Não é fácil traçar um perfil de uma criança. Justamente por isso o esforço da diretora Irene Taylor Brodsky, do indicado ao Oscar “The Final Inch”, e sua equipe em “Cuidado com o Slenderman” , documentário que estreia na programação da HBO nesta segunda-feira (15) às 22h, é louvável.
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Brodsky investiga um crime que chocou os EUA em 2014. Duas meninas de 12 anos esfaquearam uma amiga para impressionar o Slenderman . O documentário teve acesso aos depoimentos das meninas tão logo foram apreendidas pela polícia e às imagens das audiências preliminares que determinaram que elas devem ser julgadas como adultas. O julgamento está previsto para acontecer ainda em 2017, o que reforça a atualidade e relevância do filme.
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Além de mostrar o drama das famílias de Morgan Geyser e Anissa Weier, as duas adolescentes que esfaquearam a colega, o documentário aborda a criação dessa lenda urbana contemporânea que varreu a internet e ganhou um status quo avassalador entre os jovens.
É enquanto tenta entender o fenômeno Slenderman que o filme de Brodsky é mais interessante. Justamente por romper a trivialidade de um documentário que busca reconstituir um crime chocante. É neste ínterim que o filme se permite, mais do que especulativo, propositivo. Ao questionar desde psicólogos a especialistas em memes, “Cuidado com o Slenderman” tenta entender como a relação com a internet pode ser desestabilizadora para um jovem em formação.
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O fato de não contar com a colaboração da família da vítima nitidamente enfraquece a proposta de Brodsky, que naturalmente encampa o ponto de vista da defesa de Morgan e Anissa – algo que a diretora tenta contornar pontual e insatisfatoriamente. É justamente a partir dessas circunstâncias que surge a grande fragilidade do filme. Ao assumir uma tese de defesa das agressoras como eixo central de seu filme, relegando o interesse pela figura do Slenderman a um segundo plano, Brodsky não só diminui a força de sua narrativa, como a banaliza dramaticamente.