Mais de 40 semanas no topo da lista de best-sellers do The New York Times, “Outros Jeitos de Usar a Boca” chega ao Brasil no momento certo. É um livro de poemas. É um livro de poemas feito por uma feminista. É um livro de poemas feito por uma feminista indiana. É um livro de poemas feito por uma feminista indiana que atualmente vive em Toronto. Esse compilado de informações diz muito sobre a verve da obra, publicada nos EUA com o nome “Milk and Honey”.
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O livro de Rupi Kaur pode ser lido em pouco mais de uma hora. São pequenos, mas pungentes poemas, aliados a prosas pontuais. Ambas acompanhadas por traços da própria autora em quatro capítulos: a dor, o amor, a ruptura e a cura. “Outros Jeitos de Usar a Boca” propicia a seu leitor uma montanha russa tanto de sensações quanto de emoções. Do leve rubor provocado pelo erotismo ora velado, ora explícito, de certos versos, ao ruminante flagelo de outros tão doloridos e emancipadamente verdadeiros como “deve ser doloroso saber/que eu sou sua mais/ bonita/mágoa”.
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Há muita experiência e sabedoria esparramada por versos como “Eu não fui embora porque/eu deixei de te amar/eu fui embora porque quanto mais/eu ficava menos/ eu me amava”. Essa característica tão feminina, tão intuitiva hidrata a obra de Kaur e a consolida como leitura recomendável para todas as etapas da vida.
O engajamento da autora, bem como suas dores – na relação com a família, com os homens, com os homens da família – são tangenciáveis e essa habilidade de tocar e se deixar tocar pela própria poesia é a mais ardil e valorosa que Kaur tem a oferecer em “Outros Jeitos de Usar a Boca”. Talvez por isso, Kaur seja uma fonte de citação tão prolífera na internet.
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É uma obra delicada que só pode ser apreciada por aqueles que usam de tato e sensibilidade para abordar tanto questões de relevo social como de foro íntimo. “Outros Jeitos de Usar a Boca” contemporiza aflições apelando à palavra como remédio. “Você precisa/ter vontade de passar/o resto da vida/antes de tudo/com você”.