As meninas de Glow chegam à Netflix em 23 de junho
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As meninas de Glow chegam à Netflix em 23 de junho

Ruth acaba fazendo um teste para um programa de luta-livre que tenta capitalizar em cima de uma das maiores febres daquela década: o wrestling, que aqui no Brasil fez muito sucesso com o nome de telecatch. Ao longo de dez episódios de 30 minutos, “Glow” mostra a convivência de mulheres que a princípio têm pouca ou nenhuma afinidade com esse universo, mas abraçam-o sem qualquer preconceito.

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Esse mundo de glitter e collants coloridos é controlado por Sam Sylvia (o ótimo Marc Maron), um cineasta fracassado – e no nono episódio tem uma excelente piada envolvendo “De Volta para  o Futuro” – que tenta emplacar um hit na TV para voltar ao radar de Hollywood e fazer o filme que passou dez anos desenvolvendo e Bash (Chris Lowel), um filhinho de mamãe fanático por luta-livre que resolve apostar em uma versão feminina para a TV. Se Bash é o homem do dinheiro e Sam, da criatividade, músculo e coração ficam por conta  das meninas.

Tal qual ocorre em “Orange is the New Black”, a convivência do grupo pauta a ação. As rivalidades que surgem, as cumplicidades inusitadas, a solidariedade que vai se construindo... a dinâmica estabelecida entre as meninas de “Glow” dão brilho e coração à série. O protagonismo de Ruth, por exemplo, é logo contestado dentro do grupo. Ela começa um tanto arrogante por ser uma atriz do método, mas sua crista começa a descer quando Debbie (Betty Gilpin), uma atriz de novela que se afastou do business após ter tido um filho, é recrutada por Sam para ser a estrela do programa. Debbie e Ruth têm problemas mal resolvidos, já que a segunda dormiu com o marido da primeira.

É claro que Sam vai se utilizar desse rancor para incrementar as emoções de seu programa e Ruth se descobre no papel de vilã, algo que ela recebe bem melhor do que a audiência poderia intuir. Alison Brie reveste sua personagem de brio. Sua inadequação aos ditames sociais salta aos olhos. Ruth não quer ser um produto de sua época. É, nesse sentido, uma personagem extremamente feminista e que viverá no 8º episódio o seu grande momento dramático – e o ápice dessa constatação. No entanto, essa construção é lenta e as personagens coadjuvantes demonstram ser mais interessantes ao olhar do público mais rapidamente.

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Isso talvez se deva a uma construção dramática e narrativa muito próxima da experimentada em “Orange”, em que os conflitos das coadjuvantes são iluminados pontual e expressamente, enquanto que os da protagonista se dão lenta e gradativamente. Debbie, por exemplo, quando entra em cena o faz de maneira a reclamar a simpatia do público em detrimento justamente de Ruth. É uma estratégia válida para apontar que todas aquelas mulheres são tão centrais e vitais para o desenvolvimento de “Glow”, mas não deixa de ser um risco relativizar tanto a protagonista.

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Cartaz de divulgação de "Glow"

Risco que a produção assume com propriedade. Afinal, são mulheres avançando em um terreno essencialmente masculino, por um capricho essencialmente masculino. Essa fetichização, no entanto, é totalmente subvertida pela sororidade que toma conta das meninas. É este o grande destaque deste primeiro ano da série. A capacidade da produção de exaltar a força de espírito do feminino. Descontado o elementar comentário de que as mulheres da série são mais maduras e bem resolvidas do que as figuras masculinas. Essa percepção pode ser reforçada pelas particularidades do affair entre Sam e uma das meninas.

“Glow” é mais uma série muito bem calculada pela Netflix. Tem um público ávido por ela, mas seu potencial de audiência é muito maior. O primeiro ano não tem sobressaltos e preenche uma demanda que as produções de 2017 da Netflix parecem estar dando conta do recado: a de apresentar ao mundo ótimas histórias protagonizadas por mulheres.

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