Com tintas surrealistas, a comédia “Más Notícias para o Senhor Mars” tece um comentário algo espirituoso sobre as divergências cada vez mais flagrantes em uma sociedade ocidental. Logo na primeira cena do filme, o Sr. Mars (François Damiens) recebe de sua ex-mulher a notícia de que ela, jornalista, teria que ir à Bélgica para cobrir uma reunião da União Europeia e que ele deveria cuidar dos dois filhos, Grégoire (Tom Rivoire) e Sarah (Jeanne Guittet). Na mesma cena, ele se depara com um cocô de cachorro em sua fachada e clama, sem sucesso, para que o dono do cão o recolha.
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Essa singela cena diz muito sobre o perfil do personagem. O Sr. Mars é um homem que se guia por um código de conduta enrijecido que parece não pautar a sociedade atual. Isso fica mais claro tanto em sua relação com os filhos, Grégoire se tornou vegetariano e adota uma postura cada vez mais combativa, e Sarah se esforça para se distanciar dos pais – e se aproximar do namorado, como com o colega de trabalho Jérôme (Vincent Macaigne), um tipo com distúrbios mentais que o Sr. Mars deixa invadir seu cotidiano. “Más Notícias para o Senhor Mars” se desenvolve a partir desses conflitos que escalam de maneira alarmante.
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O título original faz uma referência ao planeta Marte, emprestando o sobrenome do protagonista e essa sensação de ser um alienígena, um observador da própria existência é reforçada por algumas metáforas que surgem ao longo da narrativa. A mais forte delas, e que provoca uma contundente mudança de atitude no protagonista, vem de uma moça com fobia social.
Esquisitão, mas genuinamente engraçado, o filme de Dominik Moll, de “O Monge” (2011), se ancora no talento de François Damiens , que já pôde ser visto este ano no surpreendente “Os Cowboys” . Damiens é o tipo de ator que torna uma narrativa, não importa seu espectro, mais palatável. Ele filtra o absurdo com graciosidade e é essencialmente e naturalmente engraçado. Um mérito para o filme que quer fazer rir, mas não ser definido pelo riso.
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Por fim, “Más Notícias para o Senhor Mars” se resolve como uma crônica delicada sobre a engenharia da mudança em um foro essencialmente íntimo. Não é o tipo de matéria-prima que comédias leves costumam trabalhar. Mas que o cinema francês habilmente perfilou como uma de suas muitas qualidades.