Quando você vai ao cinema com certeza sempre se depara com alguma animação em cartaz, mas dificilmente irá parar e olhar para ela com mais atenção, afinal, existem tantas outras opções “mais sofisticadas”. Mas, bem, os números relacionados às animações falam por si só: dentre os dez filmes mais vistos de 2016, quatro eram animações e todos eles – sim, absolutamente todos – utilizam alguma técnica de animação digital em sua produção. Com altos e baixos ao longo de décadas, as animações hoje constituem um gênero tão respeitável quanto qualquer outro, mas vivem momento decisivo para o futuro do segmento.
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De onde vieram?
Há oitenta anos Walt Disney revolucionou o cinema quando lançou em 1937 o primeiro longa-metragem de animação da história: “Branca de Neve e os Sete Anões” é, até hoje, considerada uma obra-prima do cinema. Com produções sofisticadas, como “Fantasia”, e adaptações de contos de fadas clássicos o estúdio consolidou as animações no mercado do entretenimento e, aos poucos, abriu espaço para a criação do gênero. Mais de cinquenta anos depois da primeira aventura dos desenhos no mundo do cinema, “A Bela e a Fera” foi o primeiro filme a bater de frente com as produções “reais” no Oscar na briga por Melhor Filme.
As animações nunca deixaram de cair na graça do público – gerações cresceram vendo as princesas e animais falantes nas telas de cinema –, mas, desde o Oscar de 1991 elas começaram a mostrar sua força para despontar como gênero cinematográfico de fato. Em 2001 foi criada uma categoria específica para acomoda-las na premiação e, como aponta o crítico do Yahoo Diego Olivares, essa abertura foi muito importante para dar espaço para as “produções artesanais”, como ele chamou os filmes que fogem à tradicional dupla da Disney- Pixar .
“Mas isso é coisa de criança!”
Quando se fala em animação a primeira coisa que as pessoas pensam, em geral, são os clássicos infantis que todos conhecem – afinal, quem nunca assistiu “A Bela Adormecida”, “Pinóquio” ou “Alice no País das Maravilhas”? E, assim, se consolidou uma ideia que animação é sinônimo de filme para crianças, mas, na realidade, não é bem assim. Jonas Brandão, sócio da produtora brasileira Split Studio, brinca com a classificação “essa não é uma boa fama para se carregar” e explica que isso está fortemente atrelado a uma estratégia de marketing para maximizar o alcance dos filmes. “Quando os estúdios fazem esses blockbusters, eles miram no maior público possível para recuperar os custos e poder rentabilizar”, comenta.
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Leo Matsuda trabalhou em alguns filmes da Disney que tinham exatamente esse perfil, como “Operação Big Hero 6” e “Zootopia”, e para ele ser chamado de “ infantil ” não é algo necessariamente ruim. “O sucesso de box office são as animações”, afirma ele. E, de fato, em 2016 o segundo filme com maior bilheteria, de acordo com o site Box Office Mojo, foi “Procurando Dory”, que faturou mais de US$ 1,029 bilhão, atrás apenas de “Rogue One: Uma História Star Wars” e “Capitão América: Guerra Civil”. Logo atrás vem “Zootopia”, com cerca de US$ 1,023 bilhões de faturamento. “[As animações] vão existir de qualquer forma”, conclui Leo.
E animação dá dinheiro?
Para os gigantes da indústria como a Pixar animação é um negócio extremamente rentável. Para se ter uma ideia, “Procurando Dory” teve uma margem de lucro de aproximadamente US$ 60 milhões. “O desafio hoje de todo mundo de fora de Hollywood é conseguir entrar no circuito comercial”, comenta Jonas Brandão. Apesar de reconhecer que é difícil olhar nos olhos de gigantes e competir com eles por essa fatia do mercado, as animações ainda tem um grande potencial de se espalharem por outros veículos e em outros formatos – e é justamente isso, para ele, que está chamando a atenção de produtoras de “live action” que tentam se enveredar nesse caminho para abocanhar pelo menos uma fração desse público.
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Por outro lado o alto custo de produção desses filmes pode ser entrave para quem está fora do mainstream. “Moonlight" por exemplo, custou US$ 1,5 milhão, enquanto "Anomalisa", uma animação independente, custou US$ 8 milhões”, comenta Diego Olivares. A escassez do lucro, nesses casos, é um risco que ameaça constantemente esse mercado a se afogar na tentativa de emergir e consolidar sua produção. “Anomalisa” rendeu apenas US$ 5,5 milhões – ou seja, não só ficou abaixo do seu orçamento, mas deu prejuízo para o estúdio, apesar de ter sido amplamente aclamada pela crítica. “É difícil rentabilizar filmes que não sejam infantis”, completa Jonas Brandão.
Para onde tudo isso vai?
É difícil estabelecer algo certeiro, afinal, há muitas variáveis envolvidas que são extremamente fluídas – como prever as tendências de mercado para daqui 5, 10, 15 anos? Mas é certo que há otimismo para as pessoas do meio com relação a isso olhando para diferentes perspectivas acerca do tema. Com uma visão mais ampla sobre as animações, Leo Matsuda apontou que a a hibridização do cinema – mesclando live action com animações – é uma fórmula que está ganhando força. “Você nem sabe mais onde está a animação”, comenta.
Apostar em novas temáticas e abordagens é um dos rumos que as animações pode tomar – para ele é através da ampliação dos sentidos e mensagens transmitidas por meio desses filmes que eles irão conquistar seu público, a crítica e, ainda, seriam mais significativos para a memória que se cria a partir desses trabalhos. Se equiparando à polidez narrativa de live actions, para ele, essas animações poderiam ir muito além da forma que se apresentam hoje em dia. Na mesma linha, Jonas Brandão cita que animação não é só um gênero “é uma forma de arte própria, é uma ferramenta de comunicação, de contar histórias”.